Congestionamento no confessionário

O escândalo que derrubou o governador de Nova York, Eliot Spitzer, deu início a um fenômeno esquisito na política americana. Spitzer, como até as pedras sabem, foi denunciado como freguês de carteira de um serviço de acompanhantes. Seu substituto, o vice-governador David Paterson, assumiu o cargo vago no Executivo. Ele é o primeiro mulato e o primeiro deficiente físico a ocupar a cadeira de governador do estado.

Paterson é, como dizem em inglês, legally blind (na tradução ao pé da letra, legalmente cego). Escaldado, o novo mandatário resolveu confessar pecados passados, para que os esqueletos em seu armário não venham assombrá-lo no futuro. Imediatamente depois de empossado, ele revelou que teve vários casos amorosos extraconjugais, e que sua mulher também pulou a cerca. Os nova-iorquinos engoliram a surpresa e elogiaram a honestidade do estreante. E, ao que parece, Paterson gostou do confessionário.
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Mal passou o choque das revelações sobre a vida sexual do primeiro-casal e Paterson estava novamente dando entrevistas com novas surpresas. Admitiu que fumou maconha e cheirou cocaína na juventude. O homem parece embalado, disse que vai contar qualquer pecado que tenha cometido. Imagino o que vem por aí: “Governador Paterson: ‘Minha visão é 20/20. Enxergo tudo! Sou ilegalmente cego’”. Ou, então: “Jimmy Hoffa (o sindicalista assassinado em 1975, cujo corpo jamais foi encontrado) está enterrado no meu quintal. E tem mais: gosto de fazer orgias com cabritos”.

A classe política está de olho nos índices de popularidade de Paterson, o honesto. Caso os indicadores sejam de aumento de ibope, a moda das confissões pode pegar. O que terá para dizer, por exemplo, um Bill Clinton? “Senhores, devo admitir que mantive relações sexuais orais com aquela mulher (Monica). Mas foi só! Eu não tinha fôlego para levar a coisa às últimas conseqüências, pois na época mantinha um cacho fervoroso com a secretária de Estado, Madeleine Albright. Aquela coroa é fogo! Me deixava seco”.

Imediatamente depois desse petardo, a popularidade de Hillary Clinton subiria – é aquela história da coitadinha, da mulher traída, que já lhe rendeu muito no passado. Para não ficar por baixo – no bom sentido -, Barack Obama também jogaria pesado: “Não sou mulato. Sou um judeu sabra e faço banho de luz artificial para pegar um bronze. Esta história de meu pai ser queniano é papo furado. Eu contratei uns negros da Louisiana, vesti a turma com panos coloridos, e posei com eles”.

E, se está bombando nos Estados Unidos, a turma no Brasil vai logo copiando. Não tardariam as manchetes: “Fernando Henrique reconhece: ‘Meus diplomas são falsos. Nunca me formei no primário’”. “Lula confessa caso amoroso com o falecido humorista Costinha.” É o fim do mundo. Pior do que político desonesto, só mesmo aquele que faz e conta. Paterson estaria melhor sendo mudo.


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