Fonte de sabedoria

O professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), é a maior autoridade em energia nuclear do País. Recém-eleito para um quinto e último mandato à frente da instituição, classificada no mundo acadêmico com os conceitos 6 e 7 da CAPES – os mais altos do sistema, atribuídos aos melhores centros de pesquisa do mundo -, é conhecido e respeitado internacionalmente e membro do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC/ONU).

Prestes a completar 70 anos, não poderá dirigir a COPPE novamente. Acha que já contribuiu o suficiente, em especial no esforço de aproximar a ciência do universo dos excluídos, mas com a ressalva: “O problema da miséria não é falta de ciência, é falta de vergonha”. Nos próximos quatro anos, estará, como tem feito sempre que a instituição é solicitada, envolvido nas discussões das mudanças estruturais da sua cidade, o Rio de Janeiro, nos preparativos para a Copa do Mundo (2014) e da Olimpíada (2016).

Pinguelli tem mais horas de reuniões que muitos pilotos aposentados têm de voo. Representou o Brasil na maioria das conferências que discutiram os rumos do planeta. A principal delas, a 15a Conferência das Partes, realizada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), em Copenhague, Dinamarca. Como secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, é um dos defensores dos pontos que o Brasil irá definir para a Conferência Rio+20, que marcará os 20 anos da Rio 92, no Rio de Janeiro, entre os dias 4 e 6 de junho de 2012.

A favor da construção da Usina de Belo Monte, no rio Xingu (PA), frisa que o Brasil ainda utiliza um percentual muito pequeno de seu potencial hidrelétrico: “A hidroeletricidade, apesar de todos os problemas, ainda é melhor e mais barata que a energia nuclear. A nuclear é caríssima para o Brasil”.

Brasileiros – Quando houve a catástrofe em Fukushima, no Japão, os países que usam energia nuclear pararam suas atividades ou redimensionaram seus programas. Como o Brasil se posicionou? Vamos construir mais quatro usinas?
Luiz Pinguelli Rosa – Eu acho que o governo vai fazer esse balanço. Havia a proposta de mais quatro reatores nucleares, após o terceiro que já está em construção em Angra (RJ). Eu não sei claramente qual é a posição do governo, mas a minha é a de não fazê-los agora. É preciso pensar melhor.

Brasileiros – Sua opinião tem por base o acidente do Japão ou é por ver problemas em nosso programa?
L.P.R. – O acidente mostra que é possível repensar a energia nuclear. A energia nuclear nunca foi limpa. Houve, inclusive, uma grande reação no Brasil na época da sua implantação, nas décadas de 1960 para 1980. Ela veio por meio do governo militar, que fez um acordo muito ambicioso com a Alemanha. Tudo isso levou a opinião pública a fazer críticas ao programa. Essa reação, contudo, foi esquecida recentemente com o aquecimento global e o efeito estufa, quando esse tipo de energia ganhou a vantagem comparativa de não emitir gases, porque não requer a queima de combustível. Com o acidente de Fukushima vem à mente primeiro o acidente na usina de Three Mile Island, em 1979, nos EUA, depois em Chernobil, na ex-União Soviética, na ex-Ucrânia. De certo modo, também no Brasil, em Goiânia, com o Césio 137. Tudo isso trouxe à tona novamente a discussão dos riscos da energia nuclear.

Brasileiros – Como o País pensa em solucionar nosso principal dilema, que é dispensar o lixo radioativo?
L.P.R. – Para simplificarmos, devo dizer que existem dois tipos de lixo: o de baixa e média radioatividade e o de alta radioatividade. Já existem soluções no mundo para o de baixa e média radioatividade, mas o Brasil não as aplicou. Até hoje, temos apenas depósitos provisórios em torno do reator de Angra. Não há um definitivo. No caso do Césio 137, fizemos um depósito que foi chamado Abadia, na periferia de Goiânia, que funciona bem. Já para o lixo de alta radioatividade, não há solução no mundo inteiro. Estamos esperando um consenso sobre o que fazer com ele.

Brasileiros – Mas com a usina em atividade, temos também o de alta radioatividade. O que fazer com ele?
L.P.R. – Esse de alta radioatividade é obrigatoriamente colocado em uma piscina, um poço de água bem fundo, ao lado do reator, em um prédio contíguo. Ele não pode se afastar dali, a menos que se tenha uma solução definitiva.

