Jobs e o futuro

Steve Jobs, gênio único na história da humanidade, morreu às 15 horas (horário do Pacífico, nos EUA), no dia 5 de outubro. Às 16 horas, eu já estava ansioso, em contagem regressiva para o próximo lançamento da Apple. Será, sem dúvida, o iSarcófago. O instrumento, com design arrojado, superfino, negro e com detalhes em aço escovado, incorpora (em mais de um sentido) a divindade que deixou a forma corpórea. Partículas do fundador da empresa vão servir de chips no magnífico aparelho.

Desde Mao, Stalin e Hitler não se via tamanho culto a uma personalidade como aquele que experimentamos após o passamento de Jobs. A imprensa o comparou a Thomas Edison, Alexander Graham Bell, Guglielmo Marconi. Bobagem! Esses citados não serviriam para limpar o visor do iPod do homem da Apple. Buda, Cristo e Moisés seriam melhores equivalentes.

Mas as multidões de adoradores não levaram a mal a falta de respeito dos jornais. Foram em peregrinações às lojas da Apple, levando maçãs, velas, fotos, flores, ursinhos de pelúcia (aqui, o bichinho é de rigor nos tributos ao rigor mortis). Cantavam Imagine (obra imortal de John Lennon), com letra aprendida após baixarem (ao preço de US$ 1,99) a canção no iTunes. Em prantos, nem sequer conseguiam escrever mensagens no Twitter. O máximo que os dedinhos trêmulos grafavam era: “OMG! Jobs… sob, sob!“.

Foi quando me ocorreu: “Ei, o mundo não pode acabar assim! Com certeza, o Redentor deixou alguma válvula de escape. É claro. Ele pensou, como sempre, numa solução”. E na minha mente uma imagem clara – em alta definição – explodiu em milhões de pixels. Um iSarcófago!

Será portátil. Os primeiros – exclusivíssimos – serão negros (como uma lápide, sacou?) e finos. O iSarcófago 1 (sim, porque depois de um tempo, virão os 2, 3, 4, 4-S, 5, 5-S e assim por diante) será capaz de colocar qualquer pessoa em contato direto com o Deus de Silicon Valley. O instrumento tornará obsoletas as sessões espíritas.

Baixando aplicações (a custos módicos entre US$ 1,99 e US$ 10), até um orangotango poderá obter ferramentas para contatar o além. Quer falar com um preto velho? É só clicar no ícone do velhinho de carapinha branca, fumando cachimbo. Zifí precisa de trabaio mais forte? Basta acionar a figura do iOgum e os Angry Birds com farofa.

Para Jobs, os fieis poderão oferecer maçãs virtuais, flores, velas, ursinhos de pelúcia, além de marafa e charutos. Tudo acomodado num congá virtual e com trilha sonora com o rufar de atabaques. O profeta aparecerá na tela, vestindo a indefectível malha preta com gola olímpica (ou gola goleiro, para os cariocas) e jeans escuros, e nos dirá aquilo que o futuro reserva para a humanidade, além de lançar produtos novos
da Apple.

Vai ser, é claro, quase impossível conseguir um iSarcófago nos dois primeiros meses. Mas, depois, as filas quilométricas de fregueses alucinados diminuirão e qualquer mané poderá comprar o iSarcófago 1. Para logo depois descobrir que já está com instrumento obsoleto, pois estarão anunciando o iSarcófago 2.


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