Andrés Sanchez, exclusivo:
“Vou tomar conta de tudo na CBF”

Nascido em Limeira há 47 anos, Andrés Sanchez mudou-se ainda garoto para São Paulo, a tempo de seu pai inscrevê-lo como sócio do Corinthians aos 5 anos de idade. Aos 14, ele fugia de casa para ver seu time jogar, assim como fugia da escola, porque estudar tendo de levantar de madrugada para trabalhar na feira era duro. A família – pai e mãe espanhóis – fez o pé-de-meia vendendo laranja e sacolas plásticas. Ele é dono de seis lojas e três postos de gasolina, administrados por um de seus irmãos, para se dedicar ao Corinthians. E, a partir de 2012, ao futebol brasileiro, do qual passa a ser o número 1, como revela nesta entrevista realizada em seu gabinete de presidente do Timão, que será o mais rico do mundo em quatro anos, ele prevê .

Brasileiros – Isso aqui parece a sede de uma multinacional…
Andrés Sanchez – Quatro anos atrás não era assim.

Brasileiros – Você está na presidência do Corinthians há quantos anos?
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A.S. – Quatro… isso aqui mudou muito. Fiz essas reformas todas. Profissionalizei o máximo que consegui. Não profissionalizei mais por que tem uns velhos do conselho que se acham os donos da peteca… Um é dono da peteca, outro da bocha… Hoje, temos gerentes remunerados e eu queria pôr superintendente, um CEO, que agora tá na moda, aqui no meu lugar e eu era o presidente institucional. Vinha aqui resolver os problemas institucionais de um cara executivo. Mas era uma mudança muito drástica, eu até entendi na época, pros 100 anos do Corinthians. Aqui sempre teve diretor amador, apaixonado.

Brasileiros – Agora que você é o novo mandachuva do futebol brasileiro, diga uma coisa, por que o Brasil era o número 1 do mundo e agora está em 6o lugar? Por amadorismo dos cartolas?
A.S. – Porque perdeu a Copa América, perdeu amistosos.

Brasileiros – Mas por que perdeu a Copa América?
A.S. – Porque tem uma geração que ainda não se firmou. Hoje, o rei do futebol seria o Kaká, o Adriano, o Ronaldinho Gaúcho, que estão em baixa. E teve de pôr uma geração nova precipitadamente pra ser o rei. E não dá pra ser rei. Tem que ter experiência pra ser rei.

Brasileiros – Você acha que a Seleção deve ter jogadores que atuam na Europa, esse é o critério?
A.S. – Não. Acho que a maioria dos jogadores tem que ser de brasileiros. Da Europa, só fora de série. Por quê? Porque você consegue treinar mais, trabalhar mais, ter mais conjunto. Se um cara sair de Paris com 10 milhão (sic) de euro para ir jogar no Gabão, ele vai falar: “Vão pra puta que pariu!”. Você vai pegar um “europeu” que tem 40 dias de férias, o moleque tá lá com a família na Europa, e você diz: “Olha, você tem que disputar uma Copa América, tem que ficar concentrado, sem mulher, sem beber, nas tuas férias, porque depois da Copa América você já tem que voltar pra Europa”. Difícil. A cabeça do jogador fala: “E as minhas férias?”.

Brasileiros – Você vai poder mudar isso?
A.S. – Eu vou tentar mexer nisso mais pra frente. No ano que vem não dá pra mexer nada, porque já estão feitas as tabelas. Vou trabalhar muito pra mudar o calendário, não igual ao europeu.

Brasileiros – Por exemplo…
A.S. – Dois mil e dez ficou 40 dias sem ter campeonato no País. Por que hoje tem que ter jogo todo dia? Não dá pra ficar 30 dias sem campeonato? Então, esses 30 dias você estica num ano e encavala com a Seleção Brasileira. Porque não é justo eu estar disputando o título e a Seleção levar dois jogadores meus. Isso tem que acertar. Mas a CBF é arcaica, sou um cara novo lá, com vontade, e vou ter um ano, um ano e meio. Se eu não conseguir, sabe o que faço ou não? Pego o meu chapeuzinho e bonna notte!

Brasileiros – Você é o novo Paulo Machado de Carvalho?
A.S. – A minha entrada na CBF não é só Seleção, como Paulo Machado de Carvalho. É lógico que a Seleção é minha responsabilidade, vou tentar… Tem que mudar, modernizar. O futebol hoje é business, negócio. Pro Corinthians, trabalho de graça porque é minha paixão.

Brasileiros – E mesmo assim não devia…
A.S. – Não devia, mas tudo bem. Só que vou trabalhar de graça pra CBF? Tão de brincadeira! Já falei: meu salário na CBF é muito mais do que preciso e muito menos do tamanho do pepino que eu tô entrando. Agora, Silvio Luiz acha que é vergonha ganhar salário na CBF. Ele quer que eu trabalhe de graça?!

Brasileiros – No clube, inclusive, como presidente não ganha salário, há uma discriminação porque só rico pode ser presidente.
A.S. – É verdade. Fiz um acordo com a família, que as empresas são familiares, eu falei: “Ô, eu preciso de quatro anos fora por que senão tô fodido. Se eu fosse presidente do Corinthians como todos foram, ia ser mais um. Mas chego no Corinthians às oito e meia da manhã e saio dez horas da noite. Senão, me fodem! Não adianta! Todo mundo é dono de um pedaço.

Brasileiros – Na CBF, você vai ter de ir todos os dias?
A.S. – Vou morar no Rio, ficar em cima de tudo, senão não anda. Primeiro, vou ver tudo, sentir. Depois de 90 dias, vamos ver quem é quem.

Brasileiros – É uma surpresa o Rio convidar alguém de São Paulo para um cargo com o poder que você terá.
A.S. – Muito poder. Se eu não tiver carta branca, vou embora! Não vou me sujeitar ao que você quer. Você me convença que o que você quer é bom ou eu te convenço. Agora, imposto não.

Brasileiros – Ricardo Teixeira deu carta branca para você?
A.S. – Deu. Vou sentir quatro, cinco meses depois. O que aconteceu? Vou tomar conta de tudo na CBF. E no COL (Comitê Local da Copa) vai ter alguém que vai tomar conta (Ronaldo, Fenônemo. confirmado alguns dias depois da entrevista). Ricardo Teixeira vai ficar por cima, viajando, fazendo as coisas que ele tem que fazer. Qualquer problema, chamo: “Ô, presidente, como é isso aqui?”. Pronto, acabou.

