Ouviram do Ipiranga as margens plácidas

"O Grito do Ipiranga", obra do artista paraibano Pedro Américo

Desfiles, passeatas e orgulho patriota. No dia 7 de setembro comemora-se o feriado da Proclamação da Independência do Brasil. Conta a história que foi nesta data, em 1822, que o Príncipe Regente D. Pedro de Alcântara de Bragança proclamou às margens do riacho do Ipiranga, em São Paulo, a célebre frase “Independência ou Morte!”.

Para alguns historiadores e estudiosos do assunto, o fato foi romantizado para se tornar o primeiro marco do Brasil como nação independente. No entanto, todos destacam a importância do processo que culminou na emancipação do Brasil do Reino de Portugal e que constituiu Dom Pedro como primeiro Imperador do Brasil.

Em 2012, a Independência do Brasil completa 190 anos. Os tradicionais desfiles tomam as ruas das principais cidades do País. Em Brasília, o ato contou com participação de estadistas e da Presidenta Dilma Rousseff. Mas não só de festa foi feito o desfile. Durante a passeata, duas ativistas do grupo feminista Femem invadiram a pista seminuas para protestar contra o que chamaram de “colônia da exploração, da violência e do machismo”. Em São Paulo, um grupo de punks caminhou pela Avenida Paulista para protestar contra as comemorações da data. Nesta sexta, a avenida também foi palco da “marcha contra a corrupção”.

Apesar de festiva, a data divide opiniões entre os brasileiros. Para alguns, é a oportunidade de celebrar o orgulho da nação, enquanto outros acreditam que as celebrações não passam de orgulho ufanista. Polêmicas a parte, o 7 de setembro ficou marcado como a data em que o Brasil iniciou sua caminhada para se tornar o País que conhecemos hoje.

Em homenagem a Proclamação da Independência do Brasil, a Brasileiros conversou com o cientista político e sociólogo Jorge Caldeira para falar sobre a importância do fato para a história do nosso País. Confira abaixo.

 

Qual foi a importância da Independência do Brasil para o desenvolvimento do país e o que ele se tornou atualmente?

Na verdade começou-se o Brasil no dia 7, o país. Começamos a ter um governo nosso, governar nosso destino e ser independente das decisões políticas de um país do outro lado do Atlântico, então isso é um marco fundamental, quando um território vira uma nação. Foi então construção do destino do Brasil começou a ser feita pelos brasileiros.

Muitos acreditam que a Independência foi um acontecimento romantizado e realizado de forma tardia. Qual é sua opinião sobre este fato?

O 7 de setembro é uma data simbólica, é um dia e um ato na beira do Ipiranga que foi simbolizado como o momento que se rompeu com o passado de outro tempo. É claro que se você for ver as coisas, tudo é processo. Sempre há uma distância entre algo que é simbólico e o empírico. É uma espécie de condensação de muitas coisas, de modo que qualquer símbolo pode ser interpretado de qualquer jeito, inclusive esse. Isso é da estrutura dos processos empíricos.

Você foi responsável pela digitalização completa da obra de José Bonifácio, considerado o patrono da independência.  Em uma entrevista, você afirmou que ele era um “cosmopolita” e que ajudou a “fundar uma nação com princípios iluministas”. Para você, qual foi o papel dele neste acontecimento?

O Bonifácio foi uma figura fundamental. Qual é a característica da independência do Brasil? Em 1822 haviam 3 milhões de pessoas espalhadas por 8 milhões de km² com 30 mil alfabetizados. José Bonifácio conseguiu fazer as coisas de um jeito de forma com que toda a transformação se fizesse com relativa unidade. O Brasil não teve nenhuma fragmentação, as forças políticas se uniram primeira contra Portugal, depois criaram as instituições brasileiras nesse processo, mas o José Bonifácio foi quem basicamente entendeu que o jeito mais rápido e que parecia melhor de fazer essa transformação de colônia para nação era aproveitar a presença de Dom Pedro aqui e fazer uma assembleia de representantes brasileiros, que tivessem o poder de legislar, e isto, independente dos percalços, aconteceu. O Império Brasileiro teve um parlamento que funcionou, assim como a República, e houve um poder centrado no executivo. E isso é o Brasil mais ou menos até hoje. Em toda nação continental, como é o caso do Brasil – que abrange muitas culturas, muita gente, muita variedade, muita diferença regional – isso é necessário para que as coisas fiquem juntas, e o Brasil nesse sentido é uma nação continental bem construída.


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