Elemento virtual

Rolou a minha palestra no TEDx Campos. Junho, início do frio, proximidade do inverno. Campos do Jordão, verde, amarelo, vermelho, lindo. TEDx… Sabe o que é? Procure no YouTube. É diversão garantida. Ok, respondo… É uma série de palestras sobre temas diversos. Na que participei, era sobre gastronomia. Foram grandes palestrantes, nacionais e internacionais, falando sobre o futuro da alimentação. Fui convidado, com muita honra! Nossa, que felicidade! Mas falar sobre o quê? Sempre que estou em dúvida, vem um jazz interno como introdução do meu pensamento. Improvisação! Expor minhas experiências…

O meu grande amigo Alexandre Franzolim veio com esta: “Murakami-san a sua apresentação tem de ser inédita!”. Cara! Bem, regras são regras. O que dizer que eu ainda não tivesse dito? É isso mesmo? Mas o que eu falei até agora?! Segundo um pré-socrático, nunca nos banhamos nas águas do mesmo rio. Frio na barriga e suor nas mãos! Aceitei antes, mesmo sem saber como organizar as informações. Vamos que vamos!

Falando em banhar-se nas águas do mesmo rio, decidi falar um pouco sobre o elemento: água. O elemento mais importante do nosso planeta, para nós seres vivos! Interessante a importância da água para os japoneses e o impacto que ela tem para a Kappo Cuisine… Tudo fica mais gostoso. Vital! Sentimos a diferença de imediato, quando a bebemos ou até quando tomamos banho. A pele sente e agradece! Lembrei-me de que em março deste ano visitei uma horta próxima a Kyoto, na cidade de Miyazu. Emocionei-me só em sentir a água da chuva massageando o meu rosto.

Temperatura, cores, texturas, sabores. Como no teatro, vivenciei cada alma que encontrei pelo caminho. Umas embaixo da terra. Outras penduradas nos troncos, em seu leve balanço para lá, para cá. Imaginem a água fazendo a vida correr dentro de cada ser vivo nessa horta viva. Como o sangue que circula no meu próprio corpo. Cozinhar mantendo a água da própria bardana ou da raiz de lótus, por exemplo. A água fica dentro do alimento, a mesma água que ao alimento vida dá! Coerente e consistente nessa linha de pensamento, penso que o futuro da alimentação é tirar o excesso de manuseio e de transformação. Alimento in natura… Ainda com vida! Sem tirar o sangue que nele circula.

Mamãe sempre agia dessa forma, respeitando a água ou o sangue de tudo que ia no prato.

Ok! Mas o que me fez cuidar mais da minha alimentação foi um dos prazeres que descobri quando assisti ao nascimento de Jun, meu filhão querido. Fiquei fissurado em assistir a procedimentos cirúrgicos. Triste mas factual, assisti à intervenção cirúrgica do meu pai, um aneurisma na aorta abdominal. Um amigo, cirurgião vascular, permitiu que eu tivesse acesso a cirurgias, já vi fígado, pâncreas, intestino, estômago. Forte pacas! Me fez pensar, o quanto de besteira comemos. Sim, a gente acaba comendo tanta merda… Um absurdo, pois nosso corpo é lindo por dentro. Com isso, preocupo-me cada vez mais e mais com o que como. Se eu não tivesse me formado chef, teria sido um cirurgião que tira os excessos para harmonizar o corpo e a alma. Essa agora é como cozinheiro: “Se tirarmos o excesso de toda a tendência do momento, começaremos a sentir o que é a Kappo Cuisine”. Querido leitor, tente visualizar. Agora sinta! É ou não é?! Envie suas opiniões!

Foi uma palestra curta. Caso queira ver, procure no YouTube. Ah, você vai entender mais a fundo ao folhear o livro Kinoshita e o Jazz de Murakami (Editora BEI), já disponível nas livrarias. Divirta-se!

* Kappo Cuisine é o conceito que Tsuyoshi Murakami trouxe ao Brasil e tem como base a transparência, o cozinhar em frente ao cliente e o uso de alimentos sazonais. Murakami é sócio e chef do restaurante Kinoshita, em São Paulo. murakami@restaurantekinoshita.com.br


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