Brasileiros – Como é sua relação com ele?
A.S. – Muito boa. Ele tem coisas erradas e coisas boas. Eu só acho que tem um limite pra se ficar (sic). Ele, infelizmente, talvez passou desse limite.

Brasileiros – Ele está lá há quantos anos?
A.S. – Vinte e dois, 23, sei lá. Tem que ter um calendário diferente. A Copa é de quatro em quatro anos. Não posso pegar uma Seleção Brasileira hoje, com a Copa daqui a três anos e, depois, não dar continuidade. Tem que ter no mínimo duas, três Copas. O presidente de Confederação pode ficar seis ou sete anos no cargo. Agora, ele tem coisas boas e coisas ruins. Mas provaram? Será que a Justiça brasileira é tão incompetente que não prende o cara? Há dez anos estão falando que ele rouba, que ele é ladrão, que tem esquema e não prendem o cara? Não tiram o cara? Como me chamam de muitas coisas que eu sei que não sou, hoje também respeito o próximo. Eu achava que todos os políticos eram pilantras. Mas tem o pilantra e o não pilantra.

Toca o telefone e, antes de atender, Andrés fala: “Puta que pariu”. Oi! Fora esses oito, os que ele tinha pedido pro Lúcio lá… três… seis… treze… Fala pra ele que tem 13 numeradas pra pegar, fora esses oito aí… Isso, pega com o Caveira… É a última, hein! Depois só se ligarem da Odebrecht. Oi, fala meu irmão… Eu vi que você ficou chateado… Mas olha como são as coisas… O que não dá pra mudar agora, muda em um ano… Daqui um ano se refaz o projeto… Deixa pra mim… Mas eles erraram feio e ficam brigando entre eles… Sei… Você vê como eles são loucos! Não tenho curso nenhum, não sou advogado, mas até eu vi que ele estava falando asneira! Mas vamo que vamo! Tchau!

Brasileiros – Essa é a rotina do presidente do Corinthians dias antes da decisão do campeonato, todo mundo pedindo ingresso?
A.S. – Liga ministro, deputado, senador, desembargador, advogado, médico… Os caras que têm dinheiro pra comprar querem de graça! Esse é o problema do futebol brasileiro! Quem mais pode pagar é quem mais pede.

Brasileiros – O Corinthians tem muito espanhol, muito árabe…
A.S. – O Corinthians tem a maior colônia em todos os segmentos, até na italiana, e tem muita história. Mas a que eu mais acredito é que o Palestra era dos ricos. O Corinthians foi formado por obreiros, por peões. Todo italiano pobre, todo espanhol pobre ia tudo pro Corinthians. Tanto é que foi fundado por seis caras, um era sapateiro. É inexplicável o Corinthians começar como começou e se tornar o que se tornou. Não tinha uma bandeira. O Palestra tinha a bandeira da Itália, o São Paulo, a bandeira da elite, porque era o Paulistano… O Germânia tinha os alemães. O Corinthians começou do nado, do engraxate.

Brasileiros – Mais pra frente o Corinthians virou o time dos nordestinos.
A.S. – O nordestino quando vinha pra São Paulo vinha como imigrante, pra tentar a vida e, automaticamente, se identificava com o time do povo. Um time sofrido, time de maloqueiro… Sofredor e maloqueiro, graças a Deus.

Brasileiros – Você estudou até que ano?
A.S. – Até a oitava série, antigo ginásio. Eu não gostava muito de estudo e trabalhava de madrugada. Tudo isso me ajudou a não estudar. Mas hoje me faz muita falta o estudo. Lógico que a experiência de vida e de mercado ensinou muitas coisas, mas chegar onde cheguei, a presidência do Corinthians por exemplo, sindicalista que eu fui muitos anos…

Brasileiros – Sindicalista?
A.S. – A família sempre foi de sindicalistas. Um irmão meu começou no sindicalismo com 16 anos na Espanha. Meu primo começou na comissão de obreiros internacional. Todos os PT montados na Europa foi ele que montou (sic). É o Tadeu Oller.

Brasileiros – Em que época você conheceu o Lula?
A.S. – Em 1983, por intermédio desse primo, que conhecia todo mundo. Era bem no comecinho… Eu dava dinheiro pra comprar bandeira, pra isso, pra aquilo.

Brasileiros – De que sindicato você era?
A.S. – Associação dos Cotistas do Ceasa, do Brasil e de Campinas. Esse primo morava no Brasil quando começou esse negócio de perseguir comunistas. Por bem, ele achou melhor ir pra Espanha, porque senão ele seria preso ou morto.

Brasileiros – Dirigentes do futebol brasileiro são chamados, geralmente, cartolas. Mas a definição não combina com você.
A.S. – De cartola ou ladrão. A opção vai de cada um. Eu não sou doutor e tive uma rejeição grande dentro do clube, isso por não ter curso universitário, não falar bonito.

Brasileiros – Você sofreu preconceito dentro do Corinthians ou fora, com outros dirigentes?
A.S. – Até hoje sofro dentro do Corinthians… Com a maioria da imprensa… Isso é a pior coisa que existe no futebol brasileiro. A imprensa esportiva no Brasil é uma vergonha! Parte da imprensa, quero dizer. Ela julga sem saber quem você é. Você faz uma bela administração e não ganha título, é incompetente. Você faz uma péssima administração e ganha um título, vira herói. E sempre insinuam coisas, que pessoas próximas ao presidente… É uma coisa muito pesada. Digo: se a parte esportiva fosse pra política, talvez os políticos fossem diferentes. Porque é sempre pejorativo. A imprensa política vê um deputado, um ministro, um presidente da República fazer coisa errada, mas ela também vê as coisas boas. No futebol, muitos dos jornalistas que vivem do futebol colocam o esporte lá embaixo. É ridículo. Teve um jogo Corinthians e Palmeiras que teve um pênalti, que não foi pênalti. A televisão mostrou dez vezes isso. O jornalista tem que falar “Não foi pênalti”, e acabou. Não ficar dizendo que é esquema do Corinthians, esquema não sei de quem. Um garoto de seis, sete anos, que não tem muita informação, vai pensar: “Vou gostar de futebol? Eles roubam!”.

