Para sempre Drummond

Em entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, o escritor Carlos Drummond de Andrade declarou, 17 dias antes de morrer: “Não tenho a menor pretensão de ser eterno. Pelo contrário, tenho a impressão de que daqui a 20 anos – e eu já estarei no cemitério São João Batista – ninguém vai falar de mim, graças a Deus. O que eu quero é paz”. Poucos dias depois dessa conversa – que consta do livro Dossiê Drummond –, a única filha do escritor, Maria Julieta, morreu vítima de um câncer. Doze dias depois, em 17 de agosto de 1987, chegou ao fim também a vida do poeta.

Felizmente, o desejo de Drummond não foi atendido. O tempo passou e a obra dele vem sendo estudada por acadêmicos, admirada por leitores e adotada em escolas. Neste ano recebe maior destaque ainda, pois além dos 25 anos de sua morte e 110 anos de seu nascimento, vai ganhar novas edições preparadas pela Editora Companhia das Letras.

Acabam de ser relançados cinco títulos: Claro Enigma (1951), A Rosa do Povo (1945), Sentimento do Mundo (1940), Contos de Aprendiz (1951) e Fala, Amendoeira (1957), com a ressalva de que Sentimento do Mundo não faz parte da coleção Drummond, por ser uma edição de bolso feita especialmente para atender a uma demanda emergencial – a obra é uma das leituras do vestibular Fuvest 2013.

Claro Enigma, um dos mais importantes livros de Drummond, mistura poemas de fácil leitura a composições que exigem um pouco mais de atenção do leitor, como A Máquina do Mundo, considerado uma de suas obras-primas. Mas estão lá, também, criações divertidas como o Quintana’s Bar – poema em prosa que relata um encontro de Drummond com o também poeta Mario Quintana –; provocativas, como Oficina Irritada, e o onírico Sonho de um Sonho.

Publicado em dezembro de 1945, após o fim da Segunda Guerra Mundial, A Rosa do Povo conta com diversos poemas resultantes das angústias do escritor com o que se passava nos países em batalha. Drummond também foi contista e Contos de Aprendiz reúne suas primeiras incursões no gênero.

Depois da poesia, o gênero no qual o autor mineiro mais se destacou foi a crônica. Fala, Amendoeira, compilação de 44 textos originalmente publicados no jornal carioca Correio da Manhã, é uma boa amostra da qualidade da prosa de ocasião drummondiana. Estão lá a homenagem ao “poeta sem versos” Jayme Ovalle, na crônica À Porta do Céu, e um texto sobre futebol, em que Drummond diz: “Confesso que o futebol me aturde, porque não sei chegar até o seu mistério”. Ainda a reflexiva Morte na Obra, entre outros textos leves e sempre relevantes.

As novas edições trazem, a exemplo das reedições dos livros de Jorge Amado, Vinicius de Moraes e Otto Lara Resende pela mesma editora, belas imagens de Drummond sozinho ou na companhia de familiares – como a sua fiel mulher, Dolores, e sua filha –, e amigos. Também há reproduções das capas das primeiras edições de cada obra.

Neste ano, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip),  em sua 10a edição, vai homenagear o poeta mineiro. Até o fim do ano serão relançados, pelo menos, mais quatro títulos do autor. Definitivamente, Carlos Drummond de Andrade não terá paz tão cedo.


Comentários

Uma resposta para “Para sempre Drummond”

  1. […] Publicada na revista Brasileiros (abril de 2012). […]

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