Brasileiros – A Suécia criou um tipo de depósito a 50 m de profundidade no mar com garantia de impermeabilidade total. Seria uma boa solução?
L.P.R. – Várias soluções já foram mais ou menos pensadas, mas não se tem certeza de nada. Em uma estrutura geológica existem problemas geológicos. Acredito que ninguém colocaria isso junto a uma área vulcânica. É preciso pensar e estudar muito para garantir a estabilidade do local e a impermeabilidade. A água, por onde passa, carrega tudo. Próximo ao depósito não pode ter água. Já se pensou em minas de sal, porque onde há sal não tem água. O critério da mina de sal é o de que se ela existe, é porque a água secou, mas isso ainda não foi considerado suficientemente pela maioria dos países.

Brasileiros – Com essa falta de saída para o lixo radioativo, ainda vamos construir mais usinas?
L.P.R. – É preciso ver todos os lados da questão. Se o terror da humanidade é o efeito estufa, de aquecimento, que pode criar até a elevação do nível do mar ou problemas de temporais muito violentos, então vamos ficar com o lixo radioativo. Dos males, o menor. Talvez haja outras soluções sem isso. No Brasil, há.

Brasileiros – E quais seriam?
L.P.R. – Uma delas, a hidroeletricidade que, apesar de todos os problemas, ainda é melhor e mais barata que a nuclear. A energia nuclear é caríssima para o Brasil. Se pegarmos o custo dessa obra polêmica de Belo Monte, dividindo a potência pelo custo, dá uns US$ 1 mil por kW instalado de investimento. O nuclear dá US$ 5 mil. Por enquanto, apenas 3% da potência brasileira é de energia nuclear.

Brasileiros – Dois verões atrás, Angra sofreu uma catástrofe com as chuvas e lidou muito mal com isso. Como seria no caso de um acidente nuclear?
L.P.R. – No passado, houve o caso de um reator que caiu dentro do mar por um desabamento da encosta, justo na região do reator. Caiu e ficou lá, soterrado, com material radioativo. Por sorte, pouco, mas isso mostra que há problemas ali. Trata-se de uma área geologicamente muito instável, com encostas móveis e não confiáveis. O reator atual está longe da encosta. Eu não vejo problemas, a não ser vindo do mar. O Brasil não tem tsunami porque não tem atividade geológica intensa na nossa vizinhança. Não sei se poderá vir a ter. Na costa da África, há uma região perto das Ilhas Canárias que pode ter atividades vulcânicas, mas não sei se o efeito viria até aqui. Outra possibilidade são os temporais violentos. Já houve indícios de aumento desse tipo de fenômeno no Hemisfério Sul. Foi o que atingiu Santa Catarina há uns três anos. Neste caso, você pode ter ondas fortes. É preciso adaptar aquele reator para protegê-lo contra essa possibilidade.

Brasileiros – Com o potencial de águas doces que temos, por que não caminhamos para essa solução? O rio Madeira virou foco da atenção mundial. É realmente pela preservação e preocupação ambiental ou uma questão política para barrar o nosso crescimento?
L.P.R. – Tudo é político. É difícil a gente se posicionar. A democracia permite o debate, os interesses se manifestam. Há os vendedores de equipamentos alternativos, termoelétricos, que estão doidos para não ter a hidroelétrica. Há também os empreiteiros que estão doidos para fazer as hidroelétricas. No capitalismo, sempre há interesse e muitas vezes perversos. Um empreiteiro vai construir um hospital e pode haver ali uma roubalheira no material, ou no custo, mas não é por isso que a gente vai ser contra fazer um hospital.

Brasileiros – E qual a opinião do senhor?
L.P.R. – Eu respeito a posição de quem é contra, mas não há nenhuma geração de energia sem problemas. No Brasil, utilizamos um percentual ainda pequeno de potencial hidrelétrico. Os EUA usam cerca de 70% a 80% do potencial que poderiam usar. O Brasil usa 30%, com um fator de capacidade melhor que é a relação da potência instalada pela obra, e a média da potência que pode ser usada ao longo do ano com a variação do rio. O típico do Brasil é 50% ou um pouco mais. Mesmo em Belo Monte, que tem um fator de capacidade ruim em relação ao resto do País, esse fator é de 42%. Então, não se pode comparar com 100% como muitos às vezes parecem estar fazendo.

