Melhores do ano na cultura

Por motivos óbvios, 2016 definitivamente não foi um ano fácil para o Brasil e para o mundo. Percepção que instaurou em muitos personagens de nosso meio cultural um certo tom de melancolia. Mas, como letargia não convém a quem faz de seu ofício um meio de construir novas realidades, não foram poucos os que lutaram contra toda sorte de afrontas e retrocessos.

Sem a pretensão de proferir absolutismos, convidamos 15 especialistas de cinco diferentes áreas – Cinema, Fotografia, Literatura, Música e Teatro – para fazer um balanço das produções mais significativas de 2016. Além da escolha dos melhores trabalhos do ano ou dos melhores artistas, nosso júri também selecionou uma menção honrosa e – porque desanuviar é preciso – uma menção horrorosa.

No fiel da balança um trabalho consagrou-se por unanimidade: o longa-metragem Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, enaltecido sobretudo por sua simbologia de resistência política. Na Música, na Literatura e na Fotografia, a cantora Céu, o escritor Marcilio França Castro e o fotógrafo Mauricio Lima conquistaram dois votos de suas tríades de jurados. Com votos individuais, os três vencedores da categoria Teatro têm em comum a mensagem de humanismo e resistência.

Confira os resultados das cinco categorias a seguir.

CINEMA

Kleber Mendonça Filho, diretor de Aquarius, na locação do filme. Por unanimidade de nossos convidados, foi escolhido o melhor de 2016 no cinema. Foto: Fred Jordão
Kleber Mendonça Filho, diretor de Aquarius, na locação do filme. Por unanimidade de nossos convidados, foi escolhido o melhor de 2016 no cinema. Foto: Fred Jordão

 

Por José Geraldo Couto

MELHOR Filme

Aquarius, Kleber Mendonça Filho

Para além da polêmica em torno da manifestação antigolpe da equipe do filme em Cannes e das represálias que sofreu por aqui, Aquarius foi o grande título nacional do ano, por sua excelência cinematográfica e por sua capacidade de entrelaçar uma situação íntima a um tenso contexto social, político e cultural. O jornal Le Monde chegou a vê-lo como uma prefiguração da crise que derrubou o ministro Geddel Vieira Lima.

Menção Honrosa

Mãe Só Há Uma, Anna Muylaert

À dramatização de um fato real (o roubo de um bebê por uma falsa mãe) a diretora acrescentou de modo hábil e original o tema candente da identidade sexual.

Por Flávia Guerra

MELHOR Filme

Aquarius, Kleber Mendonça Filho

Por tantos motivos, teria sido o filme do ano se ‘só’ tivesse passado por Cannes e representado o cinema brasileiro na Croisette. Mas o filme, que tem o equilíbrio, difícil de ser alcançado, entre a forma e uma ótima história, ainda nos trouxe de volta a exuberância de Sonia Braga, que atraiu os holofotes e a torcida da imprensa internacional por uma Palma de Ouro e agora também desperta torcida local por uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Mas Aquarius se tornou mesmo o filme de 2016 ao nos fazer pensar em questões que extrapolam a tela. Sua trama, que retrata tão bem o mundo em que vivemos, reverberou na ação e postura política do diretor Kleber Mendonça Filho e equipe. Para completar, a trilha sonora é um sopro de delicadeza em um ano tão conturbado. 

Menção Honrosa 

Nise – No Coração da Loucura, Roberto Berliner

A história única da psiquiatra brasileira contada por Berliner, que mescla seu olhar de documentarista ao cinema de ficção e nos faz sentir quase um personagem da trama. Bravo!

Por Daniela Gillone  

MELHOR Filme

Aquarius, Kleber Mendonça Filho

O segundo longa-metragem de Kleber Mendonça Filho deve ser saudado para além do contexto de militância política em que esteve envolvido em seu lançamento. A contestação ao processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff pela equipe do filme no Festival de Cannes e possíveis retaliações à produção por este motivo, entre outros (o filme foi censurado para menores de 18 anos e prejudicado na seleção de representante brasileiro na disputa do Oscar), reforçaram em Aquarius seu emblema de resistência aos poderes que imperam no momento político do País. Essas condições, porém, fizeram com que o filme fosse percebido no pensamento polarizado, e isso provocou certo distanciamento do debate sobre sua importância estética e sua própria retórica política. Aquarius também ressalta o feminino pela interpretação de Clara (Sonia Braga), que, diante de uma elite econômica dominadora, resiste a vender seu apartamento, dando voz ao lugar político da mulher. Seu mérito está na elaboração de um ambiente alegórico, em que há uma fusão de um ideário antigo à realidade atual para uma profunda e sutil abordagem de denúncia às violências que se fazem necessárias de reconhecimentos, hoje mais do que nunca.

