No começo dos anos 1990, um casal de amigos veio passear em Nova York. O marido já havia morado por aqui. Conhecia bem a cidade e resolveu vestir a capa de guia turístico. Um dos primeiros locais em que levou a mulher foi o restaurante Oyster Bar, na Grand Central Station – uma das mais belas estações de trem do mundo. Além da maravilha arquitetônica, entrariam no programa algumas dúzias de ostras, que se vendem frescas e em variedade espantosa no tradicional Oyster.
Chegaram à estação na hora do jantar (horário de brasileiro comer: por volta das 21 horas). De cara, notaram que o salão principal – com os guichês de venda de bilhetes, placares de partidas, além das portas para as plataformas – estava povoado por mendigos. Desceram a rampa que dá para a porta do Oyster Bar. Mal chegaram ver a entrada com a placa “Fechado”. O pavimento havia sido ocupado por uma multidão de sem-tetos. Os que dormiam a sono solto barravam qualquer tentativa de espiar as veneradas mesas do restaurante. Aqueles que ainda não haviam pregado os olhos, imediatamente clamavam pela caridade do casal de turistas.
A Grand Central Station, com seu teto magnífico, com o traçado de constelações – contornos feitos em ouro -, atraía aqueles que o então presidente brasileiro Fernando Collor chamava “descamisados”. Para eles, além da cobertura rica sobre suas cabeças, valia ainda mais o sistema de aquecimento abençoado no inverno. O casal saiu espantado: Um país tão rico e com tantos miseráveis.
Depois disso, já em 1994, veio o império do prefeito Rudy Giuliani. De modo truculento, ele fez desaparecer a multidão de mendigos. Seu projeto era transformar Nova York em uma espécie de Disneylândia para adultos. E assim o fez.
Mas, senhores, trago notícias: Que se preparem aqueles que desejam chupar ostras na Grand Central. Os descamisados voltaram. Ainda não formam barreira intransponível às portas do Oyster Bar, mas já transformaram a praça de alimentação – criada pós-94 no subsolo – em um verdadeiro pátio dos milagres.
O The New York Times, recentemente, disse que o prefeito Mike Bloomberg implantou um método bem-sucedido para acomodar os mendigos. O repórter, imagina-se, não pega condução na Grand Central Station. Eu pego!
Durante a parte da manhã e da tarde, entre os horários de pico, a estação está cheia de trabalhadores variados – especialmente policiais e soldados armados até os dentes. Mas quando o relógio marca 20 horas, os mendigos, às dúzias, invadem a praia.
Meu horror perante essa situação vem da constatação de que muita gente que está pegando os trens para os subúrbios ricos de Nova York acaba de sair dos escritórios de luxo da indústria financeira. Estão indo para mansões, onde Ferraris e SUVs Mercedes estão acomodadas nas garagens aquecidas. Grande parte da culpa pela volta à cena do exército de zumbis (inofensivo e que infelizmente não come os engravatados que encontra) é exatamente dos passageiros que correm para os trens. Foram os que espalharam e chafurdaram no lixo tóxico criado pelas instituições financeiras.
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