Brasileiros – Mas diz uma coisa…
A.S. – O futebol, você tem que entender – e o político, tirando o Lula, que soube pegar e não totalmente -, é a melhor forma de se falar com a população. Pego esse jornal, a Folha de S. Paulo, não tem um filho de uma puta neste País que não leia a parte esportiva! Agora, ler política?

Brasileiros – Você que convive com muita gente, com cartolas, políticos, jornalistas. As pessoas confundem muito político, cartola, imprensa. Qual é o pior?
A.S. – Uma parte da imprensa, que trabalha muito contra o futebol. Muito só no pejorativo, na crítica pesada e nas insinuações. O cara que me entrevistou metendo o pau em mim foi preso um ano e quatro meses por estupro de uma criança de 12 anos. Outro tem mais de 78 processos e tá em prisão domiciliar há dois anos, que é o blog do Paulinho… Um jornalista foi pedir duas vezes emprego pra ele na Folha. Olha aqui: eu sou presidente do Corinthians. Tenho qualquer informação. Onde você trabalha tem um corintiano e, dependendo do que você falar, ele me fala. Liga aqui e me conta. É inacreditável.

Brasileiros – Mas seu cargo, no fundo, é um cargo político e você é tratado, pela imprensa, como político.
A.S. – É um cargo político… Hoje, a imprensa mudou muito comigo. Mas fiquei dois anos, dois anos e meio massacrado.

Brasileiros – Essa ideia de que todo dirigente, por exemplo, é ladrão…
A.S. – Isso não é verdade. O dirigente de futebol é o reflexo da sociedade: tem os bons, os mais ou menos e os ruins. Como tem na polícia, no jornalismo.

Brasileiros – Qual é o pior dirigente de futebol que você conhece? É o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio? Vocês têm uma guerra. Como isso começou?
A.S. – Juvenal é um ditador de quinta categoria. Ele se acha acima do bem e do mal. Todos nós, dirigentes, temos que defender os nossos clubes, isso é óbvio. Mas a rua tem que ter duas mão (sic). Pro bem do futebol. Não é porque o Corinthians tem que ganhar tudo que eu tenho que acabar com ele. Tem hora que tenho que sorrir e tem hora que tenho que chorar. O Juvenal pensa só nele.

Brasileiros – Qual foi o primeiro capítulo da briga de vocês?
A.S. – Ganhei a eleição e ia toda semana almoçar no Morumbi. Achava, e era provado, que o São Paulo tinha uma administração mais adiantada do que a dos outros clubes. Por mil razões, por ditaduras… O São Paulo sempre foi o primeiro a fazer alternância de poder. O Corinthians, em 53 anos, teve três, quatro presidentes. Só. O São Paulo, a cada quatro, cinco anos mudava de presidente. Agora, o ditador taí e quer ficar ad eternum. Eu ia lá toda sexta-feira. Um dia, o promotor falou: “Andrés, no próximo jogo com o São Paulo, eles vão te dar 10% dos ingressos”. Isso não existe. Eu já tinha mandado carta pro São Paulo, dizendo que ia jogar a Copa do Brasil no Morumbi, em 2009. Juvenal tinha que conversar comigo. Mas nunca falou nada. Liguei nove vezes pra ele, não atendeu nenhuma delas. Aí, começou a trabalhar contra a minha eleição em 2009. Peguei o mandato tampão do Dualib, mas quando tava em campanha, percebi que muita gente do São Paulo trabalhou contra a minha eleição, pra mim (sic) não ser eleito presidente do Corinthians. Quando venci, a primeira coisa que falei, antes de agradecer todo muno, foi que, enquanto eu for presidente, o Corinthians nunca mais vai jogar no Morumbi. Pra variar, deram risada, tiraram sarro, disseram que isso era impossível. E tá provado até hoje que não joga. Por consequência, o Palmeiras, o Santos, outros times, não entendi o porquê, não jogaram mais no Morumbi e ninguém tá jogando. Não fiz campanha, só disse que o Corinthians não jogava mais lá. E não vai jogar.

Brasileiros – E quando o Juvenal não for mais o presidente do São Paulo?
A.S. – Não joga! Já tá até aprovado no Conselho. O Corinthians não joga mais lá. Primeiro, que vai ter o estádio dele. Mas mesmo assim não jogaria nunca mais no Morumbi.

Brasileiros – No dia em que deixar a presidência, você vai para a arquibancada?
A.S. – Vou.

Brasileiros – Qual é a torcida uniformizada do teu coração?
A.S. – Pavilhão 9. Mas frequento muito a Gaviões da Fiel. Eu era fundador monetário da Pavilhão 9. Hoje, no Pacaembu, vira e mexe eu assisto jogo da arquibancada. Tanto é que contra o Uruguai… Isso é que machuca na imprensa. Eu estava assistindo um jogo da Libertadores no Uruguai. Nós convidamos uns clientes da Hypermarcas, que era nosso patrocinador, e eles levaram as esposas. Não cabia todo mundo no camarote. Então, eu e alguns diretores fomos ver da arquibanca. Tava chovendo muito naquele dia. E eu fumo… pulsivamente (sic).

Brasileiros – Quantos maços por dia?
A.S. – Dois. Fácil! Em dia de jogo, não sei. Aí, tava chovendo. Eu acendia o cigarro, dava três, quatro tragadas, molhava, jogava fora e acendia outro. Os caras puseram em blog que eu tava fumando maconha!

Brasileiros – Será ignorância?
A.S. – É má intenção. É a mesma coisa que proibir bebida dentro do estádio, beber cerveja, e entra cocaína, maconha. As diferenças que existem nas leis do País são inexplicáveis. Não posso pôr Brahma na camisa do Corinthians, não posso pôr, sei lá, Doril, Melhoral. Mas nas placas do estádio, no carnaval, nos rodeios só tem isso.

Brasileiros – Você é a favor de bebida no estádio?
A.S. – Pelo amor de Deus! Se posso beber cerveja e uísque na Fórmula 1, no rodeio, no show… Tô incentivando os ambulantes a vender em volta do estádio!

Brasileiros – Mas na Copa vai poder.
A.S. – Pior ainda! Por que não posso vender no meu jogo e na Copa sou obrigado a liberar? Então, somos o quê? Segunda classe?

