Taisa Nasser. Vestígios do Enigma

Essas pinturas de Taisa Nasser poderiam se chamar Saturação vermelha, Contra-fluxo amarelo, Matéria gris, Restos do Solimões e Memórias de um rei asteca. Estariam em sintonia com o falso mistério e seriam de comunicação mais imediata. Entretanto, a artista prefere Gravetos Celestes, Alquimia de ouro, Vestígios do vazio, Música do presságio e Vegetação do Enigma. Ela diz claramente onde está o seu coração. Pois se trata disto.

A ação vertiginosa da pintora Taisa Nasser, a rapidez e a certeza de execução, a coerência formal do seu trabalho, impuseram imediatamente a sua pintura à consideração do circuito artístico como uma possível contribuição ao expressionismo brasileiro. Reforça esta posição as condições pessoais da artista e arquiteta, a sólida formação cultural e a sua participação permanente no cotejo de ideias.

Há uma constante na pintura de Taisa Nasser que ajuda a explicar o interesse que sua obra desperta. Tanto na fase anterior, lírica, sensível e de harmonias cromáticas, quanto na atual, fortemente matérica e de contrastes cromáticos, há um acentuado vir a ser, uma discussão sobre caminhos, uma proposta de novo entendimento da arte, a expressão como mensagem psíquica, a forma como desejo de transcendência.

É uma pintura que não pretende impor um discurso de convencimento. E, também, não tem a pretensão de modificar o público. A arte de Taisa Nasser tem uma clara concepção de mundo, é decidida e explicita, pretende conceber uma energia compatível com a consciência universal e deseja partilhar esta percepção do mundo com o público.

Certamente esta arte que acredita tem um forte atrativo em um mundo marcado pela massificação da informação e a ênfase no medo. De alguma maneira, uma expressão tão franca como a pintura de Taisa Nasser – afirmativa e propositiva, sem o desejo de convencer ou de modificar o público – e que simplesmente se coloca como uma alternativa de diálogo, é estimulante. O caráter espiritual deste trabalho também está compatível com uma tendência mundial que procura o significado profundo da existência em oposição à crença na gratuidade da vida.

A pintura de Taisa Nasser tem origem no movimento abstrato informal e expressionista. No Brasil, este movimento teve uma forte conotação filosófica e, em boa parte, esteve próximo da meditação e da investigação de estados sutis da mente. Para isto, contribui a presença marcante de artistas nipo-brasileiros que trouxeram a experiência gráfica oriental e conteúdos do zen-budismo. A artista, com o seu trabalho, não só parte desta tradição, como acrescenta à ela um vivência estética fundada no contato direto com o Self e em harmonia com estados de elevação espiritual. É este dado explícito espiritual que a artista acrescenta à tradição.


La Ferme du Manet
61, Avenue du Manet, Montigny le Bretonneux – França
1 e 2 de outubro



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