Menção Honrosa 

Cinema Novo, Eryk Rocha

Um filme de montagem, que está diretamente relacionado à história de militância do cinema brasileiro e às questões políticas do País. Os projetos artísticos e políticos de cineastas atuantes no movimento Cinema Novo, da década de 1960, inclusive o cinema de seu maior expoente, Glauber Rocha (pai de Eryk), estão ritmados em uma montagem em que as mulheres atuantes no cinema da época têm um papel preponderante. Dina Sfat, Norma Bengell, Leila Diniz, Yoná Magalhães, Maria Gladys, entre outras, formam uma constelação em um filme que reflete poeticamente sobre o desejo e a força dos afetos que se manifestam pelo coletivo para fazer pensar o cinema no presente.

CONTEÚDO!Brasileiros

Leia aqui a entrevista com Sônia Braga, protagonista de Aquarius, capa da terceira edição da CULTURA!Brasileiros. Na mesma edição, também foi publicada uma entrevista com o diretor Kleber Mendonça Filho. 
Confira a resenha de Aquarius, por Daniela Gillone.
Veja o artigo Vocês esqueceram a revolução sexual, por Christian Ingo Lenz Dunker. 
Leia a resenha do filme Mãe Só Há Uma.
Em outubro de 2015, Anna Muylaert foi capa da edição 99 da Revista Brasileiros. Confira a entrevista com a diretora.
O diretor de Cinema Novo, Eryk Rocha, foi entrevistado pela CULTURA!Brasileiros em sua quinta edição. Leia. Confira também a entrevista com Eryk na ocasião do lançamento do filme Transeunte. 

FOTOGRAFIA

MauricioLima01
O drama dos refugiados em fotografia de Mauricio Lima, ganhador do Pulitizer 2016. Ele foi escolhido como melhor fotógrafo por Helio Campos Mello e Simonetta Persichetti, dois dos colaboradores da CULTURA!Brasileiros nesta seção.

Por Diógenes Moura

Melhor Livro
Caixa-Preta, Celso Brandão (segundo Miguel Rio Branco).

A fotografia inteirinha dentro de cada um de nós. Como somos imensos e como somos esquecidos ao mesmo tempo. Caixa-Preta é um belo agouro. As membranas do nosso futuro. Do barroco brasileiro às raias da loucura. Tem corpo, tem olho, tem sangue, tem massa encefálica, tem cu. É radical e líquido ao mesmo tempo. É linha reta e abismo: vaza o sertão, o cangaceiro, Deus, o diabo a quatro, o Carnaval. Finalmente, um grito!

Menção Honrosa

Para a programação paralela com poesia, filmes, leituras, visitas guiadas e passeios históricos que o fotógrafo Luiz Braga pensou para acompanhar a temporada da exposição Retumbante Natureza Humanizada, no Museu de Arte do Pará, em Belém, entre setembro e dezembro de 2016.

Menção Horrorosa  

Para a constrangedora ausência de po­líticas públicas em museus e outras instituições em cidades importantes como Salvador, Fortaleza e Belém.

Por Simonetta Persichetti

Melhor Fotógrafo
Mauricio Lima

Neste ano, o Prêmio Pulitzer de fotografia foi dado, pela primeira vez em sua história, a um brasileiro, um fotógrafo humanista, independente, que desde 1999 se dedica à fotografia, construindo um trabalho sério, de consistência, mas, acima de tudo, com ética e responsabilidade, respeitando o que vê e o que fotografa. Coube a Mauricio também o prêmio do World Press Photo, por General News, série publicada pelo The New York Times.

Menção Honrosa
Doc.Galeria

Pela divulgação do fotojornalismo, por meio de exposições, cursos, palestras, e da fotografia em geral, em ações como a mostra SPFotografia e a Feira Cavalete de incentivo ao colecionismo fotográfico.

