Com os pés e a cabeça na Lua

A NASA – agência espacial americana – estava para lançar uma missão do ônibus espacial rumo à estação internacional no Cosmo. Na carga estava uma gaveta com um projeto de experimento científico brasileiro. Isso lá pelos anos 1990, não me lembro exatamente da data. A revista onde eu trabalhava me pautou a matéria. Fui a Cape Canaveral, na Flórida. E o que vi foi mais espantoso que a partida do foguete. Deparei- me com um pé. Esquerdo.

Entenda-se, não era um pé qualquer. Pertencia ao astronauta americano Neil Armstrong: o primeiro a pisar na Lua, justamente com aquela canhota tamanho 41, bico largo. Foi experiência como aquela dos macacos encontrando o monolito do filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço (direção de Stanley Kubrick, 1968). Ali, diante de meus olhos, estava o carimbo que deixou a pegada nas estrelas ou, pelo menos, no satélite – em 20 de julho de 1969.

Eu já havia visto os pés de Pelé – ao vivo e em cores, desnudo. Observei também o pequeno patamar que sustenta aquele grande monumento: Angelina Jolie. A antiga modelo Rose di Primo, dona de bunda galáctica, tinha seis artelhos. E por aí vai… Mas nenhuma extremidade humana causou-me maior espécie.

No dia 20 de agosto último, aquele pé espantoso juntou-se ao outro e foi para debaixo da Terra. Neil Armstrong morreu depois de cirurgias para desentupimento de artérias. O grande skywalker não caminha mais entre nós. Deve estar voando com asas próprias.

Armstrong não era homem de muitas palavras. Distante, como se a cabeça ainda estivesse na Lua, ele cumprimentava as pessoas educadamente e seguia andando. Para mim, nem precisava ter dado a mão – como o fez educadamente –, bastava ostentar aquele 41 bico largo, ainda que estivesse coberto por um sapato de lona e solado grosso. Pensei: “Pena que não calça os chinelos de cristal da Cinderela. Daria para ver os dedos e as unhas”.  O conforto veio da lembrança de que o homem não estava descalço quando deu aquele grande passo para a humanidade. De todo modo, não papeamos.

Diferentemente do encontro que tive tempos depois com o segundo homem a pisar na Lua. Buzz Aldrin conversou comigo por mais de três horas. Místico, ele havia ido à cidadezinha de Taos, Novo México, para um festival de artes e espiritualidade. Nós nos sentamos em uma pedra no alto de um monte, longe das luzes artificiais, olhando aquele céu impossível do deserto.

Enquanto ele falava sobre o Cosmo, eu ia escrevendo em um bloquinho. Em determinado momento, Buzz tirou um papelzinho de uma bolsinha de pano, colocou fumo dentro e, ali sob a Lua em que ele havia pisado, queimou um baseado. Aprendi naquele momento que Neil era o pé, e Buzz era cabeça.


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