Silvio Santos dá o sim

Em 1941, aos 11 anos de idade, Silvio Santos não tinha dinheiro para ir ao cinema.

No tempo de menino, com 11 ou 12 anos, nosso divertimento preferido, porque era emocionante, consistia em entrar nos cinemas de graça. No Rex, passávamos por baixo da roleta. No Capitólio, nós nos escondíamos atrás das poltronas situadas junto às saídas laterais, aproveitando o instante em que o pessoal deixava as sessões. No Odeon, infiltrávamo-nos entre o público que saía e caminhávamos em sentido contrário, andando para dentro do cinema…

Em 2012, aos 82 anos, Silvio Santos poderá ver essas cenas, sentado confortavelmente diante de uma tela. No final de agosto, depois de um longo período de negociações, ele autorizou a versão para o cinema do best-seller A Fantástica História de Silvio Santos. O diretor e produtor Guga de Oliveira já tinha comprado os direitos autorais de Arlindo Silva, há alguns anos. O que emperrava o início da produção era a falta do aval do personagem principal.

A capitulação, como não podia deixar de ser, deu-se em meio a um show produzido e apresentado por Silvio Santos. O cenário escolhido foi o mitológico salão do Jassa, na rua Iguatemi, em São Paulo. Três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas, o ex-dono do Baú da Felicidade passa em seu cabeleireiro preferido, antes de gravar seus programas no SBT, para ser penteado.

Em meio ao mármore, aos espelhos e às escovas, ele recebeu o paciente Guga para sessões de conversa de meia hora, com início às 8 e meia da manhã. Nos encontros, três no total, Guga expôs, mais algumas vezes, suas ideias de como será o filme. Ele quer contar, por meio da história pessoal de Silvio Santos, um pedaço da história do Brasil. Para cada fase de sua vida, haverá reconstituições de época, não só de cenários e figurinos, mas também da própria fotografia do filme.
Silvio concordou com tudo. E, então, no terceiro encontro, fez a pergunta essencial:

– Guga, do que você precisa?

– Da sua autorização. Da sua assinatura.

Depois de fazer um instante de suspense, Silvio respondeu:

– Guga, eu tenho uma superstição. Eu não assino nada. Eu não gosto de assinar. Sabe quem assinou a venda do Panamericano? Quem assinou a venda do Baú? O Stoliar. Eu não assino nada. Mas autorizo.

Ele pediu, então, para o Jassa chamar todos os funcionários presentes. Formado o grupo ao redor deles, Silvio explicou:

– Eu chamei vocês aqui para serem testemunhas de uma autorização. Eu quero que vocês saibam que eu estou autorizando o Guga de Oliveira a realizar o filme sobre a minha vida.

Depois dos abraços, Silvio fez apenas um pedido: que Guga não deixasse de incluir no roteiro a venda do Baú e do Panamericano: “Para não pensarem que ainda sou o dono”. Já com metade do orçamento em caixa, Guga planeja escolher o elenco em dezembro, iniciar filmagens em março de 2012 e exibir a primeira cópia no dia 12 de dezembro de 2012, aniversário de 82 anos de Silvio Santos.


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