Heitor Dhalia em estreia internacional

Amanda Seyfried, protagonista de <i>12horas</i>

Mesmo traduzido para o inglês, o cinema de Heitor Dhalia mantém-se fiel ao que lhe é mais caro: a marginalidade. Não exatamente protagonistas que cometem atos ilícitos, embora às vezes até cometam pequenos delitos, mas gente que se mexe por desassossego, pela incômoda sensação de ser posto à margem do sistema, da família, do que é supostamente correto, sadio ou normal.

No longa 12 Horas, sua estreia internacional e previsto para estar em cartaz no Brasil a partir deste mês de abril, Dhalia faz da personagem vivida por Amanda Seyfried seu pião da vez. Mundialmente famosa por ter interpretado a filha esperta de Meryl Streep em Mamma Mia, Amanda agora é Jill Parrish, moça que acredita estar diante de um serial killer, mas ninguém aposta em sua convicção. Ao contrário, ela é tratada como mentalmente perturbada por todos. É esse jogo de esconde-revela o principal motor da narrativa.

Não só Jill é tratada como tal: ficamos sabendo nos primeiros minutos do filme que ela já havia sido internada em uma clínica de repouso, recurso utilizado por muitos familiares para, de alguma maneira, “ressociabilizar” aquele parente incômodo. No caso, uma moça obcecada em proteger a irmã e a si própria de um assassino.

A não ser a simpatia que Dhalia tem por personagens assim, como a adolescente diante da crise dos pais de À Deriva (2009) ou o vendedor abusado de O Cheiro do Ralo (2006), o filme parece mais obra de produtor que de diretor, o que, aliás, não é nenhum estranhamento por se tratar de uma produção hollywoodiana. Sabe-se que, de maneira geral, é o produtor quem dá as cartas durante todo o processo de feitura desse tipo de obra. Parece que o diretor apenas entrou na sala de estar da casa, não teve acesso a quartos e banheiros. Pode ser, porém, só uma questão de tempo para Dhalia entrar na restrita casta de realizadores autorais.

Isso não chega a ser um problema, ufanismo à parte. O que incomoda é a sucessão de clichês que o roteiro apresenta. Há o policial que não acredita na protagonista, o outro que não só acredita como deixa no ar certa atração por ela, a policial durona, o namorado fracote que precisa lidar com uma mulher firme e, o pior, certa inverossimilhança no enfrentamento do epílogo.

Dito isso, é louvável a entrada de mais um cineasta brasileiro na rigorosa panela dos estúdios americanos. Mais que isso: um diretor que mal sabia inglês quando topou fazer o projeto no qual o comando de atores seria fundamental, especialmente pela protagonista. A personagem é nuançada e todo tempo ficamos em dúvida se tudo o que ela diz é fato ou mera fantasia. No mínimo, Dhalia é um homem de muita coragem, como sua protagonista.


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