Brasileiros – Os argumentos são os de que a obra não justifica a energia que vai gerar…
L.P.R. – Os cálculos econômicos mostram que a energia vai ser vendida por R$ 78 o MW/h. A termoelétrica no Brasil está saindo por R$ 140 ou R$ 150. E fizemos várias termoelétricas. O último leilão bem-sucedido com eólica foi de R$ 135. Então, eu acho que é uma opção.

Brasileiros – E realmente há danos?
L.P.R. – A usina não faz uma inundação muito grande. Os 500 km² previstos na Amazônia representam muito pouco e ficam ao longo do rio, que já se alarga periodicamente. E isso foi pensado exatamente para evitar inundar uma área grande, porque o ideal energético era se criar um reservatório que não vai ser criado. É uma usina que chamamos de fio d’água, isto é, sem reservatório. Como são todas as novas no Brasil, para evitar grande impacto. Madeira, Girau e Santo Antônio também têm esse modelo, para evitar impacto nas populações.

Brasileiros – E qual seria o impacto nesse caso?
L.P.R. – Ali, atinge algumas famílias, o que deve ser considerado, mas elas vivem em situação precária, em palafitas… Eu sou contra esse conservacionismo que deixa as pessoas na miséria. A obrigação da sociedade brasileira é tirar as pessoas da miséria. Temos um País terrivelmente desigual, apesar da redistribuição de renda relativa que houve nos últimos anos. Temos uma dívida social a ser resolvida. Uma obra dessas pode ser a oportunidade para, pelo menos, compensar uma parte da população que será atingida. Não há população indígena atingida pela obra. Indiretamente sim, uma vez que você vai mudar os efeitos do rio, mas esses são mais facilmente compensáveis. O que não se pode é fazer o que fizeram no rio Madeira, onde ergueram quase um campo de concentração, a ponto de os operários fazerem uma rebelião incendiando alojamentos.

Brasileiros – Quando o Brasil descobre o pré-sal, o mundo começa a dizer que é a vez da eólica e da energia solar, e não mais do petróleo. Nós chegamos atrasados nesta questão do pré-sal?
L.P.R. – Sim, chegamos atrasados. Há pouco tempo, de 1975 em diante, resolveu-se procurar o petróleo no mar, onde houve êxito, chegando agora ao pré-sal. Eu acho que o petróleo deve ser explorado de maneira a favorecer o País. A maioria dos países produtores não se favoreceu muito dele. Um bom exemplo é o da Noruega, um grande produtor que se beneficiou criando uma diversificação de atividades econômicas. O Brasil, infelizmente, foi muito no caminho da exportação de bens primários, porque foi muito bem-sucedido com soja, minério de ferro, com o mercado da China. Precisamos diversificar. Esquecer que temos petróleo, que também é um bem primário, é impossível, mas viver só dele não é uma boa solução. Temos de ter um plano de exploração do petróleo em favor do Brasil e não em favor da pura exportação e de tudo que é companhia estrangeira que quiser vir para o Brasil.

Brasileiros – Como se pode desenvolver uma política de inovação para que essas commodities sejam mais bem comercializadas?
L.P.R. – Não é que o Brasil deva diminuir a exportação do minério de ferro, nem a plantação de soja, mas, sim, diversificar e não perder a industrialização, que já existe, e sofisticá-la mais. Mesmo a agricultura deve ser sofisticada para produzir mais em menos terra. Essa racionalidade é que deve ser perseguida pelo Brasil, e não apenas a exportação de bens primários indiscriminadamente.

Brasileiros – Um estudo da COPPE demonstra que nós temos um potencial enorme com a energia de marés e assegura que podemos sair na frente nesse programa. Nós estamos investindo nisso?
L.P.R. – Estamos inaugurando agora a primeira usina de demonstração de ondas da América do Sul e uma das primeiras do mundo. É uma parceria com uma empresa franco-belga, que opera no sul do Brasil. Vamos fazer isso também no Ceará, no Porto do Pecém. É um estudo que vem de muito tempo. Começamos a desenvolvê-lo a partir de um tanque oceânico, construído para o estudo de petróleo no mar e serviu para esse gerador de energia usando ondas. O Brasil tem um potencial grande, mas ainda estamos em uma fase que não se pode afirmar sua aplicação em larga escala. Se investirmos corretamente, em pouco tempo, de cinco a dez anos, poderemos ter uma disseminação dessa geração elétrica com ondas do mar.