Brasileiros – A lei geral da Copa está sendo discutida…
A.S. – Acho que vai aprovar geral. Mas, como brasileiro, vou me sentir um torcedor de segunda classe!

Brasileiros – De repente, depois da Copa vai poder…
A.S. – Ah é, depois da Copa vai ficar. A Copa, o jogo de futebol, pra nós, não vale nada. Um jogo a mais, um jogo a menos não vai mudar a hora do Brasil. O bom da Copa do Mundo é o legado que vai deixar. Então, a população tem que brigar pelo legado, pelo estádio, estrada, aeroporto, ponte, hospital, hotel. Se a Argentina vai jogar aqui ou ali nós tamo (sic) cagando e andando!

Brasileiros – Washington Olivetto disse: “Melhor que ganhar uma Copa do Mundo é ganhar a Copa do Mundo”.
A.S. – Pega a Zona Leste. Mais de 30 anos o poder público não investe nada lá. É terceira classe. O estádio lá é uma cereja.

Brasileiros – Aquilo vai ser uma Brasília.
A.S. – Maior que Brasília, são cinco milhões de habitantes, e vai mudar a cidade toda. Vai ser o Morumbi melhorado, desde que venha de baixo pra cima. Os políticos sempre pegam de cima pra baixo. Tem que ir lá, discutir com a comunidade.

Brasileiros – Como é que o presidente Lula entrou nessa história do Itaquerão?
A.S. – O papel dele não é como presidente da República. É como conselheiro e corintiano.

Brasileiros – Qual foi a primeira conversa que vocês tiveram?
A.S. – Se eu contar, eu e ele tamo morto (risos). Nem no pau-de-arara (risos).

Brasileiros – Ah, conta…
A.S. – Ele, como conselheiro, corintiano e amigo meu, deu muitos palpites, conselhos, muitas portas ele fez eu ter acesso pra nós fazer (sic) o estádio do Corinthians, pra 48 mil pessoas, sem Copa do Mundo! Um estádio barato para os loucos.

Brasileiros – Barato para os loucos?
A.S. – Para o bando de loucos. Para os corintianos. Depois, por uma necessidade da cidade de São Paulo, se tornou para a Copa do Mundo. Tivemos que mudar o projeto pra ser a abertura da Copa.

Brasileiros – Mas ia ter de qualquer jeito!
A.S. – O estádio do Corinthians? Já estava bem mais adiantado. A gente estava trabalhando nele desde 2009. Mas assinamos o pré-contrato com a Odebrecht, em setembro de 2010.

Brasileiros – A polêmica: para que fazer um novo estádio se já tem o Morumbi pronto?
A.S. – Pronto pra quê?

Brasileiros – A Copa.
A.S. – Um dia, a história vai contar a verdade sobre o estádio.

Brasileiros – A Copa também é um evento socioeconômico. O bairro do Morumbi não precisa de ajuda do Estado?
A.S. – Não é só esse o problema. Um estádio com 50 anos, feito de maneira como era antigamente, é inadmissível fazer um jogo de futebol! Você vai no camarote do Morumbi e não vê o jogo porque tem viga, muro. Isso porque foi feito como antigamente, um cimentão pra você ver o jogo na base do bumba meu boi. O futebol não aceita mais isso. O Morumbi ia sair muito mais caro pra tentar se readaptar a uma Copa.

Brasileiros – O Pacaembu sempre foi o estádio do coração dos corintianos e o Corinthians chegou a falar em comodato para mandar os jogos lá. Por que não andou aquilo?
A.S. – Não andou porque a Viva Pacaembu, dos riquinhos, tem que bancar o Pacaembu quando não tiver mais jogo lá! Você sabia que o Pacaembu tem 22 mil sócios?

Brasileiros – E ninguém paga nada, é um clube municipal.
A.S. – E não é sócio da Vila dos Remédios nem de Itaquera, é sócio de Higienópolis. Que vão lá tomar sol, jogar bola, usar a piscina. Sou da opinião e tô bancando que a Associação Viva Pacaembu é que tem que bancar a manutenção do Pacaembu quando parar de ter futebol. Eu não vou querer pagar dos impostos que eu pago pra ajudar o Pacaembu, como eles não querem.

Brasileiros – Dizem que você tem o toque de Midas…
A.S. – O que é que é isso?

Brasileiros – Onde você coloca a mão vira ouro.
A.S. – Quem me dera! Nunca ouvi isso. Acho que isso é o exemplo do Corinthians. Nos meus quatro anos, o Corinthians deu um salto financeiro muito grande!

Brasileiros – Dá os números.
A.S. – Quando peguei o Corinthians, em 2007, ele faturava 60 milhões por ano. Vai fechar 2011 com 300 e pouco.

Brasileiros – A parte da televisão quanto é?
A.S. – Este ano são 32 milhão (sic). A grande mudança vai ser a partir do ano que vem. Daí vai de 80 a 120.

Brasileiros – O que fez essa diferença?
A.S. – A administração.

Brasileiros – Compra e venda de jogador?
A.S. – É tudo junto.

Brasileiros – Aumentou o número de sócios? Por que aumentou tanto assim o faturamento?
A.S. – O maior faturamento do Corinthians é bilheteria e patrocínio. A partir do ano que vem, vai ser da televisão.

Brasileiros – A televisão, no caso a Globo, não acaba tendo uma espécie de ditadurazinha no futebol?
A.S. – Por quê?

Brasileiros – Define o horário.
A.S. – Ela tá pagando! Ela não quer saber quem vai ao estádio, quer saber quem liga a televisão!

Brasileiros – Como foi aquela história que você falou sobre a Globo ter gangster? Essa foi o Juvenal quem contou…
A.S. – Ele e um vagabundo aí. Há dois anos, eu tava numa reunião do Clube dos 13, cobrando que o Clube dos 13 não tinha só que brigar pela televisão. Tinha que brigar pelos direitos dos atletas, horário de treinamento, horário de jogo, por mil razões que o Clube dos 13 tinha que brigar. O jogador trabalha, no máximo, 20 anos. Pô, ele não se aposenta com 20 anos. Depois, ele tem que fazer outra coisa pra continuar pagando INSS. Então, tem que ter leis diferentes. O jogador trabalha, no máximo, três horas por dia e concentra, às vezes dois, três dias antes do jogo. Só trabalha depois das 10 da noite e no final de semana. Um monte de coisa que tinham que ser acertadas. E o Clube dos 13 só queria saber de festa e negociação de TV. E eu falava: “Muda isso, trabalha nisso, senão vou romper com essa porra! Vamo rever essa merda aí”. Passou um tempo, eles sentiram a pressão que tava tendo e anteciparam uma eleição que ia ter no Clube dos 13.

