Operação Antártica

Reconstrução – Detalhe de um dos módulos que irão compor a estação provisória

É a maior operação Antártica já realizada pela Marinha do Brasil, envolvendo cinco navios – três da Marinha do Brasil, um da Armada Argentina e um navio mercante cargueiro alemão – e cerca de 540 pessoas, entre tripulantes, pesquisadores, fuzileiros navais e operários do Arsenal de Marinha. Os objetivos da Marinha e dos demais ministérios e instituições que integram a Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM) englobam a continuidade do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), iniciado em 1982; a remoção dos destroços e limpeza do terreno onde ficava a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), destruída por um incêndio no começo de 2012; o transporte de todo o material retirado de volta ao Brasil e a montagem de uma estação provisória, usando como base a estrutura do heliponto de Ferraz.

Além dessas atividades na Antártica, reforçando o papel do Brasil como membro do Tratado Antártico, que rege as atividades no continente gelado, a Secretaria Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM), em conjunto com o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), vai lançar neste mês um concurso internacional para escolha do projeto da nova Ferraz. Pela programação, as obras de construção da nova estação deverão ser iniciadas no verão de 2013/2014, depois de escolhidos o projeto e a empresa responsável pelas obras.

A primeira fase da operação começou em novembro, quando o navio polar Almirante Maximiano, em atividade na Marinha desde 2009, chegou à Antártica com 150 pesquisadores a bordo, responsáveis por 18 projetos de pesquisa planejados para o verão 2012/2013. Cinco desses pesquisadores ficarão em uma estação polar argentina, a Base Camara, na Ilha Livingston, cedida pelo governo argentino. Outros grupos foram levados pelo Almirante Maximiano para o refúgio brasileiro Goeldi, na Ilha Elefante, em acampamentos em outras ilhas da região.

A bordo do Max, as pesquisas envolverão, entre vários campos científicos, oceanografia, geologia e biologia. Ao principal navio polar brasileiro, nessa Operantar, caberá, assim, dar suporte logístico, científico e de transporte às pesquisas, suprindo a ausência temporária da EACF. O Almirante Max passará todo o período do verão antártico, que vai de novembro a março do ano seguinte, atuando como ponto de apoio, transporte, estação científica e moradia dos pesquisadores encarregados dos projetos científicos aprovados pelos ministérios e centros de pesquisas envolvidos.

O trabalho mais pesado tem ficado com os 36 integrantes do Grupo Base (que deveria ficar um ano em Ferraz) e militares do Batalhão de Engenharia dos Fuzileiros Navais e os 40 engenheiros e operários do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. Desde novembro, com apoio do navio de socorro submarino Felinto Perry, da Marinha, e do mercante alemão Germânia – adaptado para alojamento e transporte dos destroços –, eles estão realizando o trabalho de demolição dos escombros e retirada do material na área da antiga estação. O inverno longo e forte, com toda a área da Enseada Martell, onde fica Ferraz, coberta por grossa camada de gelo e neve – um fator que, inicialmente, foi julgado como problema e dificuldade extra ao trabalho –, acabou tendo um efeito colateral positivo.

Com tudo congelado, a poluição que poderia ser causada pelos restos da EACF, incluindo esgotos, materiais químicos e potencialmente tóxicos, acabou não ocorrendo. Assim, a retirada dos escombros junto com o gelo e a neve teve impacto mínimo em termos de poluição. Para o subsecretário do PROANTAR, capitão de mar e guerra José Correa Paes Filho, o cronograma, que prevê a limpeza total da área onde ficava a EACF, deverá ser mantido, com previsão de término ainda neste mês.

Já a montagem da estação provisória, que terá capacidade para 65 pessoas, deverá ser iniciada na segunda quinzena de janeiro, ficando concluí­da em, no máximo, 30 dias. O projeto, desenvolvido e construído pela empresa canadense Weatherhaven, foi escolhido pela Marinha depois de uma consulta internacional em que participaram 30 empresas nacionais e estrangeiras. “Essa empresa tem longa experiência em projetar, construir e montar instalações capazes de resistir desde o frio mais intenso até o calor de verões tropicais”, explica o capitão de mar e guerra Geraldo Juaçaba, que já foi durante muitos anos da SECIRM e agora é o assessor especial para o programa de reconstrução de Ferraz.

Serão montados, a partir do dia 15 de janeiro, data prevista para a chegada do equipamento, trazido desde Punta Arenas, no Chile, pelo navio de transporte San Blas, da Armada Argentina, 43 módulos residenciais de pesquisa (uma espécie de contêiner que se desdobra, aumentando em até quatro vezes o tamanho), serviço (banheiros, cozinha e refeitórios) e áreas comuns. O equipamento, denominado pela Marinha de Módulo Antártico Emergencial (MAE), permitirá a montagem de um conjunto capaz de, ao longo de pelo menos cinco anos, servir como base “permanente” na Antártica, enquanto se desenvolvem as obras da futura estação.

O transporte do MAE foi feito até Punta Arenas desde Montreal e Vancouver, no Canadá e Durban, na África do Sul, locais onde a empresa tem instalações industriais. O custo total da estação provisória é de R$ 13,8 milhões, explica o comandante Geraldo.

Com relação ao projeto da nova estação, a opção do concurso internacional de arquitetura, de acordo com o comandante Geraldo Juaçaba, foi uma escolha natural. Ele diz que há um termo de referência extremamente detalhado para a futura estação e uma das condições básicas para os concorrentes será a experiência comprovada na realização de obras na Antártica.

A parceira com o IAB, para o responsável pelo programa de reconstrução da estação,  foi considerada como garantia de que o concurso obedecerá a regras e padrões rigorosos, garantindo que o projeto represente o “estado da arte” em termos de instalações antárticas. O novo projeto, assim como já ocorreu com o da estação provisória, terá de obedecer às rigorosas exigências que cercam qualquer construção ou reforma de base e instalações científicas na Antártica. “O Protocolo de Madri tem exigências claras. Por exemplo, em caso de uma reforma ou reconstrução de instalações antárticas, o novo prédio deverá ocupar a mesma área do anterior. Nesse caso, conseguimos a liberação do serviço ainda em 2012”, diz o comandante Geraldo. Desse modo, Ferraz, como a fênix lendária, vai renascer das cinzas. E muito mais bonita.


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