O acesso à água segura e ao saneamento sanitário não está disponível da mesma forma para homens, mulheres e outras identidades de gênero. É o que mostra estudo da Organização das Nações Unidas (ONU), coordenado pelo pesquisador brasileiro Léo Heller, que é relator especial sobre os dois temas na instituição.
Segundo Heller, que também coordena o Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas e Saneamento da Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, em quase todas as localidades onde há falta ou má distribuição de serviços de saneamento, são as mulheres que coletam que coletam água para manter a higiene doméstica.
“A situação mais usual é que, quando não há água nas proximidades da residência, as mulheres e meninas são, na maioria das vezes, encarregadas de buscá-la em algum lugar, o que demanda tempo.”
Ele ressalta que essa situação reforça a dependência econômica delas de seus companheiros, já que não são remuneradas por esse trabalho. O percurso de busca à água muitas vezes é longo, podendo apresentar riscos a essas pessoas de sofrerem ataques de todas as espécies, como de animais selvagens e violência sexual.
Sem acesso a banheiros, essas mulheres se valem de espaços abertos para fazerem suas necessidades, o que as deixa mais vulneráveis ainda.
A inadequação de espaços públicos atinge também a vida de mulheres transgêneros. Estudos feitos na Índia revelam que as transexuais enfrentam dificuldade em encontrar casas para morar, sendo forçadas a viver em favelas e áreas remotas, com sérios problemas de esgoto e distribuição de água.
Outro grupo atingido é a população em situação de rua. Em Belo Horizonte, Minas Gerais, uma pesquisa coordenada por Heller mostra que os albergues e as unidades de acolhimento não são em número suficiente para a quantidade de pessoas sem moradia.
Heller ressalta que o estudo é importante para orientar políticas públicas voltadas para serviços de água e esgoto. “ÀS vezes, a legislação e as políticas públicas, quando são neutras em relação a essa questão, acabam favorecendo os homens.”
O estudo sugere ainda que os governos criem um sistema de indicadores de gênero para melhorar a coleta de dados desagregados por sexo e outros fatores relevantes que são necessários para avaliar o impacto e a efetividade das políticas que visão a igualdade de gênero.
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