Esse 13.10, é dia de celebração para Gilberto Mendes. Nascido, há exatos 90 anos, em Santos, litoral-sul paulista, o compositor tornou-se célebre por experiências radicais no ambiente da musica erudita e, coincidentemente, veio ao mundo no ano em que o Brasil testemunhou o nascimento dos mais expressivos movimentos de vanguarda artística, deflagrados pela Semana de Arte Moderna de 1922.
Depois de apostar por dois anos na formação de direito, Mendes abandonou a graduação na Universidade do Largo São Francisco, em São Paulo, e retornou a Santos, iniciando, tardiamente, seus estudos musicais aos 19 anos. Há mais de sete décadas, dedica-se integralmente a música e teve no encontro com grandes nomes da cena erudita brasileira e mundial – os maestros Olivier Toni e Cláudio Santoro, os compositores Karlheinz Stockhausen e Pierre Boulez, entre eles – nortes estéticos substanciais para compor um repertório cultuado ao redor do mundo, com peças de música aleatória experimental e teatro-musical, plenas de inventividade, como Motet em Ré Menor (Beba Coca-Cola), Santos Footbal Music, Nasce-Morre e O Último Tango em Vila Parisi, entre tantas outras.
Outro encontro de convergências inspiradoras deu-se com a aproximação do compositor e a tríade de poetas concretistas paulistanos, Décio Pignatari, e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, na transição dos anos 1950 para a década seguinte. Foi na revista Invenção, idealizada pelos concretos, que Mendes publicou o manifesto Música Nova, assinado, em 1963, por ele, maestros e compositores, como os irmãos Régis e Rogério Duprat, Julio Medaglia, Damiano Cozzella e Willy Corrêa de Oliveira.
Influenciado pelas lições de vanguarda da Neue Musik alemã, o Música Nova propunha um rompimento com a tradição folclórica de nacionalistas ortodoxos, como o maestro Camargo Guarnieri, e defendia a inserção de modernas linguagens na música erudita (e também popular, vide a participação decisiva de Duprat para o Tropicalismo) produzida aqui. No ano anterior a publicação do manifesto, Mendes idealizou, em Santos, o festival de mesmo nome, importante vitrine da produção contemporânea, que chegou em 2012 aos 50 anos e a 46a edição.
Para celebrar os 90 anos do compositor santista, seu filho, o cineasta Carlos Mendes, que dirigiu, em 2005, o documentário Gilberto Mendes, uma Odisséia Musical, produziu uma série de 90 microfilmes, intitulada 90 anos, 90 Vezes Gilberto Mendes, que somam mais de sete horas de depoimentos do compositor, onde ele recorda momentos decisivos de sua formação e de sua trajetória ímpar. Os vídeos estão disponíveis em sua totalidade, à partir de hoje, no Youtube (veja aqui: http://www.youtube.com/watch?v=rpZ-kHzbtb8).
Em setembro, nossa reportagem foi a Santos e passou uma aprazível tarde na casa de Gilberto Mendes, onde ele falou de sua infância, sua formação, discorreu sobre sua paixão pelo cinema e o interesse pela música popular brasileira e estrangeira. “Fiquei tão entusiasmado com João Gilberto, quanto fiquei com os Beatles. Quem trouxe o primeiro disco deles foi o Carlos, o compacto de I Wanna Hold Your Hand. Ouvi e achei aquilo tão lindo quanto ouvir Chega de Saudade, uma coisa muito nova em termos de samba e ali estava algo novo em termos de rock, que para mim era porcaria, uma deturpação do blues e do boogie-woogie. Eu tinha horror ao som da guitarra nos tempos do Elvis Presley. Quando ouvi os Beatles, pensei: ‘Mas que esquisito, eles estão conseguindo fazer essa maravilha com uma guitarra elétrica?!’”, recordou ele, na ocasião do nosso encontro.
Confira a íntegra da reportagem na edição de outubro da Brasileiros.
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