Os políticos e as aeronaves

Paraty - Os destroços do avião, cujo acidente matou o ministro e outras quatro pessoas. Foto: Allan Meirelles/ TV Brasil
Paraty – Os destroços do avião, cujo acidente matou o ministro Teori Zavascki e outras quatro pessoas. Foto: Allan Meirelles/ TV Brasil

A morte de Teori Zavascki entra para a lista de desastres aéreos que abalaram a história do País. Apesar de não ter sido político, Teori, como ministro do Supremo Tribunal Federal e relator da Lava Jato, esteve intimamente ligado à vida política do Brasil. A queda do bimotor prefixo PR-SOM, modelo Hawker Beechcraft King Air C90, que matou outras quatro pessoas, colocou em dúvida a continuidade da operação porque Teori estava prestes a homologar as 77 delações da construtora Odebrechet, consideradas as mais explosivas da investigação até agora.

No entanto, duas semanas depois, a presidente do STF, ministra Cármem Lúcia, cumpriu essa tarefa. No início de fevereiro, o ministro Edson Fachin foi escolhido para ser o novo relator dos processos da Lava Jato no STF, em sorteio por determinação da ministra, e herda os processos ligados à operação.

Nascido em Faxinal dos Guedes, em Santa Catarina, o ministro Teori tinha 68 anos. Advogado formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi ministro do Supremo Tribunal de Justiça, entre 2003 e 2012, ano em que tomou posse como ministro do STF após indicação da ex-presidente Dilma Rousseff.

No acidente aéreo, também morreram o empresário Carlos Alberto Fernandes Filgueiras, proprietário do Hotel Emiliano e da aeronave, o piloto Osmar Rodrigues, a professora Maria Hilda Panas Helatczuk e sua filha, a estudante de Fisioterapia e massoterapeuta Maíra Panas.

Poucos dias depois, a Justiça de Angra dos Reis determinou que a investigação sobre o acidente ocorra de forma sigilosa. A seguir, outros acidentes aéreos que encerraram a vida de políticos brasileiros e estrangeiros.

2014 – Eduardo Campos

Em 13 de agosto de 2014, Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco por dois mandatos e à época candidato à Presidência da República pelo PSB, morreu aos 49 anos na queda de um Cessna Citation. O avião saiu do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino ao Guarujá, litoral de São Paulo, mas caiu em uma área residencial no bairro do Boqueirão, em Santos.

Outras seis pessoas morreram, entre elas quatro assessores de campanha e os pilotos. O relatório final da investigação aponta conjunto de fatores, como desorientação de pilotos e mau tempo. Eduardo Campos morreu no mesmo 13 de agosto que seu avô Miguel Arraes, morto em 2005. Eduardo era economista. Foi deputado federal e ministro da Ciência e Tecnologia
do governo Lula, entre 2004 e 2005.

2013 – Lino César Oviedo

O então candidato à Presidência do Paraguai pelo partido Unace e general reformado Lino Oviedo morreu depois da queda de um helicóptero na província de Chaco. Ele havia participado de um ato político no estado de Concepción e voltava para Assunção, capital do país, no momento do acidente, em 2 de fevereiro de 2013. Também morreram o piloto e o guarda-costas do político. Oviedo, militar aposentado de 69 anos, teve participação ativa no golpe de estado de 1989, que derrubou o ditador Alfredo Strossner.

A partir daí teve papel de primeira linha no cenário político do Paraguai. Em 1999, foi acusado de incitação ao assassinato do vice-presidente José María Argaña e de ser um dos idealizadores do massacre, que ocorreu durante os protestos populares em março daquele ano e levou à saída do presidente Raúl Cubas.

2010 – Lech Kaczynski

Em 10 de abril de 2010, o então presidente da Polônia morreu na queda de um avião Tupolev TU-154, que havia decolado de Varsóvia. O avião caiu a poucos quilômetros do pouso durante uma manobra de aproximação ao aeroporto de Smolensk. Havia 97 pessoas a bordo e não houve sobreviventes. Também viajavam o comandante do Exército, general Franciszek Gagor, o presidente do Banco Nacional, Slawomir Skrzypek, e o vice-chanceler Anderzej Kremer, além da primeira-dama do país, Maria.

2003 – José Carlos Martinez

Ex-presidente do PTB, José Carlos Martinez morreu em 6 de outubro de 2003, aos 55 anos, depois que seu monomotor se chocou com um morro na região de Guaratuba, no litoral do Paraná, sob forte neblina.
A aeronave saiu de Curitiba com destino a Navegantes, em Santa Catarina. Além de Martinez, que foi tesoureiro da candidatura de Fernando Collor de Mello à Presidência e, mais tarde, apoiou o então candidato Luiz Inácio da Silva no segundo turno da eleição de 2002, havia mais três pessoas a bordo.

2002 – Ulysses Guimarães

Na noite do dia 12 de outubro de 1992, uma segunda-feira, o então presidente Itamar Franco foi avisado de que o helicóptero em que viajavam o deputado federal Ulysses Guimarães (PMDB-SP) e o ex-senador Severo Gomes, com suas mulheres, havia desaparecido em um voo entre Angra dos Reis, no Rio de Janeiro,
e São Paulo. Não houve sobreviventes.