Brasileiros – E…
A.S. – Aí, falei pro Fábio Koff: “Você tá fazendo a coisa errada, eu não concordo. Vou apoiar o outro candidato”. E apoiei. Quando eles ganharam a eleição, falei: “Perfeitamente, vocês ganharam a eleição, mas não vão levar, o Corinthians não vai mais fazer parte do Clube dos 13. Vou negociar sozinho”. Foi quando rompi com o Clube dos 13. E negociei sozinho. Indiretamente, todos os clubes negociaram sozinho. Não tenho nada contra Record, Rede TV!. Só quis o bem do Corinthians. E a maneira de ver o bem do meu clube é negociar direto. Fiquei três horas aqui com Raposo (diretor da TV Record). Esse filho de uma puta não me fez uma proposta. Depois de um mês, ele vai no cartório e publica: “100 milhões pro Corinthians”. Ele não queria futebol, queria tumulto.

Brasileiros – Quanto você falou que vai arrecadar só com a TV ano que vem?
A.S. – De 80 a 120 milhões. Daqui a um ano e meio, dois anos, o futebol brasileiro, que era uma caixa-preta, hoje é cinza, e muito rapidamente vai se tornar branca pelas mudanças que estão tendo, deve ser o segundo futebol mais rico do mundo. Só vai perder para a Inglaterra.

Brasileiros – Você ainda não falou sobre a questão da Globo e dos gangsters…
A.S. – Não quis dizer que a Globo é de gangsters. Era uma reunião fechada dentro da reunião do Clube dos 13… Eu disse que a negociação do jeito que é, como tem de ser, a Globo querendo pagar menos e nós querendo mais, é negociação de gangster! Não sei quanto vale o futebol, não tenho parâmetros. Quero 1 bilhão. A Globo quer pagar 1 milhão. Eu preciso vender, ela comprar. É negociação de gangster. Mas daí a dizer que eu chamei a Globo de gangster…

Brasileiros – Vamos comparar arrecadações. O Barcelona arrecada quanto? Ganha dinheiro de onde?
A.S. – Televisão! A receita lá é televisão, patrocínio e ingressos. Não é venda de carnê, é venda de sócio, que nós montamos faz dois anos, o sócio fiel torcedor que já tem 72 mil. O Barcelona tem cento e poucos mil. Só que é diferente: eu cobro US$ 300 dólares e eles, US$ 1.000. Por quê? Porque eles têm estádio decente. O dia que eu tiver um estádio decente, os preços são outros! Hoje, uma numerada vip no Pacaembu, qualquer jogo do Corinthians, é US$ 100. Pro cara fazer xixi no banheiro químico! Eu sou estelionatário! Isso ninguém fala. A violência no futebol só vai acabar quando tiver estádio e preço decente. Você pode pôr polícia, Ministério Público que não vai acabar a violência. Primeiro que a violência é um reflexo da sociedade. O Mackenzie e a PUC combinam de brigar jiu-jitsu na frente do Pacaembu e ninguém fecha a faculdade. Agora, querem prender torcedor de futebol que dá um tapa em outro cara! Então, o futebol é a melhor comunicação com a população, só que os políticos não sabem usar!

Brasileiros – Ronaldo, quando chegou ao Corinthians, parecia uma jogada de marketing.
A.S. – Eu sempre falava: não é marketing, é jogador de futebol. Mas o marketing vem acoplado.

Brasileiros – Mas a decisão de procurá-lo foi sua, pessoal. Você acreditava que ele ia jogar o que jogou?
A.S. – Lógico! Quando os médicos deram o ok. Tudo o mais dependia da vontade dele. Eu não tinha do que duvidar.

Brasileiros – Esse foi seu maior acerto?
A.S. – Não, o maior acerto foi apoiar a mudança do estatuto do Corinthians. O Corinthians nunca mais vai ter dono.

Brasileiros – E o maior erro? (Silêncio)
A.S. – Tem um monte… Meu maior erro foi se tornar (sic) presidente do Corinthians.

Brasileiros – Por quê?
A.S. – Porque é um preço pessoal muito caro. Hoje, sinto o que os negros, o que as pessoas discriminadas sentem. Nunca acreditei em preconceito. Tive amigos com problemas físicos, negros, homossexuais, sempre me relacionei com todos. Mas senti na pele o que é ser discriminado.

Brasileiros – Sobrou para sua família também?
A.S. – Lógico! Os filhos principalmente. Você perde um jogo e no dia seguinte, na escola, as crianças ouvem: “Teu pai é uma merda, hein? Um incompetente. Fica roubando e não faz um time de futebol!”. Como se eu jogasse futebol!

Brasileiros – Você tem quantos filhos?
A.S. – Um garoto de 18 anos e uma menina de 15. Minha filha, quando tinha 12, ficou uma semana sem ir pra escola quando perdemos a Copa do Brasil, em 2008. Hoje não, tá mais velha, foi se conscientizando. Agora, quando perde, tem o fracasso do time, como foi na Libertadores. Mas aí ela foi pra escola com a camisa do Corinthians!

Brasileiros – Ainda bem que ela não torce para o Palmeiras (risos). Mas diz: Ronaldo deu lucro ou prejuízo?
A.S. – Ronaldo, além da parte técnica, deu muito dinheiro. Tem um Corinthians antes e um depois do Ronaldo.

Brasileiros – Por que o Adriano não deu certo?
A.S. – Quem falou que não deu certo? Ele teve uma fratura, que é uma das piores que um atleta pode ter, que é o tendão de Aquiles. Ele tem um porte físico pesado, que demora muito mais, e também se ajuda menos, isso tem que ficar claro. Não escondo nada! Falei, quando viram o Adriano tomando chope na xícara: “Meu amigo, você quer que eu faça o quê?”. Quisesse eu que ele tomasse uísque e não chope, que engorda mais. Aí dizem: “Quer dizer que você tá liberando?”. Ele pode encher a cara, fazer o que quiser, não sou babá de jogador! Desde que ele cumpra o horário dele, treine e jogue.

