Nova edição em revista

LIVRO
As páginas de papel
que o vento espalhou
ficaram à tona d’água
brancas brancas
O conjunto delas
talvez formasse
um livro

Fernando Fortes

ARCANO
Meu Deus, quantos somos
na vida, no amor
no abandono;
quantos sonhos perdemos
entre servos e donos
de perversos enganos;
e depois de iludidos
no ludíbrio dos anos
só nos resta a seresta
a relíquia dos danos.

Fernando Fortes

 
Fui lá na página 473 dessa publicação e me vali de Fernando Fortes para encontrar o início desses comentários sobre Livro – uma edição primorosa que nos ajuda a pensar e, mais ainda, a acreditar que o Brasil sabe “fazer”.

De Jacó Guinsburg a Rodrigo Lopes de Barros, tudo é bom, interessante e bem cuidado. Aliás, sem exagerar para não parecer uma “ação entre amigos”, mas ressaltando o que precisa ser ressaltado, onde Plinio Martins Filho e Marisa Midori Deaecto, editores da revista, investem seus esforços, acontece sempre o melhor. Ele é um editor dedicado, um autor reconhecido pelos seus textos, mas e acima de tudo um professor que merece ser chamado de mestre. Ela, uma jovem professora que vem demonstrando um alto grau de erudição em suas publicações vide, por exemplo, seu último livro – O Império dos Livros: Instituições e Práticas de Leitura na São Paulo Oitocentista, que recebeu o prêmio Sérgio Buarque de Holanda da Biblioteca Nacional. O número 2 de Livro está aí para comprovar minhas afirmações.

A busca dos textos selecionados, que dão conta de uma gama de temas, nos reconduz à nossa formação com uma linda viagem do Sebo à Editora, pelas mãos seguras de Jacó e, na sequência, pela seção “Leituras”, em que diferentes autores nos mostram, desde a História do Livro até o Romance Popular e no “Dossiê Artífices do Livro” – que nos dá conta de como Conceber e Fabricar um Livro: Um Empreendimento de Equipe, mas também nos mostra um Livro de Artista, vamos nos envolvendo com a proposta daqueles que conceberam e editaram a revista.

HOJE E ONTEM O número 2 de Livro e capa de publicação de 1939 reproduzida na edição

Digamos que essas duas partes distintas se completam e constituem o âmago desse número. É ponto essencial.

Em seguida, estamos diante de diversas seções, ao mesmo tempo, independentes e interligadas. São elas: “Arquivo, Acervo, Almanaque, Memória, Bibliomania, Estante Editorial, Debate e Letra & Arte”. Por que as identifiquei? Porque espero que elas sejam mantidas nos próximos números. É a forma de criar uma identificação e permitir que autores diferentes possam falar de assuntos diversos, diversificados e recuperar não só a memória de pessoas que estão caindo no esquecimento, mesmo dentro da universidade, e que foram fundamentais para que os livros e revistas continuassem a ser editados, mas também resgatar temas e termos quase em desuso. Quantas e quantas obras não existiriam não fosse o esforço de tantos homens e mulheres abnegados, que buscaram os originais e os submeteram às editoras e outras que lutaram por belas reedições.

E, talvez, eu nunca tomasse conhecimento do termo “bisbliotecar”, embora vivesse parte de minha vida nas bibliotecas de todas as instituições onde estudei ou trabalhei.

Creio que não há muito mais a acrescentar, mas necessário ressaltar a qualidade e a beleza das ilustrações de Kaio Romero; e ainda repetir as palavras de trecho do Editorial, quando salienta: “Resulta da busca laboriosa por trabalhos inéditos, versados em livros, no Brasil e no exterior. E, vale dizer, do esforço coletivo de professores, pesquisadores e profissionais, amigos do livro, enfim, que com muito desprendimento tem nos apoiado desde o número de estreia”.

E que novas edições se façam e com a mesma vontade desse grupo exemplar de mestres que adoram o que fazem e amam os livros.

*Historiador e professor emérito da USP


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