Menção Horrorosa

A exposição baseada em imagens do livro Claudia Andujar e George Love: Amazonia (1978). Apresentada no Valongo Festival Internacional da Imagem, num belo espaço da Casa da Frontaria Azuleijada, em Santos (SP), a mostra se resumiu à projeção de alguém folheando o trabalho. Poderiam ter colocado algumas fotos na parede ou ter entrevistado a Claudia Andujar. Ficou pobre e sem sentido, embora a publicação seja fundamental quando pensamos em fotolivros do final dos anos 1970.

Por Hélio Campos Mello

Melhor Fotógrafo
Mauricio Lima

Trabalho consistente em que se destacam as coberturas dos conflitos no Oriente Médio e o drama dos refugiados. Sua obra retrata, com excelência e sacrifício, um mundo carregado de ódios. Único brasileiro premiado com o Pulitzer, o prêmio mais importante da imprensa mundial, pelo trabalho que fez para o jornal The New York Times com os refugiados, Mauricio Lima é um dos mais relevantes fotojornalistas brasileiros.

Menção Honrosa
Luiz Braga

Se a obra de Mauricio Lima cuida dos desafetos, Luiz Braga, o fotógrafo paraense nascido em Belém e formado em Arquitetura, vai atrás dos afetos. A Amazônia por ele retratada é carregada de apegos. Além disso, Braga mantém o prazer da pesquisa de materiais e de suportes, seja na química, seja no digital. Em seu trabalho deixa transparecer a curiosidade prazerosa inerente à linguagem fotográfica. O prazer diante da imagem que se revela química ou eletronicamente.

Menção Horrorosa

Selfies. Os excessos. Excesso de afeto por si próprio. Um pouco mais de parcimônia e respeito ao entorno são bem-vindos. O fotógrafo, quanto mais invisível, mais eficiente. Lógico que há exceções. Melhor que um selfie banalizado, um autorretrato cuidado.
 
CONTEÚDO!Brasileiros

Leia reportagem de Luiza Villaméa sobre a trajetória de Mauricio Lima.
Exposição de Luiz Braga foi tema de reportagem na sexta edição da ARTE!Brasileiros.

LITERATURA

O livro Histórias Naturais, de Marcílio França Castro, foi escolhido como o melhor do ano em literatura por Noemi Jaffe e Maria Esther Maciel. Foto: Companhia das Letras/Divulgação
O livro Histórias Naturais, de Marcílio França Castro, foi escolhido como o melhor do ano em literatura por Noemi Jaffe e Maria Esther Maciel. Foto: Companhia das Letras/Divulgação

 

Por Manuel da Costa Pinto

Melhor Livro
Simpatia pelo Demônio, Bernardo Carvalho (Companhia das Letras)

Depois de Reprodução, bom romance enrijecido por sua estrutura narrativa, Bernardo Carvalho retorna aos elementos mais perturbadores de sua obra. Um personagem de sexualidade ambígua, funcionário de uma agência humanitária, se envolve em missão de resgate após colapso de uma relação amorosa doentia. Planos temporais, tensões políticas e perversões pessoais se imbricam desvelando o rosto monstruoso do contemporâneo.

Menção Honrosa

Uma Fuga Perfeita é Sem Volta, Marcia Tiburi (Record)

Romance desmedido, ousado, cujos retábulos pintam as metamorfoses de uma personagem que tateia sua identidade entre dois países e dois corpos.

Por Noemi Jaffe

Melhor Livro
Histórias Naturais, Marcílio França Castro (Companhia das Letras)

É difícil encontrar autores para quem o conto seja a linguagem mais precisa. Mas parece ser o caso de Marcílio França Castro, que, como Antônio Carlos Viana, falecido recentemente, cria contos absolutamente exatos em sua brevidade, simplicidade e con­tundência. Uma grande novidade sur­gida neste ano, de um autor que, certamente, vai surpreender bastante.

Menção Honrosa

Editora Luna Parque

É a vez das pequenas editoras e a Luna Parque tem exercido papel muito importante nesse cenário, com inúmeras atividades e ótimos lançamentos.

Menção Horrorosa

Qualquer livro de Michel Temer em qualquer época e espaço.
Por que no te calas?