Brasileiros – E essa figura fantasmagórica do Kia? O que o Kia tem com o Corinthians?
A.S. – Ele tem jogador em quase todo time brasileiro, menos no Corinthians. Se tiver, vão querer me prender! Kia veio pro Brasil. Se o dinheiro dele é roubado, não é roubado, os órgãos competentes têm que saber. Mas o dinheiro dele veio pelo Banco Central, fez câmbio no Bradesco e entrou no Corinthians US$ 32 milhões em 11 meses. Que crime ele cometeu?

Brasileiros – Hoje, ele não tem mais nada?
A.S. – Mais nada. Teve em 2007. Que crime ele cometeu? E é tido como bandido no Brasil pela imprensa esportiva. A Justiça foi lá, botou a zero e não sei quando vai acabar isso.

Brasileiros – Mas ele tinha negócios com Boris Berezovsky, bilionário russo do petróleo, que teve de fugir da Rússia.
A.S. – Não sei. Quem provou? Boris Berezovsky tem negócios com quem? Ele veio pro Brasil, pô! Eu não vou falar quem ele encontrou. Não sou investigador. Mas se sabe.

Brasileiros – A parceria da Hicks Muse era considerada suspeita.
A.S. – O dinheiro vinha de uma caixa postal das Ilhas Cayman, mas era legal.

Brasileiros – Quer dizer que do ponto de vista da imprensa…
A.S. – É a política. Quem apoiava a MSI? O baixo clero. Quem apoiava a Hicks Muse? A elite, os intocáveis, os doutores. Então, é interpretação. Não vou dizer que o Kia é santo. O Corinthians ele nunca prejudicou. Ele pôs dinheiro. Nunca levou um tostão do Brasil, nunca fez uma remessa de dinheiro do Brasil pra fora. Isso tá provado na Polícia Federal.

Brasileiros – Qual foi o balanço final?
A.S. – Ele se fodeu! Como se fodeu a Hicks, o Banco Excel, a Parmalat. Por quê? Porque os dirigentes não sabem lidar com a vaidade de um cara vir aqui, pôr o dinheiro e aparecer mais que você, que é o presidente. Aí, começam as brigas.

Brasileiros – A Unimed teve problema.
A.S. – Como é que pode a Unimed pagar ao médico R$ 10 por consulta e o cara gastar 100 milhões por ano com o Fluminense? Tem alguma coisa errada.

Brasileiros – Quer dizer que essa fórmula do investidor não vai funcionar no futebol brasileiro?
A.S. – Funciona. No Corinthians, tá funcionando. Daqui a três, quatro anos, o Corinthians vai ser o time mais rico e mais estruturado do mundo, mais que o Real Madrid, Barcelona, que tudo. É só não fazerem merda nas próximas administrações.

Brasileiros – Por quê?
A.S. – Porque o estádio vai estar pronto, o patrocínio crescendo, a administração tá certinha. Não vai ter ninguém, pode escrever. Em quatro anos, é o time mais rico do mundo. Hoje, tenho o quarto maior patrocínio de camisa do mundo! A Hypermarcas. Cinquenta milhões. Perco pro Barcelona, Manchester, Bayern de Munique. Quando eu peguei o Corinthians, em 2007, ganhava R$ 7 milhões por ano.

Brasileiros – Foi você que…
A.S. – Um cara incompetente, sem estudo, que não se formou, como o Sócrates escreveu que ele sabia que eu não tinha me formado nas melhores escolas da Europa, mas, pelo menos, tinha estudado em escola pública no Brasil.

Brasileiros – Você vai passar o cargo de presidente do Corinthians no dia 15 de fevereiro.
A.S. – Não, em 15 de dezembro.

Brasileiros – Qual vai ser seu papel no Corinthians depois?
A.S. – Sou conselheiro vitalício. Se a situação ganhar, que eu espero que ganhe, minha participação vai ser maior. Se for a oposição, sou um conselheiro simplesmente. Mas se o Corinthians não tiver outras pessoas com capacidade pra dirigir, é melhor fechar o clube.

Brasileiros – Quer dizer que você não vai se afastar da administração?
A.S. – Sou conselheiro.

Brasileiros – Vai cuidar da obra do estádio?
A.S. – Não.

Brasileiros – A Copa é um empreendimento, um investimento enorme. Como passar para a opinião pública uma ideia de transparência?
A.S. – Desisti. Entre aspas, a população corintiana quer que se dane: ela quer o estádio. O são-paulino acha que roubam. O jornalista banca que é dinheiro público. E assim vamos tocando. O único estádio neste País que vai ter dinheiro privado é o Corinthians. O meu estádio é privado, é dinheiro do Corinthians. Copa do Mundo não é problema meu, é problema de quem quer Copa do Mundo! Não vou fazer cinco mil lugares com ar condicionado e vidro antibala pra por jornalista sentado lá. Não tenho que fazer um camarote porque vai vir 22 chefes de Estado. Se o Lula voltar a ser presidente, talvez ele vá ver um jogo do Corinthians. Ponto. O Corinthians é o único estádio neste país pra Copa do Mundo que vai ter só dinheiro privado!

Brasileiros – Quanto vai custar?
A.S. – Oitocentos milhões. O Corinthians vai pegar 400 milhões no BNDES, Banco do Brasil, no Bradesco ou no Itaú e vai pagar em dez anos, que é o que os bancos dão. Três anos de carência e dez anos pra pagar com a receita do clube. Aí precisa de mais 400 e entra a isenção fiscal, que é a lei da Marta Suplicy, de 2007. Essa lei não foi feita pro Corinthians, ela já existia, e diz que qualquer empreendimento na Zona Leste você credita até 60% do imposto.

