Mantega: “Nosso desafio é crescer em um cenário mundial adverso”

Em palestra realizada no início da tarde desta sexta-feira, dia 4, pelo Seminário Brasileiros, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que um dos maiores desafios do País é crescer em um cenário em que a recessão é uma realidade mundial. “A economia mundial vai ter uma desaceleração. O PIB mundial está em desaceleração e a economia europeia está fazendo água. Os países da Europa estão mergulhando em ajustes fiscais recessivos. Precisa haver estímulo ao crescimento sem o qual há aumento de desemprego e é essa a realidade que eles vêm experimentando: anos consecutivos com crescimento do desemprego”, afirmou o ministro ressaltando que esta também é a situação nos Estados Unidos, onde os problemas do setor imobiliário, a chamada crise do subprime, não foi solucionado.

Falando ainda sobre a crise mundial, o ministro lembrou que a taxa de crescimento da União Europeia se mantém em 0% desde o ano de 2007 e que o Brasil vem apresentando números “bastante razoáveis” considerando esse cenário. “Nosso desafio é ultrapassar a taxa de crescimento do ano passado, que foi 2,7%, uma taxa boa de crescimento, embora em 2010 tenhamos crescido 7,5% e a gente logo acostuma com o que é bom”, disse. “Este ano, vamos buscar o crescimento de 4,5%”, completou.

Guido Mantega afirmou que o setor brasileiro que mais tem sofrido com a crise mundial é a indústria, afetada pela concorrência dos produtos importados nos mercados nacional e internacional. Em ambos os mercados, os brasileiros vêm perdendo espaço para os produtos de países que praticam a chamada “politica econômica expansionista”. Estes países desvalorizam suas moedas para praticar preços mais competitivos e facilitar a exportação de seus produtos.

Para ajudar a sanar esse problema, o Brasil tem tomado medidas de intervenção do câmbio que visam a desvalorização do Real. “Teríamos perdido nossa competitividade se não tivéssemos feito isso e temos conseguido resultados razoáveis. O câmbio hoje está em 1,92. ”, diz o ministro. “Os empresários ainda não estão sorrindo, mas estão esboçando um sorriso”, brincou o Mantega, que afirmou ainda que a situação cambial está melhorando desde o ano passado.

Outros entraves para o crescimento do País apontados por Mantega são o sistema de crédito que, segundo ele, apresenta velocidade de expansão “inferior ao desejável” e as altas taxas de juros praticadas no mercado interno. “Nós precisamos estimular o aumento do crédito e reduzir o custo financeiro que é elevado. Está incompatível com o momento do País. O Brasil está mais sólido, não há razão para o descredito por parte dos empresários”, afirmou.

Para poder baixar as taxas de juros, na última quinta-feira, dia 3, o governo federal aprovou uma Medida Provisória (MP) que controla os rendimentos da Caderneta de Poupança. De acordo com a MP, a remuneração deste investimento variará sempre que a taxa básica de juros (Selic) estiver abaixo de 8,5% ao ano. O novo gatilho permite que o Banco Central (BC) reduza os juros sem gerar desequilíbrios no mercado. “Se não mudassem (as regras da poupança) não poderíamos mais continuar baixando os juros”, afirmou o ministro. Com a queda das taxas, a poupança poderia ter captação excessiva de investimentos deixando outros fundos – como títulos públicos, por exemplo – sem reservas.

Ainda sobre o tema, o ministro afirmou que quem tinha aplicações na Caderneta de Poupança pode ficar tranquilo. “Quem já tem poupança terá mais rentabilidade que os fundos de renda fixa quando a Selic cair abaixo do gatilho. Só as futuras cadernetas terão estas pequenas mudanças, pequenos ajustes se a Selic foi reduzida.”, afirmou.


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