O corpo do dr. Ulysses, como era carinhosamente chamado, nunca foi encontrado. No entanto, sua morte foi oficialmente reconhecida. Político histórico, Ulysses Guimarães elegeu-se deputado estadual em 1947 pelo PSD e três anos depois chegou ao Congresso Nacional. Opositor da ditadura militar, foi um dos principais líderes da campanha das Diretas Já, nos anos 1980. Também foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do presidente João Goulart e responsável pela Constituição de 1988.

1987 – Marcos Freire

O então ministro da Reforma Agrária do governo Sarney morreu, aos 56 anos, em 8 de setembro de 1987, na Serra de Carajás, sul do Pará. O jatinho em que estava explodiu no ar pouco depois da decolagem. Advogado, ele foi do Partido Socialista Brasileiro (PSB) na década de 1970 e, mais tarde, juntou-se ao MDB. Também
foi prefeito de Olinda, deputado federal por Pernambuco e senador. No período da redemocratização brasileira, Marcos Freire foi presidente da Caixa Econômica Federal.

1986 – Samora Machel

Em 19 de outubro de 1986, o então presidente de Moçambique morreu na África do Sul após a queda de um Tupolev 134 cedido pela União Soviética. Até hoje há dúvidas com relação às causas do acidente.

1982 – Clériston Andrade

Apoiado por Antônio Carlos Magalhães ao governo da Bahia, o pastor e ex-prefeito de Salvador Clériston Andrade, do PDS, fazia campanha quando o helicóptero em que viajava caiu em 1º de outubro de 1982, um mês e meio antes da eleição. Viajavam com Andrade outras 11 pessoas, entre parlamentares e o então presidente do Banco do Estado da Bahia Luiz Calmon. Não houve sobreviventes. Na carreira política, Clériston começou como procurador-geral de Salvador, mais tarde tornou-se prefeito da cidade. Foi presidente do Banen e abandonou o cargo para se candidatar ao governo da Bahia pelo PDS.

1981 – Omar Torrijos Herrera

Em 31 de julho de 1981, o general panamenho e líder do país entre 1969 e 1981 morreu quando a aeronave oficial em que viajava, um DHC 6, explodiu no ar. Versões não confirmadas afirmam que os instrumentos do avião sofreram interferência desde o solo.

1973 – Filinto Müller

Em 11 de julho de 1973, um Boeing 707 da Varig, ao se aproximar do aeroporto de Orly, a 20 quilômetros de Paris, fez um pouso forçado no vilarejo de Saulx-les-Chartreux, causando a morte de 123 pessoas, entre elas Filinto Müller, então presidente do Senado. Das 134 pessoas que haviam embarcado no voo RG 820 no Galeão, Rio de Janeiro, 11 sobreviveram – dez tripulantes, um deles o comandante Gilberto Araújo da Silva, que seis anos depois morreu em outro acidente aéreo, e um passageiro. Além de Müller, outras personalidades brasileiras morreram: o cantor Agostinho dos Santos, a atriz Regina Lécrery, o jornalista
Júlio Delamare e o iatista Joerg Bruder. A causa teria sido um incêndio iniciado em uma cesta de lixo de um dos banheiros da aeronave.

1969 – René Barrientos Ortuño

Em 27 de abril de 1969, o general e ex-presidente da Bolívia René Barrientos Ortuño morreu em um acidente de helicóptero na cidade de Arúe. Ficou conhecido por perseguir a guerrilha de Che Guevara em território boliviano, onde o líder revolucionário foi morto em 1967.

1967 – Castelo Branco

O primeiro presidente do Brasil do regime militar, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco viajava em um Piper Aztek bimotor que se chocou no ar com um jato da FAB. O acidente aconteceu em 18 de julho de 1967, em Fortaleza, Ceará. Também morreram Cândido Castelo Branco, irmão do então presidente,
o major Manoel Nepomuceno de Assis e a escritora Alba Frota. 

1961 – Roberto Silveira

O então governador do Rio de Janeiro morreu em 28 de fevereiro de 1961, aos 37 anos, depois de o helicóptero em que estava explodir ao levantar voo. Considerado provável sucessor de João Goulart na liderança do PTB, Silveira chegou a ser levado a um hospital, mas morreu oito dias depois.

1958 – Nereu Ramos

Em 16 de junho de 1958, o então vice-presidente do Senado morreu, aos 69 anos, em um acidente em São José dos Pinhais, no Paraná. A aeronave, um Convair 440, da companhia Cruzeiro do Sul, ia de Florianópolis para o Rio de Janeiro, com escalas em Curitiba e São Paulo. Nereu Ramos chegou a assumir a Presidência da República interinamente durante pouco mais de dois meses, entre novembro de 1955 e janeiro de 1956, antes de Juscelino Kubitschek. No mesmo acidente morreram o governador
de Santa Catarina, Jorge Lacerda, e o deputado federal Leoberto Leal.

1950 – Salgado Filho

O senador gaúcho morreu aos 62 anos no dia 30 de julho de 1950, em São Francisco de Assis, na região central do Rio Grande do Sul. O político, que dá nome ao aeroporto de Porto Alegre, estava em campanha para o governo do estado pelo PTB e viajava em um bimotor da capital para São Borja, onde se encontraria com Getúlio Vargas, que na época era senador. Salgado Filho foi o primeiro ministro da Aeronáutica do Brasil. O piloto era o comandante Gustavo Ernesto de Carvalho Cramer, pioneiro da aviação nacional.


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