Brasileiros – É desconto de imposto? Incentivo fiscal?
A.S. – Incentivo fiscal. Ninguém me deu um cheque de 400 milhões. Me deram documento. Teve que passar na Câmara Municipal porque o prefeito quis se proteger mais. Tem que ser abertura de Copa, tem que ter a festa da Copa… Aí eu posso usar. Tenho um documento que, se a Copa do Mundo vai aberta em São Paulo, vai arrecadar 1, 5 bi, 2 bi. Eu vou descontar 400 do que a cidade vai arrecadar. Então, a cidade fez um investimento com documento. Falam que com esse dinheiro podia fazer não sei quantas creches. Isso é babaquice de pessoas mal-intencionadas. Vai fazer creche quando entrar o dinheiro da Copa do Mundo! Aí, tem que pressionar o governo pra fazer creche, escola. Eu só tenho incentivo municipal. Agora, vem uma multinacional que fala que vai dar 1.500 empregos e dá 200, mas o ICMS é incentivado, o IPI incentivado, dá terreno, obra, tudo. Por que uma empresa brasileira não pode fazer? Por que o Corinthians tem que ser tão massacrado?

Brasileiros – O que você vai fazer depois com esse estádio? Vai ter show lá?
A.S. – Jogos do Corinthians. Fazer a maior arrecadação do mundo. O Corinthians vai fazer uma arena de show aqui (mostra o campo de futebol do Parque São Jorge). Vai tirar essa merda toda e construir uma arena pra 25 mil pessoas.

Brasileiros – Vai derrubar tudo aqui no Parque São Jorge?
A.S. – Tudo e fazer uma arena pra show, evento, casamento, o que quiser. Mas o estádio do Corinthians foi projetado pra jogo de futebol e receita. Então, onde estão os camarotes tem uma área sem viga de 10 mil m2 que eu vou fazer show, casamento, convenção, o que eu quiser. Não só jogo de futebol.

Brasileiros – Para quando é essa arena?
A.S. – Tô procurando parceiros. Acho que assina já no ano que vem. Já era pra ter feito, é que deu uns probleminhas. Tudo neste País é relacionamento. É confiança.

Brasileiros – Você quer ser político?
A.S. – Nunca vou entrar na política! Nem vereador, deputado, governador. Acho que o Brasil tá mudando politicamente, tá melhorando, mas vai levar alguns anos pra melhorar. O povo tem que cobrar mais, o povo é acomodado em muitas coisas. Não tem cabimento ter meia-entrada em futebol e não ter meia-janta! Meio-almoço! O que é mais importante: um jogo de futebol ou comer? Então, você que tem mais de 60 anos, chega lá no restaurante, e pergunta quanto é a pizza? 40? Eu sou idoso, só pago 20.

Brasileiros – Boa ideia!
A.S. – Mesma coisa pra estudante. Por que num jogo de futebol sou obrigado a dar meia-entrada? Por que os deputados ficam dias e dias discutindo a meia-entrada e não discutem o almoço, a janta? Por que a escola não paga imposto? Privatizamos toda a educação brasileira de 40 anos pra cá. Porra! E ela não paga imposto?! Tinha que ser tabelado, como é o arroz, o feijão, a gasolina. Eu pago IPVA, pago seguro obrigatório e tenho que ter seguro particular? Pago INSS, pago não sei que, e tenho que pagar um plano de saúde?! O plano de saúde ficando milionário… Alguma coisa não tá encaixada.

Brasileiros – Você tira essas ideias das suas conversas com o Lula?
A.S. – O Lula, coitado, não pôde mudar tudo o que pensava.

Brasileiros – Você esteve com ele recentemente?
A.S. – Eu falo com o Lula duas vezes por semana. Ele é parceiro. Com todos os erros dele, todos os defeitos, vai levar mais uns 200 anos pra ter um Lula no Brasil. Com todas as dificuldades dele. E erros. Ele colocou 30, 40 milhões de pessoas pra consumir. Se ele tivesse feito o maior rolo do mundo, ele já é um privilegiado. O mais importante pra qualquer planeta é o ser humano. Pra mim, ele já é meu ídolo.

Brasileiros – Você, pelo jeito, se identifica muito com ele.
A.S. – Eu tenho muito o espelho dele, até na parte administrativa. A parte de lidar com as pessoas. Você vê que as pessoas chegam aqui, me chama de ladrão, filho da puta e tal e eu: “Calma, não é assim, vamo lá, pa, pa, pa…”. Não sou de brigar, não sou de confronto. Em confronto todo mundo perde.

Brasileiros – Você é um negociador?
A.S. – Nato…

Brasileiros – Como o Lula?
A.S. – Paciência… Tem hora que o sangue vem aqui e aí volta. A briga de um dirigente é a paixão e a razão. Eu perdi a Libertadores drasticamente. Todo dia no jornal que meu treinador tinha que ser mandado embora, que jogador era vagabundo. Se eu mando embora o treinador, e dois jogadores, o Corinthians tava em crise até hoje! Mas a paixão falava que eu tinha que tomar essa atitude! O torcedor vinha aqui e falava: “Porra, você tem que…”. A Gaviões faz o cheque? Não. Pra mim (sic) mandar o treinador embora custa 2 milhão (sic), jogador custa 3. Me faz o cheque, porra! E depois me dá o nome que eu contrato.

Brasileiros – Você discute direto com eles?
A.S. – Atendo todo mundo aqui.

Brasileiros – Por que treinador dura pouco no Brasil?
A.S. – Por causa da paixão. Você sabe quanto eu tive que aguentar aqui do Tite? Vinha conselheiro, diretor, amigo, torcedor: “Porra, como é que pode você manter o treinador incompetente?”. Imagina o que o corintiano que frequenta aqui todo dia fala pra mim! “Você é louco pra ter esse cara!” Eu tô todo dia no futebol. Viajo todos os jogos, acompanho tudo, ele não tá errando. Errou, errou. Todo mundo erra.

Brasileiros – A torcida vaia o time, né?
A.S. – Do Corinthians, não. O corintiano, depois do jogo, pode quebrar tudo. Mas durante os 90 minutos tomando de 4 x 0 apoia. Agora, acabou o jogo, perdeu, vai lá bate em mim, quebra tudo, bate em treinador, jogador.

Brasileiros – Quem é o craque do Corinthians?
A.S. – Temos Chicão, um zagueiro bom. Alex é um craque, Seleção Brasileira. Craque não, mas excelente jogador. Tem o Paulinho, com uns 50 time (sic) atrás dele, Cheik, Liedson, todos bons. Temos o Adriano, que não conseguiu jogar.