Brasileiros – Como está a nossa matriz energética?
L.P.R. – É muito renovável. Incluindo as hidrelétricas, que alguns consideram não renováveis, mas aí é uma questão de convicção pessoal. Ela é renovável fisicamente, porque a água sempre cai, é evaporada e volta novamente. Esse é o conceito de renovável. Nós temos cerca de 45% de energia renovável no Brasil. No mundo, esse percentual é de 10 %, e entre os mais ricos, de 5%. O Brasil tem a vantagem das hidrelétricas e do biocombustível, em particular o etanol.

Brasileiros – Como está o desenvolvimento do etanol no Brasil?
L.P.R. – O etanol está bem. O etanol americano é que está mal. Eles usam o milho na produção do etanol. É mais caro e tem maior impacto na produção de alimentos, porque eles têm um limite disponível maior de terra agricultável. Outro ponto é que eles queimam óleo combustível para produzir o etanol. O etanol fecha o ciclo: queima, produz CO2 na atmosfera, mas o vegetal cresce e absorve esse CO2. Lá, o que não é emitido para a atmosfera na queima do etanol, eles queimam com o óleo combustível derivado de petróleo, lançando muito gás de efeito estufa no processo de produção. No Brasil, o bagaço da cana permite usar só o derivado da cana. Não há o derivado de petróleo na produção do etanol. Exceto o dos tratores e caminhões, que usam o óleo diesel, mas por burrice brasileira. Poderia usar o biodiesel, em vez de usar o óleo diesel. O biodiesel tem um uso totalmente limpo.

Brasileiros – E quanto às críticas que nos fazem pelo avanço sobre terras agricultáveis?
L.P.R. – A terra usada pelo plantio da cana-de-açúcar é muito pequena no Brasil. Eram sete milhões de hectares até pouco tempo, agora talvez sejam oito. Metade disso é para o etanol. Estamos falando em 3,5% milhões de hectares. Só a soja ocupa 21 milhões de hectares, o gado ocupa mais 100 milhões. Não é o etanol o responsável pelo desmatamento. É todo um discurso equivocado, principalmente fora do Brasil.

Brasileiros – Há pesquisas sendo feitas para a segunda geração do etanol?
L.P.R. – Sim. Uma tecnologia que não é a da fermentação e pode ser usada tanto na cana quanto no milho, mas o que se espera é fazer a hidrólise de qualquer vegetal. Nessas pesquisas, nós estamos um pouco atrasados. Estamos criando, aqui na universidade (UFRJ), em cooperação entre a COPPE e o Instituto de Química e um grupo de japoneses, um laboratório para o etanol de hidrólise. A ideia é fazer o etanol também com o bagaço da cana. A cana contém o triplo da energia que é usada no etanol. Uma parte é o bagaço, queimado na produção do etanol e do açúcar, e que poderia ser usado na produção de energia elétrica, mas em geral ela só é produzida para uso da própria usina. Falta espírito empreendedor dos usineiros, que já ganham muito dinheiro com a cana e não estão preocupados com a energia elétrica.

Brasileiros – A ciência fica muito distante da ponta miserável existente em nosso País. Como juntar esses dois mundos, fazendo com que ela se aproxime mais dos excluídos?
L.P.R. – A ciência não deve ser vista assim tão utilitariamente, ela contribui de maneiras imprevisíveis. Quando Albert Einstein formulou a Teoria da Relatividade, não tinha a ideia de que iria possibilitar a transformação da massa em energia que deu lugar à terrível bomba nuclear, mas também aos reatores nucleares. Ela tem efeitos imprevisíveis que um burocrata sentado em um birô não conhece. Porém, é inegável que a preocupação da ciência com a miséria é justa em um País com tantos problemas.

Brasileiros – Essa preocupação não deveria ser mais efetiva?
L.P.R. – O problema da miséria não é falta de ciência, é falta de vergonha. O capitalismo produz a desigualdade e a riqueza. Em alguns países essa riqueza é mais e melhor distribuída, em outros menos. Nosso capitalismo é perverso, mais selvagem do que a média, e com isso se produz muita miséria. Eu não acho que a miséria está à espera da ciência, está à espera de uma sociedade justa, que invista em resolver os seus problemas. Por exemplo, a habitação. O Brasil abandonou o problema de habitação popular que até os militares tinham mantido e o liberalismo acabou com ele. Na fase já posterior ao regime militar, o BNH foi extinguido, parece que não funcionava, mas se extinguiu sem que nada fosse colocado no lugar. Agora, nós voltamos a ter um programa de habitação popular. Eu acho que é isso que precisa, como também a geração de emprego.

