Arte Basel de Miami: arte e dinheiro dormem juntos

Fotos Divulgação e Leonor Amarante

Depois de dois dias caminhando pela Art Basel Miami Beach, a poderosa feira de arte, tomo o café da manhã com Patrick Charpenel, diretor da coleção Jumex do México. Após contarmos as novidades profissionais, ele me confessa que ainda não tinha superado o mal estar que sentira numa reunião do dia anterior, na qual vieram à tona aspectos devastadores do atual sistema de arte, refém do mercado, voraz e deslumbrado com o poder do dinheiro.

Charpenel, como todo integrante do sistema de arte, se sente incomodado com a atual situação da arte, em que não se discute mais a qualidade de uma obra. Tudo gira em torno do valor alcançado no mercado. Há muito mais gente tentando compreender aonde chegamos e alguns já estão caindo fora.

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Em outras palavras, o que se pergunta é até quando os preços vão continuar subindo astronomicamente? Um crítico deve mesmo dar suporte para bilionários alavancarem suas coleções? Quando vamos restabelecer o respeito e o discernimento entre o que é bom e o que é ruim, sem levar em conta a cifra alcançada por uma obra?

Charpenel estava mesmo reflexivo. Quando eu sugeri que ele escrevesse algo sobre isso ou sobre a feira, foi taxativo. “Não vou escrever uma única linha sobre a feira, nem um artigo que tome o evento como ponto de partida. Se você quiser posso fazer um texto sobre os artistas contemporâneos mexicanos, que você me havia sugerido. Isso eu acho interessante neste momento.” Então, ficamos combinados assim.

Despedi-me e fui caminhando para a Art Basel Miami Beach, agora chamada de ABMB tentando digerir nossa conversa. Mas, quando chego à sala de imprensa sou surpreendida por uma discussão entre uma jornalista italiana e um videomaker suíço. Ela, uma jovem free-lancer, ele colaborador do Beaux Arts Channel. Eles debatiam o artigo do The Art Newspaper, sob o título: Quem tem medo da Arte Contemporânea?

A matéria se referia ao texto de Adam Lindemann, colecionador, marchand e colunista eventual, que escreveu no New Yorker Observer, há um ano, que não iria à Art Basel Miami Beach porque não queria se acotovelar com pessoas que nem fingiam se interessar por arte. Ele não cumpriu a promessa e acabou aparecendo. A colunista do The Art Newspaper, Charlotte Burns, pegou o artigo de Lindemann como mote, e fez uma espécie de Occupy Art Basel Miami Beach.

Há algum tempo se comenta e se duvida do estado de saúde da arte contemporânea no mundo e o barulho em torno disso está se ampliando. “Arte e dinheiro têm dormido juntos desde o início dos tempos. A diferença é que hoje há mais gente com dinheiro, gastando mais dinheiro com publicidade”, diz o crítico Jerry Saltz.

Temos curadores de instituições públicas trabalhando para fundações privadas. O jornal cita Massimiliano Gioni, diretor associado do New York Museum como também diretor artístico da Fundação Nicola Trussardi. Outro citado foi o diretor do Museu Andy Warhol, que está organizando um segmento americano para a próxima feira Armory Show, de Nova York, que acontecerá de 7 a 10 de março do próximo ano.

John Elderfield, curador chefe de pintura e escultura do MoMA, não foi poupado e, segundo o jornal, está ligado à galeria Gagosian, desde o começo deste ano. Vários colegas curadores hoje trabalham nos dois lados da rua: com clientes particulares – e, pior, como curadores com galerias – e com instituições públicas. “Esta é uma linha que não irei cruzar”, diz Robert Storr, da Yale University School of Art.

Outros dizem que as instituições estão interagindo com maior vivacidade com o mercado. O MoMa, por exemplo, abriu uma mostra em outubro que vai até o dia 29 de abril de 2013, a Munch´s The Scream, 1895, (O Grito, de Munch, 1895), poucos meses depois da obra ser arrematada num leilão, por U$ 119,9 milhões, por Leon Back, um financista e membro do MoMA. O quadro foi considerado o mais caro adquirido num leilão.

Já tinha lido e ouvido bastante sobre o imbróglio do mercado quando sai da sala de imprensa. Juntando a conversa com Patrick Charpenel, a discussão da jornalista italiana com o videomaker suíço, mais o artigo do The Art Newspaper fiquei pensando que tudo está, realmente, precisando se reencontrar.


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