Conhecido por sua retórica controversa e divisionista, Donald Trump ocupa a Casa Branca como o mais impopular presidente dos Estados Unidos. Não é para menos. Assim que chegou à residência, no dia de sua posse, em que usava uma gravata vermelha tão longa que ultrapassava, e muito, a própria cintura, Trump se apressou ao sair do carro para cumprimentar os Obama, deixando para trás sua mullher. Melania Trump, toda trabalhada em um vestido azul-céu Ralph Lauren, se reuniu ao grupo instantes depois, sozinha, carregando uma caixa da mesma cor do vestido, identificada como sendo da joalheria Tiffany & Co.
O que seria um mimo para Michelle Obama, virou constrangimento. Sem saber o que fazer com o embrulho, delegou ao marido, o então presidente Barack Obama, sempre elegante, a tarefa de se livrar do pacote. Melania parecia cumprir o protocolo naquele dia. Afinal, Michelle levara uma lembrancinha para sua antecessora, Laura Bush, mulher de George Bush, o 43º presidente americano, no dia em que Barack tomou posse. Dentro do pacote estavam uma agenda de couro e uma caneta de prata. O que havia na caixa da Tiffany ainda é um mistério. Tiara e porta-retrato são as maiores apostas.
Pobre Melania. Não é a primeira vez que ela é acusada de reproduzir a inteligência e a singeleza de Michelle. No ano passado, quando Donald era apenas o provável candidato republicano à presidência, Melania, modelo eslovena naturalizada americana, foi “incriminada” por plagiar frases ditas por Michelle anos antes, também durante a campanha de seu marido. Uma funcionária se demitiu e não se falou mais no assunto.
Diante do Capitólio, Trump prestou juramento e fez um discurso de tom nacionalista. Disse, entre outras coisas, que aquela cerimônia, a dele, era especial. “Estamos emitindo um novo decreto para ser ouvido em toda cidade, em toda capital estrangeira, em todo salão de poder. Deste dia em diante, uma nova visão governará nosso país. Deste dia em diante, será apenas a América em primeiro lugar, a América em primeiro lugar.” Enquanto isso, havia protestos nas ruas. O clima pesou. Policiais foram feridos e pessoas, presas. Manifestantes definiam o novo presidente como narcisista, reacionário e insignificante, adjetivos pouco positivos para uma estreia.
O clima atmosférico também não foi dos melhores, choveu um pouco, a temperatura bateu 7 graus e quase ninguém entendeu o modelo de Michelle, que usava um vestido acinturado de mangas curtas. Dizem que, na pressa, esqueceu o casaco. Mais tarde, apareceu de botas de cano longo no lugar do scarpin preto de salto fino. Aquele dia foi longo.
O casal Obama já tinha se despedido da presidência com mensagens e fotos amáveis no Twitter. Na mesma rede, Michelle publicou mensagem – “Ser a primeira-dama de vocês foi a maior honra da minha vida. Do fundo do meu coração, obrigada” – acompanhada de foto abraçada ao marido.
No dia seguinte à posse, a vida voltou ao que parece ser a nova normalidade. A briga entre o presidente com os jornalistas americanos ganhava novo capítulo. Ele os acusou de minimizar o público que havia comparecido à cerimônia. Para Trump, a imprensa publicou fotos de um “campo vazio” para ilustrar que a sua chegada ao poder não tinha atraído tantas pessoas quanto a primeira cerimônia de Obama, em 2009.
Agências internacionais, como Reuters e Associated Press, publicaram imagens dos dois eventos. Em discurso na sede da CIA, Trump reagiu raivoso, dizendo que os jornalistas “estavam entre os seres mais desonestos da face da Terra”. Mais uma vez, prometeu uma “guerra contínua” com a mídia. Estima-se que 1,8 milhão de pessoas acompanharam o juramento feito por Obama, na primeira eleição. Nesta, na de Trump, as autoridades informaram que havia entre 800 mil e 900 mil.
Ainda no dia seguinte à posse, houve a marcha das mulheres contra Trump, em Washington e outras cidades (e até em outros países), sendo que o evento reuniu uma diversidade de pessoas. Muitos participantes usaram gorros ou “pussy hats”, como são chamados em inglês. Aí está a pegadinha, porque a palavra pussy pode significar gatinho ou uma maneira pejorativa de se referir ao órgão sexual feminino. A peça fez sentido naquele dia porque é uma referência direta a um áudio antigo, de 2005, vazado durante a campanha eleitoral em que Trump afirma que, “quando você é uma estrela, (as mulheres) deixam você fazer o que quiser. Pode agarrá-las pela b… (ou pussy)”. Madonna apareceu na marcha usando seu próprio gorro com orelhas de gatos.
Mais adiante, Trump deu outro passo polêmico, aliás, promessa de destaque da campanha que o levou à Casa Branca: a construção de um muro entre o México e os Estados Unidos. Mais: disse que o custo da construção da fronteira física será do México. Em resposta, Enrique Peña, presidente mexicano, cancelou sua viagem a Washington.
Nesse momento de relações estremecidas entre os dois países, a versão mexicana da revista americana Vanity Fair estampa na capa de sua edição de fevereiro ninguém menos que Melania Trump, mostrando a primeira-dama com um prato cheio de joias. Esquisito. Dentro, o texto indica que ela irá contar seu segredo e também seu plano de como atuará no poder.
Mas até onde se sabe, Melania, terceira mulher do presidente, permanece em sua casa de Nova York enquanto o filho do casal, Barron, termina o período escolar. Ela garante, no entanto, que está disponível sempre que precisar. Enquanto isso, Ivanka, a filha mais velha de Trump, segue para Washington com o marido, Jared Kushner, e seus três filhos. Ela quer ficar ao lado do pai, ajudá-lo a comandar o país, ainda que não de forma oficial.
Entre as medidas, Trump também anunciou o fim de uma época de progressiva abertura das fronteiras comerciais, com a retirada do país do TPP, tratado com nações do Pacífico destinado a contra-atacar a influência da China na região.
Em poucos dias no poder do país mais poderoso do mundo, houve outra rodada de ordens executivas polêmicas: Trump vetou a entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana. O decreto gerou críticas mundiais, mobilizou dezenas de milhares de pessoas em protesto por diversas cidades e passageiros de aviões que voavam para os Estados Unidos foram surpreendidos com a ordem do republicano ao chegar no aeroporto –18 pessoas foram proibidas de entrar nos EUA. Vale lembrar que a mãe de Donald, Mary Anne MacLeod, foi uma escocesa que emigrou para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor. Seu pai, Freud Trump, também era descendente de um imigrante alemão, que chegou a Nova York no final do século XIX.
Deixe um comentário