Ouro do vôlei tem história hollywoodiana, superação e coro no final

Caso acontecesse com um time americano, a história de superação da seleção feminina de vôlei nos Jogos Olímpicos de 2012 provavelmente viraria filme, daqueles cheios de clichês e feitos para levar o espectador às lagrimas. A diferença é que o roteiro, digno dos melhores filmes de esporte dos anos 1980, foi bastante real.

O começo do vôlei feminino nos jogos Olímpicos foi complicado. O time embarcou para Londres com o peso do corte da levantadora Fabíola, eleita a melhor jogadora da Superliga Feminina de Vôlei, decisão que gerou desconfiança para o técnico José Roberto Guimarães.  Para seu lugar, Zé Roberto chamou a até então desconhecida Fernandinha, que se superou em Londres e conquistou a posição com sobrar.

Dias depois, foi Mari quem caiu, e fazendo barulho. Ela reclamou publicamente da opção e abalou o clima dentro da seleção. Thaisa, antes de embarcar para Londres, chegou a admitir que o corte tinha abalado as jogadoras. A preparação seguiu com Zé Roberto em dúvidas. Ele esperou até o último instante para contar com Natália, e começou os Jogos apostando em Paula Pequeno e Fabiana em detrimento de Fernanda Garay e Adenízia.

Assim como nos filmes, o técnico  “fechou” com seu elenco, que andava bastante desacreditado, apesar do título em Pequim 2008. Esta descrença se explica pelo fraco ciclo Olímpico. Desde o espetacular título em 2008, os resultados foram medianos. Houve também uma profunda renovação. Promessas como Natália, Fernanda Garay, Adenízia e Camila Brait não conseguiram, por diferentes motivos, chegar a Londres como titulares, enquanto Paula Pequeno, Jaqueline, Fabi e Fabiana não mostravam a mesma forma.

A chegada aos Jogos e os primeiros resultados nas Olimpíadas também não inspiraram confiança. O time começou sua participação com uma apertada vitória por 3 sets a 2 diante do fraco time da Turquia. No jogo seguinte veio a derrota por 3 a 1 diante das americanas, favoritíssimas ao ouro, e logo depois a lavada por 3 a 0 diante da Coreia do Sul.

Era aquele momento onde, nos filmes, as coisas parecem que não vão dar certo. As derrotas na primeira fase quase eliminaram a equipe e fizeram o desânimo tomar conta. O técnico definiu os dias que antecederam a classificação às quartas como “uns dos mais difíceis da carreira”, enquanto as jogadoras tentavam resolver o problema.

O sonho do ouro quase acabou na primeira fase. A apreensão que tomou conta quando Coreia do Sul e China jogaram pelo resultado que lhes interessava virou alegria quando os Estados Unidos fizeram sua parte e eliminaram a Turquia. O Brasil foi às quartas contra a Rússia, asa negra recente de dois Mundiais e uma edição dos Jogos Olímpicos.

Este poderia ter sido o ponto da virada. Aquele momento dos filmes em que o impossível acontece e o time desacreditado ganha confiança para se consagrar. Mas o roteiro guardava mais uma reviravolta. A vitória contra a Rússia foi daquelas de arrepiar o telespectador nos cinemas. Lembrando da semifinal olímpica em 2004, quando o Brasil tinha 24 a 19 para fechar o jogo diante daquelas mesmas russas, perdeu e ganhou o “amarelão”, as meninas tiraram seis match points em um jogo eletrizante que revelou uma Sheilla decisiva como nunca.

Os minutos finais desta fita imaginária também foram prodigiosos em emoção. Depois de sair de sua terra descreditadas, depois de quase serem eliminadas duas vezes, as meninas do vôlei teriam de enfrentar um grande time Estados Unidos, invicto. E começaram da pior forma possível, perdendo o primeiro set de lavada, 25 a 11. Mas em uma partida que resumiu a passagem do vôlei feminino por Londres, as meninas empataram, viraram e ficaram com o ouro. O final, apoteótico, teve a torcida brasileira cantando em unisso o hino nacional. Palmas no cinema.

 


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