“No caminho da Mata ouvi um canto,
Asa na serra respondeu
Carcará num razante em rio seco,
É o canto da terra,
Orvalho na serra,
A caatinga fulorou,
Mata Branca, padroeira…”
(Mata Branca, de Marcelo Melo)
“Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João…”
(Asa Branca, de Luiz Gonzaga e HumbertoTeixeira)
Esta e outras músicas de Gonzaga faziam parte do nosso acervo familiar. Além disso, tínhamos Marinês e sua Gente, Rosil Cavalcanti e Jackson do Pandeiro, entre outros. Na época, era o baião que se exportava para o Sudeste. Mas aprendi com o Quinteto Violado, via Marcelo Melo, pesquisador e compositor da MPB, a condição universal do nosso regional.
Em janeiro de 1970, o conjunto apresentou-se pela primeira vez na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em 1971, apresentou-se em Nova Jerusalém, daí definitivamente: “os violados”.
O quinteto reacende nossa música nos anos 1970, dando um caráter clássico/popular à música regional.
O Quinteto, assim dito pelo poeta Gustavo Dourado:
“(…) Science e Chico Cézar
Paulo Freire Educação
Cangaço, Lucas de Feira
Vaqueijada, Azulão
Na peleja e na rima
Malazarte e Canção… (…)
Tem Quinteto Violado
O Barro de Vitalino…”
(em Cordel da Cultura Nordestina I)
Ou Xico Bizerra, citado pelo saudoso Toinho Alves: “… A canção é a ferramenta para violar luares… E, por todos os lugares, enluaramos violas…” (http://bit.ly/yHD6S8).
Além disso, o Quinteto Violado trouxe-nos a palavra musicada e a cena dos folguedos/ritmos: cavalo-marinho, pastoril, forro, baião, frevo, xote, coco, cordel emboladas, maracatus, ciranda, o bumba meu boi, etc., além de cantar Vandré (com quem gravou um LP/CD), Capiba, Jackson do Pandeiro e Adoniran, entre outros, e composições próprias.
Os violados, em suas pesquisas, trouxeram sangue quente e virtuose à música brasileira, mostrando ao mundo por seus muitos discos, CDs e DVDs, um Brasil palavrado de expressões novas e arranjos. Eles juntam o popular e erudito, passando por filigranas jazistícas, sem tirar o foco de valorização do nacional. Violão, contrabaixo, viola, flauta e sanfona, bem como teclados, engendram com as suas vozes em um novo melódico da MPB.
O primeiro LP, em 1972 – Quinteto Violado em Concerto, Philips –, incluiu Asa Branca, um premiado sucesso nacional e internacional. Amigos do saudoso Gonzaga, em época de caída midiática/fonográfica, o quinteto o realumiou. Ele era padrinho dos violados, como assim o foi Hermilo Borba Filho e Marcos Pereira, com quem o Quinteto Violado participou do projeto Música Popular do Nordeste, em 1973.
Gonzaga, na década de 1980 na TV Cultura, predicou o Quinteto Violado de “sustança”, “tutano do corredor do boi” e também “Padim Cícero”, “Frei Damião” e “Lampião”.
*É paraibano, mestre e doutor pela ECA-USP. Professor de Teoria Literária na Anhembi-Morumbi, professor colaborador da ECA-USP, Fundação Escola de Sociologia e Política-FESP, além de contista e poeta com livros publicados (paulo@brasileiros.com.br).
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