Roma é lugar de espetáculo. Imperadores, papas, príncipes, reis, rainhas, invasores, peregrinos, escravos, todos já desfilaram pelas ruas da Cidade Eterna. E artistas, tantos artistas. Os franceses, oficialmente, foram os pioneiros, fincaram o pé em Roma, em 1666, com a inauguração da Academia da França (atual Villa Medici), que hospedava pintores e escultores para produzirem sua arte, inspirando-se na Antiguidade e no Renascimento italiano. Em 1800, chegaram os americanos e os espanhóis – sempre com o apoio de seus governos. No século seguinte, aportaram em território romano artistas ingleses, alemães, japoneses, árabes, suíços, romenos e latino-americanos.
De fonte inspiradora, a cidade passou a ser vitrine estratégica para a promoção cultural das nações. As academias de arte estrangeiras, como Villa Medici, Academia Alemã (Villa Massimo) e Academia da Espanha (Real), por exemplo, apresentam um vasto programa cultural, que acaba por complementar as atividades anuais promovidas pelo município. As instituições realizam exposições de arte, concertos, eventos de literatura e
oferecem hospedagem a artistas e intelectuais na capital italiana.
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Este ano é o Brasil que entra no circuito romano para mostrar sua arte, música e teatro, com a primeira edição do Festival de Cultura Brasileira. Idealizado e promovido pela embaixada do Brasil em Roma, com o apoio da Casa Fiat de Cultura e o patrocínio da Fiat Automóveis, via Lei Rouanet, o Festival acontece na sede da embaixada brasileira, na Piazza Navona, e vai até dezembro.
O evento teve início em abril com as apresentações do grupo de música instrumental Uakti e do pianista Nelson Freire. Em maio, foi a vez de os designers Fernando e Humberto Campana inaugurarem a mostra Brazilian Baroque Collection. O Grupo Galpão, o artista plástico Vik Muniz, o violoncelista Antonio Meneses, a pianista Maria João Pires, o cantor Toquinho e a atriz e diretora Denise Stoklos também participarão do Festival. “A intenção é mostrar ao público europeu um programa cultural diversificado, com artistas que representem a produção brasileira recente nos campos do design, das artes plásticas, da música e do teatro”, afirma José Viegas Filho, embaixador brasileiro em Roma.
O grupo mineiro Uakti, que se apresentou no dia 7 de abril, se encaixa nesse perfil. Munido de instrumentos curiosos, esteticamente imperfeitos, feitos com tubos de PVC, pedaços de vidro, cabaças, metais e cordas, o grupo, com 33 anos de estrada e um premiado currículo, tocou para uma plateia de cerca de 300 pessoas. O espetáculo, chamado 4 Tempos, trouxe músicas de Philip Glass, Villa-Lobos, Tom Jobim, Milton Nascimento e composições próprias do grupo. “Não existe hoje na Europa uma experiência de construção de instrumento musical equivalente ao do Uakit. É uma coisa absolutamente inovadora. Eles vão da música erudita a ritmos brasileiros ou internacionais com grande facilidade. E é esse o tipo de produção cultural que queremos mostrar, que fujam do estereótipo Brasil. Estamos quebrando paradigmas”, afirma José Eduardo de Lima Pereira, presidente da Casa Fiat de Cultura.
Após uma pausa nas apresentações por conta do verão europeu, o Grupo Galpão – companhia mineira de teatro criada há 27 anos com inspiração no teatro popular e de rua – abre a segunda etapa do Festival. O grupo se apresenta nos dias 22 e 23 de setembro em um teatro de Roma. A peça escolhida é Tio Vânia ou Zio Vania, no idioma de Dante, um clássico do teatro russo, de Anton Tchékhov. O espetáculo será em português, mas com legendas em italiano.
Os eventos ocupam diversos espaços do Palazzo Pamphili. As exposições de arte contemporânea e de design, por exemplo, com obras de Vik Muniz, dos irmãos Campana e da Coleção Kornis, ocupam ora a galeria Cortona, projeto do famoso arquiteto Francesco Borromini, com afrescos do artista barroco Pietro da Cortona mostrando cenas da vida de Enéas, localizada no segundo andar; ora as duas salas do espaço Candido Portinari, no andar térreo. Já as apresentações musicais acontecem na sala Palestrina, também no segundo andar, que leva o nome do compositor Pierluigi da Palestrina.
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