Depois de dois anos e cinco meses sem poder sequer ver o neto Sean Goldman, Silvana Bianchi foi surpreendida na tarde de quinta-feira 26 com a notícia de que uma entrevista do menino, hoje com 11 anos, seria veiculada pelo canal de TV americano NBC. Mas a satisfação que poderia encontrar em ver e ouvir o menino depois de tantos meses de silêncio não resistiu ao espanto de saber que ele teria, novamente, sua história – marcada por episódios tão duros quanto a perda da mãe e a alienação de sua família brasileira – exposta em um espetáculo do qual, para ela, ele foi obrigado a participar
“Certamente ele foi obrigado (pelo pai, David Goldman) a falar. Uma criança de 12 anos não vai sozinha para uma rede de televisão, que foi a mesma que ajudou a tirá-lo daqui, para dar uma entrevista sobre a felicidade dele. Ele é dependente do pai, ele tem que fazer o que o pai manda”, afirmou.
Na entrevista – que ela faz questão de não ver – Sean afirma que é feliz com o pai nos Estados Unidos e que David é seu melhor amigo. “Se você olhar para o rosto do Sean durante a entrevista, veja se ele esboça algum sorriso, algum gesto de espontaneidade. Eu creio que não”, disse. “Eu acho lamentável. Expor o sofrimento de uma criança de 12 anos é muito triste. Eu sinto muito”.
Silvana não tem como saber se o menino está satisfeito de fato, o que ela sabe é que Sean era feliz no Brasil e que certamente sente muita falta da família que é impedido pelo pai de ver. “Ele (Sean) estava muito feliz aqui e não queria ir embora. (…) Quando Sean foi tirado do Brasil, ele (David) foi à televisão e disse que iria permitir (a visita da avó) e depois falou que não iria permitir porque se eu fosse visitar o Sean iria interferir na relação pai e filho”.
Hoje, para ver o neto, Silvana teria que desembolsar US$ 200 mil dólares exigidos pelo pai do menino, condição que para ela, é inviável. Como motivos para a cobrança desse valor, registrado no processo junto às demais condições para que Silvana veja o neto, David alega que seria a título de ressarcimento pelos gastos que ele teve no processo.
Carlos Nicodemos, advogado de Silvana, afirma que esse valor “causa estranhamento já que David não teve gastos com o processo que correu no Brasil”. “Ele foi patrocinado pela Advocacia-Geral da União (AGU), não teve custos”. Carlos diz ainda que David teria, inclusive, lucrado com o caso pela venda dos direitos de veiculação à rede NBC.
Para Nicodemos, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro não está exigindo reciprocidade em relação ao que ocorreu com David antes da saída de Sean do País, quando ele teve respeitado o direito de ver o menino. E, ao lado de Silvana, prepara uma ação para recorrer ao Tribunal Internacional de Justiça de Haia para assegurar que a avó possa reestabelecer o contato com o menino. “A única coisa que eu estou pedindo é o direito de visita ao meu neto”, afirma Silvana.
Entenda o caso
O menino Sean Goldman – que morava nos Estados Unidos com a mãe, Bruna Bianchi, e o pai, David Goldman – foi trazido ao Brasil pela mãe em 2004 no que seriam férias de duas semanas no País. Porém, Bruna não voltou aos Estados Unidos, pediu o divórcio e casou-se novamente com o advogado Paulo Lins e Silva.
Quase cinco anos depois, Bruna morreu devido a complicações no parto da filha Chiara e a família brasileira iniciou processo de adoção de Sean. A guarda provisória foi conquistada pelo padrasto, mas David Goldman pediu o retorno da criança aos Estados Unidos.
Para os advogados de Goldman, o Brasil havia violado a convenção internacional do Tribunal Internacional de Justiça de Haia ao negar devolver seu filho, enquanto avós e padrasto brasileiros alegavam razões socioafetivas para ficar com Sean.
Após apelos do presidente americano, Barack Obama, e da secretária de Estado, Hillary Clinton, a Justiça brasileira determinou que Sean fosse entregue ao pai biológico, o que aconteceu no Natal de 2009.
Quando Sean foi levado do Brasil, um acordo de continuidade da relação familiar com a família brasileira foi assinado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Nele se estabeleciam condições para visitas e a manutenção do contato do menino com o padrasto, a irmã e os avós. O acordo nunca foi cumprido por David.
“Exibição foi quando eles desfilaram meu filho pelas ruas do Brasil”, diz David Goldman
Deixe um comentário