A eterna Ella Fitzgerald

Em meados dos anos 1960, Eric Clapton era considerado “deus” para seus fãs, como Ella Fitzgerald também era há décadas. Com o passar do tempo, o guitarrista foi virando pop e acabou se especializando em concertos-tributos. Ella morreu em 1996 ainda diva. Sua primeira gravação data de 1935, o ano em que Elvis Presley nasceu. O lançamento Best Of The BBC Vaults (Som Livre), com um CD e um DVD, traz a cantora em seu período maduro com gravações e imagens captadas entre 1965 e 1977, com Ella reinando absoluta. O DVD contém duas apresentações nos estúdios de televisão da BBC, um show no lendário Ronnie Scott’s, do Soho londrino, e uma das inúmeras participações de Ella no festival de Montreux, em 1977 – sua estreia no palco suíço se deu em 1969.

Excetuando-se as apresentações para a televisão, onde alterna com a Johnny Spencer Orchestra, o trio do pianista Tommy Flanagan domina as performances – contando com o brilhantismo do guitarrista Joe Pass no show do Ronnie Scott’s. Flanagan – não confundir com o ator de O Gladiador – tocou com Ella entre 1963 e 1968 e é uma figura lendária. Seu primeiro trio tinha Elvin Jones na bateria e seu piano pode ser ouvido em discos de nomes célebres, como John Coltrane (Giant Steps), Sonny Rollins e Wes Montgomery entre outros. Morreu em 2001.

Ella casou-se duas vezes, uma delas com o baixista Ray Brown, e quando não estava na estrada, ficava em casa vendo televisão. Ao contrário de sua vida pessoal, a performance de Ella sempre primou por clareza, espontaneidade e vigor. No final dos anos 1940, a cantora já era sucesso de público. A comunidade de críticos e apreciadores de jazz acabou por aceitá-la após a série de songbooks que gravou, cobrindo a obra de nomes como Irving Berlin, Cole Porter, os irmãos Gershwin, além de Duke Ellington. Contratada da Decca, foi durante muito tempo assediada pelo produtor Norman Granz, que chegou a criar uma gravadora só para ela. Nada menos do que a Verve. Granz, que eventualmente tornou-se seu empresário e responsável pelos shows de jazz do Festival de Montreux, tornou-a consagrada ao convidá-la para cantar com uma criação sua, a Jazz At The Philharmonic (JATP), ao lado de estrelas como Charlie Parker. Ella não foi a primeira opção, mas Billie Holiday, que não pôde ser aproveitada devido a problemas com drogas. As duas se conheceram e foram amigas até certo ponto, já que tinham estilos de vida diferentes. Mas Ella nunca gravou nada que a aproximasse de Billie até a maturidade trazer certa aspereza à sua voz. Assim, BBC Vaults tem como atrativo suas interpretações para Good Morning Heartache, My Man e The Man I Love. No mais, são clássicos interpretados soberbamente como Sweet Georgia Brown, Body and Soul, The Lady Is a Tramp, Misty, Take The “A” Train, uma penca. O DVD traz duas versões de Garota de Ipanema, que Ella canta The Boy From Ipanema, além de uma refinada versão de Samba de uma Nota Só (One Note Samba). No final, ela agradece ao público de Montreux com um vigoroso “Muito obrigado!”, quase sem sotaque. Nós é que agradecemos.


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