Brasileiros – As universidades podem ajudar nesse processo?
L.P.R. – Que não se espere da ciência uma solução para a miséria, mas que haja essa preocupação na universidade. Nós aqui temos atividade de tecnologia social, a criação de incubadoras tecnológicas, populares. Há poucos dias, inauguramos o laboratório Herbert de Souza – uma homenagem ao Betinho, de saudosa memória – dedicado a isso, com articulação com muitas empresas estatais. Há atividades, mas eu repito, não é por falta de ciência que há miséria no Brasil. É por um capitalismo perverso.

Brasileiros – Não falta os burocratas sentarem com os cientistas para articularem essas pesquisas, como vocês estão fazendo na COPPE?
L.P.R. – Nós fazemos pouco em relação às necessidades. O que precisa mesmo são programas de governo. O Brasil está investindo em programas sociais, tem o Bolsa Família, créditos para o agricultor familiar, o Minha Casa Minha Vida, a melhoria do salário mínimo real, isso tudo é muito positivo. Mas infelizmente tem também o superávit primário, o pagamento de juros aos bancos, que são feitos com os nossos impostos. Eu acho que se puder diminuir isso e aumentar os programas de construção de casas, vamos gerar muitos empregos e resolver problemas de miséria. São programas desse tipo que vão juntar o conhecimento e a tecnologia com a necessidade das populações mais pobres.

Brasileiros – O País forma poucos cientistas. Como despertar em um menino de periferia a vontade de ser cientista?
L.P.R. – O Brasil forma poucas pessoas. Há a constatação de que de cada 100 brasileiros que entram na escola, cerca de 15 terminam o nível médio. Estudos apontam que a escolha de carreiras técnicas, como a Engenharia, é menor no Brasil, se comparado à China e à Coreia do Sul. O maior problema para mim é o péssimo salário dos professores. Principalmente nos níveis fundamental e médio, que desestimula a educação e a formação, inclusive, cultural e científica das crianças.

Brasileiros – O senhor participa do Fórum de Condições Climáticas. Acredita que há solução para o planeta ou que marchamos para o caos?
L.P.R. – Pode marchar para o caos, mas eu sou otimista e acho que vai prevalecer a racionalidade e, em certo momento, espero que as providências necessárias sejam tomadas.

Brasileiros – E o aquecimento ainda é reversível?
L.P.R. – É muito caro fazer isso, mas é possível. Pode-se lançar mão da geoengenharia para evitar o aquecimento. Acho mais fácil reduzir o consumo intensivo de energia. O aquecimento polui as cidades e leva a doenças respiratórias, cardíacas. Nós sabemos que se todo cidadão tivesse o consumo de um norte-americano médio, o mundo não teria recursos suficientes. É preciso reduzir o consumo desbragado, não dos pobres, mas dos ricos. Pobres no Brasil vivem mal e consomem pouca energia. A classe média alta brasileira consome tanta energia quanto um europeu.

Brasileiros – O governo atual está indo bem?
L.P.R. – Em muitas coisas sim, como a distribuição de renda. A política externa brasileira foi primorosa desde a eleição do Lula. Eu discordo da política econômica que tem uma conotação herdada do neoliberalismo anterior. Certamente, o ministro Mantega na Fazenda representou uma mudança, mas não o suficiente. Esse superávit primário enorme, esses juros pagos com dinheiro dos impostos para os grandes aplicadores, acho que em algum momento é uma questão que vamos ter de enfrentar.

Brasileiros – Falta educação, o que leva à carência de mão de obra. Como resolver?
L.P.R. – A política do governo de expansão de vagas nas universidades públicas foi muito boa. Nosso problema está, a meu ver, nos ensinos fundamental e médio que são obrigação dos municípios e dos Estados. Teremos de fazer um programa nacional muito forte para melhorar o nível de educação. As crianças estão sendo formadas precariamente. É preciso valorizar o professor para mudar a educação.


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