Editor da revista Frieze, uma das mais importantes publicações de arte do mundo, o inglês Dan Fox está observando como o cenário artístico está reagindo às decisões de Donald Trump. O jornalista pontua como seus conterrâneos e as próprias instituições culturais têm resistido à situação política, optando pelo que chama de um “ativismo de base”, aquele que não permanece apenas no plano simbólico. “Há momentos em que é preciso escolher em qual lado da história você quer ficar”, afirma o editor.
Fox será um dos palestrantes do Talks, ciclo de debates que a ARTE!Brasileiros promove em parceria com a SP-Arte nos dias 6 e 7 de abril (a feira prossegue até o dia 9). O evento, que tratará de temas como o design contemporâneo e a relação entre arte e política, é gratuito, sendo necessário apenas fazer inscrição neste link.
Confira abaixo entrevista sobre alguns dos temas que o jornalista tratará no Talks.
ARTE!Brasileiros – A arte pode ser uma forma de resistência?
Dan Fox – Sim, mas é importante lembrar que essa é apenas uma das muitas formas de resistência. Artistas, antes de serem artistas, são cidadãos, vizinhos, amigos, membros da comunidade, pessoas com responsabilidade perante os demais. Mesmo que a arte tenha um papel importante, essas responsabilidades são as essenciais. Fazer arte é importante, menos pela mensagem, e mais por ser um ato. Quando você para de fazer arte, você cede espaço para a ideologia oposta. Mais do que tudo, é importante que ocupemos os espaços e que não desistamos.
Depois da eleição de Donald Trump, muitos artistas, como Anish Kapoor e Christo, protestaram contra as medidas do presidente. Podemos dizer que há um movimento dos artistas contra o recrudescimento da direita no mundo?
Eu diria que muitos artistas se opõem à direita porque ela geralmente se coloca contra os valores que eles defendem. As ações da direita agora estão tendo um grande impacto na forma como os artistas viajam, negociam e se manifestam. E eles não vão apoiar isso [as ideias da direita]. No entanto, não podemos esquecer o que o artista Jeremy Deller disse uma vez: ‘o mundo da arte é um ótimo lugar para conhecer vendedores de armas aposentados’.
Nesses protestos contra Trump, o que mais chamou a sua atenção? Você se lembra de outro momento histórico no qual artistas visuais também protestaram?
O que me pareceu mais inspirador nos protestos que os meus colegas da arte fizeram foi a disposição para empregar suas habilidades, transformando protestos em reuniões, trabalhando para serem úteis e práticos ao invés de permanecerem apenas no nível simbólico. Há um momento para o protesto simbólico, mas também há uma urgência de se fazer o trabalho necessário, mesmo que árduo e sem glamour, do ativismo de base.
Além dos artistas, instituições como o MoMA também se posicionaram, exibindo trabalhos de muçulmanos. O que você acha disso? É comum que as instituições culturais se manifestem?
Eu tiro meu chapéu para o MoMA por ter rearranjado a sua coleção e exposto obras de artistas provenientes das regiões afetadas pelo estúpido decreto de Trump. As instituições culturais nos EUA geralmente ficam no dilema: expressar suas opiniões políticas ou pedir dinheiro para filantropos que têm posturas muito conservadoras. Mas há momentos em que é preciso escolher em qual lado da história você quer ficar. A ideia de que as instituições culturais são neutras é um absurdo.
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