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Estrada esburacada
Levar a densidade de uma obra literária para o cinema não é tarefa das mais fáceis. A dificuldade aumenta quando o livro em questão é On the Road. Qualquer tentativa de transpor para a tela as linhas de Jack Kerouac – que, há décadas, permanece referência para gerações – pode ser considerada, no mínimo, corajosa. Levada adiante pelo brasileiro Walter Salles, a empreitada vai por direção segura sem, no entanto, escapar de curvas perigosas.

A primeira virtude do filme é também seu maior pecado. O roteiro de Jose Rivera – com quem Salles trabalhou em Diários de Motocicleta (2004) –, mais do que fiel, é quase reverencial ao livro. Com uma ou outra exceção, estão lá todos os episódios da tortuosa jornada de Sal Paradise (Sam Riley, de Control) e Dean Moriarty (Garret Hedlund) pelas estradas dos Estados Unidos. Contudo, o texto limita-se a ser episódico e acaba por reduzir a complexidade dos personagens. Dos jovens descritos por Kerouac, em busca de um sentido para a  vida na América do pós-guerra, restaram moleques mais preocupados em fumar maconha, promover orgias e, nas horas vagas, ler páginas de Proust. O elenco irregular contribui para que o filme perca substância, sobretudo, as atuações femininas: Kristen Stewart e Kirsten Dunst desperdiçam papéis interessantes, deixando o caminho livre para que Alice Braga, em um papel menor, roube a cena. A força dramática da fita também é prejudicada pela duração excessiva (resultado da fidelidade obsessiva com o texto de Kerouac) e a falta de ousadia na execução, exigida pela adaptação de uma obra transgressora – o que explica a fria recepção do longa no Festival de Cannes. Por fim, Na Estrada trai o título: apesar do esforço criativo e técnico, o filme, sem ultrapassar a superficialidade, não atinge a densidade esperada de um roadie movie.

Allegro, ma non troppo
Cineasta de fôlego invejável, Woody Allen lança, em média, um filme por ano. O resultado é uma carreira irregular: volta e meia o diretor erra a mão ou realiza filmes medianos. É o caso de Para Roma, com Amor que, embora tenha graciosidade, leveza e ritmo, não é tão envolvente quanto seu antecessor – o adorável Meia-Noite em Paris, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro. Como o título antecipa, a ação se passa na capital italiana onde, em suas inúmeras vielas, personagens vivem encontros e desencontros. Os melhores momentos do filme ficam por conta de Roberto Benigni e Penélope Cruz: ele, um metódico pequeno burguês que, do dia para a noite, se torna uma celebridade; ela, uma prostituta de luxo, cuja clientela inclui os maiores executivos da cidade. Um cantor lírico (Fabio Armiliato), que só consegue soltar a voz debaixo do chuveiro, também deve garantir as risadas da plateia.

Para os fãs de Woody Allen, o filme traz uma ótima notícia: sem atuar desde 2006, o diretor volta à tela com suas impagáveis gags. Além disso, crescem os boatos de que, dentro de seu projeto de realizar cada filme em uma grande cidade do mundo, o Rio de Janeiro em breve será uma delas.

Demônio familiar
Vencedor da edição 2011 do Festival de Veneza e exibido no encerramento da última Mostra Internacional de Cinema, Fausto, do russo Aleksandr Sokurov, chega agora ao circuito comercial como a mais acessível versão da lenda popular alemã que deu origem ao poema de Goethe (1749-1832). Já levado para o cinema, em 1926, pelas mãos de F.W. Murnau – um dos artífices do expressionismo alemão –, a figura do médico que realiza um pacto com o diabo em nome do poder e do conhecimento influenciou também a pintura, o teatro e a música. De alguma forma, o diretor de A Arca Russa (2002) tenta sintetizar essas tendências.

O resultado é um espetáculo estético: a fotografia do francês Bruno Delbonnel busca inspiração na pintura romântica para criar planos abertos, de luz esmaecida, fazendo o espectador sentir-se diante de uma tela do século 19. Toda a projeção acontece dentro de uma espécie de moldura, o que aumenta essa sensação. Em contraste a isso, provoca asco o demônio criado pelo diretor russo: barrigudo e corcunda, o Mefistófoles de Sokurov tem o corpo deformado e solta gases.

Fausto encerra tetralogia do diretor sobre regimes autoritários – composta por Molokh (1999), Taurus (2001) e O Sol (2005) –, e traz consigo uma mensagem clara: é a sede pelo absoluto a responsável pela criação de monstros como Hitler ou Hiroito.

Primavera árabe em pleno inverno
Em sua sétima edição, o Festival Mundo Árabe de Cinema traz para o Brasil 32 produções do Oriente Médio, algumas vindas de uma elogiada seleção apresentada no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA, nos Estados Unidos). As exibições acontecem em São Paulo e no Rio de Janeiro a preços populares. Um diferencial na programação da edição 2012 é a presença de dois documentários brasileiros: Sobre Futebol e Barreiras, uma análise do conflito árabe-palestino, com a Copa do Mundo de 2010 como pano de fundo; e Constantino, do paulistano Otávio Cury, que viajou à Síria para reconstruir o passado de seu avô, um dos expoentes do Renascimento Árabe. Para conferir a programação completa do festival, acesse http://icarabe.org/mostras/mundoarabe2012/.

Sessão da tarde
Além das atrações para os adultos, o mês de julho, naturalmente, conta com lançamentos para as crianças: a Disney lança Valente. A animação narra a história de uma princesa rebelde que se recusa casar com o homem escolhido pelos pais.

A disputa com dois outros grandes títulos promete: de um lado, Marc Webb traz O Espetacular Homem-Aranha, que vai narrar (mais uma vez) a origem do herói aracnídeo; do outro, Batman: o Cavaleiro das Trevas Ressurge promete encerrar a trilogia iniciada por Christopher Nolan em 2005. Mais dark do que nunca, o novo longa-metragem do homem-morcego é um programa indicado para os mais crescidinhos. Prepare a pipoca.


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