Arte com containers e vagões coloca em xeque os rumos da cidade

O artista plástico José Resende está empilhando cinco containers de aço de 12 metros de comprimento cada um na esplanada da Fundação Memorial da América Latina. Empilhando não é a melhor palavra. “Compondo” talvez seja mais correto. Nos dias 11, 12 e 13 de setembro, às 9, 12 e 15 horas, quem passar pela Barra Funda verá composições diferentes, qual lego em mãos infantis, na Praça Cívica do Memorial. São experimentos de montagens contínuas envolvendo grandes volumes. A ação tem a ver com o que o crítico Ronaldo Brito chama, na obra recente de Rezende, de “embates cegos com materiais notoriamente refratários a qualquer formalização regular, explorando atritos, aversões e impregnações exclusivamente materiais e, por serem esses materiais em geral comuns, pesados e industriais, favorecendo livres associações com processos de construção”.

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Ao mesmo tempo, o artista está cobrindo, com uma tela usada em construção civil, mais de um quilômetro de vagões de trem abandonados há pelo menos dez anos na altura da Estação da Mooca, na capital paulista. Os containers tem volumes equivalentes aos vagões. A região entre o Memorial e a Mooca é unida por uma linha de trem de passageiros e de carga. Com a ida da maioria das indústrias para fora de São Paulo, as margens do antigo caminho de ferro permanecem tomadas por galpões semi-abandonados. A paisagem dá o que pensar.

O espólio da extinta Rede Ferroviária Federal foi adquirido por uma siderúrgica e deve ser derretido mais cedo ou mais tarde. A questão que se impõe é o que fazer com o espaço livrado da era industrial. Essa é a reflexão que motiva o projeto  Canteiro de Operações – vencedor do edital “Arte na Cidade”, da prefeitura – concebido por um artista, um filósofo e uma engenheira: José Resende, Nelson Brissac Peixoto e Heloísa Maringoni. “E importante a arte puxar essas questões”, comenta Brissac. Os três escreveram: “A ideia por trás dessa proposta de alterar a situação existente de abandono desses vagões é apontar uma discussão a ser feita, buscando tirá-la do senso comum ao ampliar o repertório de questões a serem pensadas, onde se associam as possibilidades que as técnicas podem abrir de transformação, remoção ou sucateamento, às implicações urbanísticas de ocupação”.

 




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