Leonard Feather, o maior crítico de jazz americano decretou, sobre Águas de Março: ‘Essa é, sem dúvida, uma das cem maiores melodias do século 20’. Essa sensibilidade que o Jobim tinha é algo único. Isso é coisa que só Mozart ou Erik Satie faziam”. Em fevereiro de 2011, Julio Medaglia, outro maestro de importância capital, em entrevista à Brasileiros, enfatizou com o depoimento acima o legado universal deixado por Tom Jobim, que completaria 85 anos em 25 de janeiro, data em que, desde 2010, é celebrado o Dia Nacional da Bossa Nova.
Sofisticado e dono de um rico repertório cultural, Tom (que nasceu Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim) foi muito mais do que uma unanimidade entre os círculos restritos dos decanos da crítica de jazz mundial. A influência da obra deixada por ele norteou um sem número de músicos e compositores populares ao redor do mundo. Influência que, no início da década de 1970, levaria sindicatos dos músicos ao redor dos Estados Unidos a delimitar cotas de brasileiros atuando no país, isso por conta da enorme demanda de instrumentistas que dominassem a síncope indecifrável da Bossa.
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A “Invasão Brasileira” teve início em 21 de novembro de 1962, quando ao lado de João Gilberto e do baterista Milton Banana (entre outros músicos), Tom subiu ao palco do lendário Carnegie Hall, em Nova York, armado de novos horizontes harmônicos e melódicos e o canto despojado de João. Lançados os estatutos da Bossa, os dois tomariam o mundo de assalto no ano seguinte, quando registraram o álbum Getz/Gilberto, produzido por Tom para a mítica Verve Records.
Embalado pelo sucesso de Garota de Ipanema e Corcovado, na voz sublime e frágil de Astrud Gilberto, então mulher de João, o disco que flagra a tensa parceria entre o saxofonista Stan Getz e o genial baiano tornou-se um clássico e vendeu milhões. Projeção que levaria Tom a lançar obras-primas, como The Composer of Desafinado Plays (1963), Wave (1967), Stone Flower e Tide (1970) nos Estados Unidos. Mas o êxito de Getz/Gilberto foi também o estopim de uma das grandes decepções de João: ver o amigo Tom dividir um álbum com ninguém menos que Frank Sinatra, Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim (1967). Embora seja um álbum brasileiríssimo e marque o encontro de dois gigantes de nossa música, Elis & Tom (1974), outro grande clássico e êxito popular da discografia do maestro carioca, também foi registrado nos Estados Unidos, em Los Angeles.
Ao longo dos anos 1980 e 90, Tom alternou estadias entre seu apartamento em Nova York e o sítio Beira-Rio, na região serrana do Rio (devastado pelas enchentes de janeiro de 2011). A pequena estrada de terra batida que levava ao refúgio espiritual onde Tom compôs Águas de Março foi eternizada na bucólica Dindi. Amante da natureza e obcecado por pássaros a ponto de compor odes musicais e poemas a sabiás e urubus, o maestro foi um apaixonado pela vida. Morreu aos 67 anos, vítima de um câncer de bexiga, em 8 de dezembro de 1994, ironicamente, exatos 14 anos depois da trágica morte de John Lennon, outro grande símbolo de humanismo e sensibilidade artística do século do 20. Em fevereiro, Tom será homenageado na cerimônia do Grammy 2012 pelo conjunto de sua obra. Será o primeiro brasileiro a conquistar o prêmio. Como Lennon, tornou-se universal e eterno.
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