A bebida dos brasileiros vai deixando as prateleiras do preconceito para se instalar, com a devida pompa, nas vitrines dos mais ilustres destilados. Já estava na hora.

Certas marcas artesanais – em contraposição à aguardente industrializada, que só fica bem na foto e no paladar quando é para entrar numa caipirinha – têm apurado a produção da forma como a autêntica caninha merece: alambiques de cobre, cana cortada à mão, aquele toque obediente à tradição, a possibilidade de envelhecimento em infinitos tipos de madeira, coisa que só nosso destilado, só ele, se permite fazer (os outros, do uísque ao rum, da tequila ao conhaque, envelhecem em carvalho, e ponto final).
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Para registrar essa exclusiva aliança da cachaça com a madeira é que a Cachaça da Tulha lança todo ano, desde 2007, o que chama de Edição Única. Convoca especialistas e abre a eles a chance de destilar o mais pessoal dos blends, em um ambiente de democrática discussão.

A Edição Única 2011 saiu, entre delícias de torresmos e dadinhos de tapioca, da mesa do Mocotó, o primoroso restaurante de cozinha nordestina da Vila Medeiros, zona norte de São Paulo. Ali se sentaram o chef Rodrigo Oliveira e o cachacier Leandro Batista, ambos do Mocotó; a premiada chef Helena Rizzo, do Maní; a mestre de torra e barista do Coffee Lab, Isabela Raposeiras; e Julia Mercadante, que representou a Tulha, a convite de Veva e Guto Quintella, os proprietários. Assessoraram a degustação os experts Mauricio Maia, Gustavo Hildebrand e Erwin Weimann.

O blend 2011, que começa a ser apresentado às bocas mais exigentes neste início de novembro, ficou assim: 40% de amburana (cinco anos de envelhecimento), 30% de carvalho europeu (quatro anos) e 30% de bálsamo (quatro). Vai custar R$ 90, a garrafa.

Até o rótulo é uma arte. O conceito é do artista plástico e coreógrafo Juarez Fagundes. Ele pintou uma enorme tela, tendo como tema a fazenda onde a Tulha é produzida, em Mococa, divisa de São Paulo com Minas Gerais. O quadro será subdividido em diversos pedaços – cada um deles será um rótulo da Edição Única 2011. Quer dizer, não haverá um rótulo sequer igual ao outro.

A fazenda dos Quintella tem um nome do qual já recende um saboroso aroma de tradição: São José do Mato Seco. O casarão, agora restaurado, é do século 19 e reinava na época sobre vastos hectares de lavoura de café. Veva e Guto lá se instalaram em 1998, adquiriram equipamentos em antigas destilarias de Minas e passaram a cultivar seu hobby segundo o estrito manual de produção das aguardentes de qualidade. Embora a produção seja recente, não por acaso a Tulha já entrou no ranking das 20 melhores cachaças do Brasil da revista Playboy.

Fora as Edições Únicas, safradas, a grife Tulha comparece às prateleiras em duas versões de requinte semelhante: a envelhecida em tonéis de jequitibá e a que repousa em barris de carvalho. Seu preço varia entre R$ 25 e R$ 30, a garrafa.


Comentários

Uma resposta para “Ouro líquido”

  1. Avatar de Hernane Carvalho
    Hernane Carvalho

    Gostaria de saber onde encontrar “OURO” líquido comestível para cachaça.
    Grato,
    HErnane

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