Por Maria Esther Maciel

Melhor Livro 
Histórias Naturais, Marcílio França Castro (Companhia das Letras)

Um livro extraordinário, que desafia as demarcações de gênero literário e se inscreve na ordem do inclassificável. Marcílio França Castro, num exercício de imaginação instigante, conjuga referências literárias, saber enciclopédico e experiências prosaicas, compondo um conjunto de textos de diferentes formatos e extensões, que tangenciam, por vezes, o ensaio e o verbete. Os personagens, primorosamente construídos, são variados e vão de burocratas e livreiros a fotógrafos e artistas. A primeira ficção, de 42 páginas, é sobre um datilógrafo que empresta suas mãos para servir como dublê de um filme sobre escritores afeitos a máquinas de escrever; a última, de duas páginas, tem como protagonista um livro raro de uma livraria estrangeira, adquirido por via virtual. Entre elas, encontramos uma miríade de textos, em que realidade, imaginação e erudição se entrelaçam de forma inquietante, evidenciando o domínio do escritor no manejo da linguagem e das estratégias narrativas. Um livro que, a meu ver, tem tudo para integrar o cânone da literatura brasileira contemporânea.

Menção Honrosa

Rio-Paris-Rio, de Luciana Hidalgo (Rocco)

Um romance que conjuga amor, política e exílio de forma admirável, no qual a autora, com um olhar agudo e sensível, aborda o sombrio momento da ditadura brasileira no final dos anos 1960, conduzindo-nos também às experiências libertárias de Paris no mesmo período.

CONTEÚDO!Brasileiros

O escritor Bernardo Carvalho foi capa da quarta edição da CULTURA!Brasileiros, leia a entrevista.
Confira depoimento de Marcílio França Castro sobre O Encontro Marcado, de Fernando Sabino. 
Márcia Tiburi conversou com a Brasileiros sobre Como Conversar com um Fascista.

MÚSICA

Tropix
Roberta Martinelli e Alexandre Matias elegeram Tropix, da cantora Céu, o melhor álbum do ano.

 

Por Roberta Martinelli

Melhor Álbum
Tropix, Céu (Six Degrees Records)

Quarto disco de estúdio da cantora, com produção de Pupillo e Hervé Salters, do General Elektriks. Céu sempre criando ambientes, dessa vez o tropical junto com o digital, beats, pista de dança. Ela se firma como uma grande compositora com destaque para Varanda Suspensa e Perfume do Invisível”, além da belíssima versão para Chico Buarque Song, da banda Fellini. Disco do ano em todos os quesitos. 

Menção Honrosa
Golpe de Vista, Douglas Germano (independente).

Grande compositor, que lançou em 2016 este disco forte e atual.

Menção Horrorosa

Tanta coisa horrorosa em 2016 que acho que nenhum disco merece essa categoria. Horroroso é o descaso com a arte.

Por Luiz Chagas

Melhor Álbum

Ascensão, Serena Assumpção (Selo Sesc)

Produzido por DiPa e Pipo Pegoraro o disco homenageia em 13 faixas os orixás e figuras importantes da cultura brasileira. Os filhos de Caetano e Gil participam ao lado de nomes que vão de Karina Buhr a Zé Celso Martinez Corrêa, passando por Tulipa, Metá Metá, Carlos Navas, Domenico Lancellotti, Simone Sou, Juliana Kehl, Mauríco Badé e Alfredo Bello. Muitos desses artistas também participaram do show de lançamento, póstumo. Pavão, nas vozes de Curumin e da irmã, Anelis Assumpção, é definitiva.

Menção honrosa

Arco e Flecha (YB Music), discos “gêmeos” de Iara Rennó, e 17 canções… (independente), da banda Serapicos: dois exemplos de criação e produção vigorosas.

Menção horrorosa

Quando Itamar Assumpção usava diminutivo era para arrasar. Na caudalosa produção deste ano teve muito disquinho, musiquinha, formulazinha.

Por Alexandre Matias

Melhor Álbum
Tropix, Céu (Six Degrees Records)

A viagem mais ousada da musa abre-alas da atual geração da música brasileira a leva à autorreflexão, ao autoconhecimento e à autocrítica do País num disco disfarçado de delírio disco music. Ladeada por poucos e bons (Pupilo, Tulipa, Pedro Sá, Hervé Salters, Lucas Martins, Jorge Du Peixe e Dinho dos Boogarins), em seu quarto disco ela vai além de uma sonoridade roots, que corria o risco de virar uma amarra, e abre um mundo de possibilidades – tanto para si quanto para seus contemporâneos. 

Menção Honrosa
Duas Cidades, BaianaSystem

O melhor disco de dance music desta década?
  
CONTEÚDO!Brasileiros
 
Leia a entrevista com Iara Rennó, capa da CULTURA!Brasileiros 05.
Confira a resenha de Golpe de Vista, por Marcelo Pinheiro.

