Nelson Rodrigues jornalista é tema de homenagem no centenário do autor

A segunda mesa do ciclo de palestras em homenagem aos 100 anos do nascimento de Nelson Rodrigues, realizada na quarta-feira, dia 16, no Centro Cultural Ruth Cardoso, do SESI, em São Paulo, apresentou uma das facetas menos conhecidas do escritor e dramaturgo. Seu trabalho como jornalista.

Participaram da mesa os jornalistas Arnaldo Mesquier, Nelson Motta (ambos companheiros de redação de Nelson, além de personagens em suas crônicas), Ruy Castro, seu biografo, e o diretor de redação de Folha de São Paulo Otávio Frias Filho.

Nelson começou cedo em redações, aos 13 anos, nos jornais de seu pai, Mario Rodrigues, que nos anos 1920 e 1930 foi dono de Crítica e A Manhã. Depois Nelson passou por todas as grandes redações do Rio de Janeiro até sua morte, em 1980, passando pelos jornais O Globo, Última Hora (de Samuel Wainer) e O Jornal e Diário da Noite (membros de Os Diários Associados, de Assis Chateaubriand), as revistas O Cruzeiro (também de Chateubriand) e Manchete Esportiva (de Adolpho Bloch) e as TVs Rio e Globo.

Foi como jornalista, nas suas crônicas e séries, como A Vida Como Ela É…, Meu Destino É Pecar (que ele assinava como Suzana Flag), Asfalto Selvagem e As Confissões de Nelson Rodrigues que o dramaturgo Nelson se tornou famoso para o grande público. Mesquier, que trabalhou com Nelson em Última Hora, confirmou um rumor antigo sobre o autor. “O Nelson tomava muito café. Quando ele se levantava o pessoal da redação ia lá e continuava as crônicas. Escrevia duas, três linhas. Ele voltava e pegava de onde tinham deixado. Eu nunca vi ele apagar uma adição, e eu posso dizer que isso acontecia porque eu fui um dos que o ‘ajudou’”, disse.

Ruy Castro lembrou que esse tipo de intromissão não acontecia em seu teatro, onde Nelson era muito profissional. “Mas ele não se importava com essas brincadeiras nas crônicas”. De fato, ele até se vingava, como lembrou Arnaldo. “No Asfalto Selvagem tem uma hora em que ele fala de um doutor Arnaldo, que seria um ‘canalha’. Esse doutor Arnaldo sou eu!”

Nelson Motta também foi satirizado e virou personagem das crônicas de Nelson, depois de irrita-lo com uma crítica. “Eu virei o homem mais pálido do Brasil. E eu nem era tão pálido assim. Naquela época se você não fosse à praia você não era ninguém, não comia ninguém”, disse. “O Nelson era um cara que vivia num mundo próprio. Ele ia conhecendo pessoas e transformando as pessoas em seus personagens. Era delicioso”.

Apesar de ser jornalista e de ter passado por quase todos os cargos que a carreira permite, de repórter a editor, Nelson era dicotômico, e se lamentava pelo “repórter hoje mentir muito pouco, mentir cada vez menos”. Para Otávio Frias, não haveria mais espaço para um Nelson repórter. “A imprensa mudou muito nesses 100 anos. Mas ele, se estivesse vivo, ainda seria um grande cronista, e teria vaga em qualquer jornal do país”.

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