Brasileiros – E são aplicados.
A.S. – E o que é que isso? É comando! É eles saberem que Andrés, o presidente, na hora difícil vai estar junto. Eu cobrei meu time publicamente. Perguntaram: “Como é que esse time perdeu?”. Falei: “Pergunta pra eles se eles quer (sic) ser campeão”. Pra mim, não. Eu tô pagando em dia. Tá de brincadeira. Eu tenho uma puta relação com meus atletas! Acho que tem que ser assim. Apesar de eles ganharem milhões, são trabalhadores normais. E eu, pela minha histórica de vida, tenho que estar… Pô, os funcionários da obra vão assistir ao jogo do Corinthians! Dou ingresso, pego o ônibus, e levo os trabalhadores pra ver.

Brasileiros – Você vai todo dia lá?
A.S. – Não, duas vezes por semana. Final do ano, vamos pegar todo mundo, fazer um churrasco, um jogo de futebol. Tem que ter relação humana com funcionários. Seja ele de milhões ou de centavos. Tenho 700 funcionários, são da Odebrecht, mas é o Corinthians! Eles sabem que a Odebrecht é de passagem. O Corinthians vai ficar. Então, eu tenho que ter relação do clube com o funcionário. Eles não ganham bem, mas têm toda a segurança que eles podem ter na vida. Todo mundo é da Zona Leste. Aqui é pra Zona Leste! Senão, não tem incentivo pra estádio na Zona Leste. Chamei CUT, CGT, essas merdas toda de sindicato e falei: “Cadê o banco de dados? Me dá todo mundo da Zona Leste”. Você acha que é fácil fazer isso com a Odebrecht? Mas eu tenho costa quente (risos). Isso é óbvio, senão daqui a três meses o que eles vão fazer? Eles querem que a Copa do Mundo e o estádio se fodam! “Quero aumento!”.

Brasileiros – Tá todo mundo parando por aí.
A.S. – Você vai ver se no Corinthians vai parar. Não para porque tem relacionamento, porra. Quando eu e Lula fomos lá, a assessoria encheu o saco, mas falei: “Presidente, temos que ver os caras”. Nós descemos, eu fiquei pra trás, deixei ele com os funcionários. Você sabe o que significa o funcionário de uma obra, um negão dar um abraço no Lula? Pô! Eu levei o Ronaldo para jogar com os caras. Isso não tem preço!

Brasileiros – Você é o Lula do futebol!
A.S. – Sou petista, todo mundo sabe. Quando iam votar a isenção do estádio, fui falar com os políticos na Câmara Municipal. Lá é uma vaidade, uma briga filha da puta. Então, falaram: “Andrés, você só fica com o presidente. Se for pros gabinetes, vai dar ciumeira”. Aí, eu falei pro presidente da Câmara: “Eu vou no PT porque eu sou petista”. E fui lá. Tinha dez, doze deputados, vereador… Na discussão, um vereador falou: “Vou votar contra”. E eu: “Qual o motivo? A Marta ligou pra vocês? O Lula? Não sei quem ligou?”. Não, ninguém tinha ligado. Eu falei: “Acho que vocês são independentes, autônomos”. Não fiz pressão nenhuma. Agora, Chico Macena, você tá fodido! Vou brigar pra você não ter dinheiro pra sua campanha! Por que você aprovou a isenção fiscal da Johnson&Johnson? Da Fiat? E não vai aprovar do Corinthians porque é o Corinthians? Se tem uma linha “não” pra incentivo, respeito. Agora, só porque é o Corinthians, não vem falar pra mim! Se vocês querem bater no governador, no prefeito, batam, mas não usem o Corinthians. Aí, outro dia, eu tô num simpósio em Brasília, na Câmara dos Deputados, e o Adriano Diogo colocou uma fita da Índia, onde era uma favela, tiraram a favela e fizeram o estádio. Puseram a favela dentro de um lixão. Se vocês vissem o que eu falei lá dentro! “O senhor tá querendo dizer que isso vai acontecer em Itaquera com o estádio do Corinthians?”. E a comunidade toda lá. Daí eu disse: “Então, vocês assinam essa merda agora, e não tem mais estádio”. Se é pra prejudicar a população, não tem mais estádio.

A DEMOCRACIA DOS LOUCOS
por Diogo Mesquita
O Timão, é mais que um clube, o sentimento dos fiéis torcedores transcende o futebol. Como quem gosta de bradar toda vez que tem oportunidade, o Corinthians é uma nação. Podemos brincar, dizer que Andrés Sanchez é o primeiro ministro, ele comanda a instituição política Sport Club Corinthians Paulista. Porém, quem é o presidente desse bando de loucos? Mais uma vez pioneiro, o Corinthians, em parceria com a Radium Systems, lançou uma ação nas redes, permitindo que qualquer um tenha a oportunidade de ocupar esse cargo. Foram meses de campanha virtual com direito a debate na TV Corinthians e muita especulação, como toda votação, para que Milton Oliveira fosse então escolhido presidente. Vale lembrar que no Corinthians não tem marmelada, os votos foram abertos no site da República. Seu mandato vai durar quatro meses, período em que ficará responsável por cumprir algumas metas preestabelecidas e prometidas pelo próprio.
E olha que no Corinthians não tem brincadeira. Os 84 governadores, escolhidos previamente por serem corintianos ativos e influentes na rede, os 300 congressistas e a nação podem votar pelo impeachment do presidente, se acharem necessário. Cacau Guarnieri, sócio da Radium System, revelou que o “social game”, como é chamado esse tipo de ação de marketing voltada para aproximação do público, não começa agora com a eleição de Milton Oliveira no começo do mês de dezembro. “O interessante desse conceito de gameficação é justamente o fato de ele juntar vários agentes da rede, fazer com que se engajem e trabalhem a proposta. Foi assim desde que começamos as campanhas, todo mundo divulgando em seus perfis nas redes sociais, trabalhando pelo bem da República. É uma espécie de jogo mesmo, mas no Corinthians é tudo mais sério”, analisou.
Guarnieri revelou que na democracia exemplar da mais nova república, que inclusive foi reconhecida e teve como primeiro presidente honorário Luiz Inácio Lula da Silva, seus cidadãos terão documentos como RG e passaporte e, como todo cidadão de uma democracia, dever e direito de fiscalizar seu bom andamento.


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