TEATRO

auê
Espetáculo da Barca dos Corações Partidos, Auê foi eleita a peça do ano pela crítica Kyra Piscitelli. Foto: Fabio Rossi/Agência O Globo

 

Por Luiz Cruz

Melhor Peça   
O Pão e a Pedra, Companhia do Latão

O espetáculo responde a uma necessidade que temos no momento, de que as ações que tomaremos devem ser antecedidas por uma reflexão. É uma peça muito atual, que resgata um momento de 40 anos atrás para entendermos o que estamos passando: o que foi o governo do PT e o motivo de a esquerda ter “tomado uma rasteira” pelo que foi prometido e não foi cumprido. Além do ponto de vista do conteúdo, o Latão tem a característica de atualizar a obra de Brecht, que é algo que o próprio queria fazer sempre. O Sérgio de Carvalho e o grupo no geral têm uma facilidade enorme em fazer isso colocando conteúdos brasileiros em contextos brechtianos.

Menção Honrosa
Teorema 21, Grupo XIX

Adaptação do filme de Pasolini transformada em uma superpeça pelo Grupo XIX.

Menção Horrorosa

A sensação de insegurança que o teatro vive. A erupção política e a onda conservadora chegando ao poder têm deixado a classe teatral insegura, vendo uma de suas conquistas mais importantes ser ameaçada: a Lei do Fomento.
 

Por Kyra Piscitelli

Melhor Peça
Auê, Barca dos Corações Partidos

O espetáculo prova que amor não é assunto fora de moda. Como se não bastasse a ousadia do tema, Auê não cabe em rótulos: é um símbolo do teatro híbrido do século XXI. Mescla interpretação, circo, dança, performance e música. Os sete atores tocam, passeiam em ritmos e personagens. A direção de Duda Maia imprime movimento ao palco. A luz potente e o cenário cuidadosamente pensado completam a cena. As letras autorais criam vida e contam histórias que fazem a plateia reagir do choro ao riso. Afinal,  amor não é mesmo uma coisa só.

Menção Honrosa
Sala dos Professores, Cia. Elevador de Teatro Panorâmico

Leonardo Cortez presenteou a companhia com um dos melhores textos do ano.

Menção Horrorosa
A Comédia Latino-Americana, Felipe Hirsch

Sem unidade e com atores perdidos em cena, Felipe Hirsch não conseguiu repetir o sucesso de A Tragédia Latino-Americana.

Por Dâmaris Grün

Melhor peça
Cabeça – Um Documentário Cênico, Felipe Vidal

O espetáculo, com dramaturgia e direção de Vidal, comemora os 30 anos do álbum Cabeça Dinossauro, da banda Titãs. Mais que uma homenagem à banda – o espetáculo transpõe todo o disco em cena –, a narrativa se dá a partir da biografia pessoal dos atores e do diretor, de forma que constrói não apenas um espetáculo musical, mas um documento cênico, já que a trama é toda carregada de tempo histórico, tempo afetivo e autorreflexão artística. O grande show de Vidal opera ligações temporais com a atualidade a cada faixa do disco apresentada, como a celebrada vinda ao Brasil, em 1986, de um pastor tele-evangelista, a “coincidente” eleição de um pastor neopentecostal para prefeito do Rio de Janeiro hoje e a dolorosa memória de um Brasil pós-ditadura, falido social e economicamente, daquele fim de século dando vistas em 2016, já que ambos os Brasis foram, “coincidentemente”, abalados por processos de rompimentos democráticos de suas instituições. 

Menção Honrosa
Trans_Se, direção e dramaturgia de Daniela Amorim e Joelson Gusson.  

Em tempos de intolerância Tran_Se – também com atuação de Gusson –  discute o preconceito contra os LGBTs por meio de personagens que vão de uma cantora country a Jesus Cristo. Uma ode ao amor em tempos de ódio.

Menção Horrorosa

O anúncio do fechamento da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro pelo governador Luiz Fernando Pezão. Não há horizonte de financiamento público que viabilize o teatro do Rio e do País no atual momento.
  
CONTEÚDO!Brasileiros

Confira resenha de O Pão e a Pedra, da Companhia do Latão.

MAIS
Veja vídeorreportagem sobre os melhores de 2016 com apresentação de Daniel de Mesquita Benevides, redator-chefe de CULTURA!Brasileiros


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