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Se você for consultar o Aurélio, está lá. Entre outros significados, garrafada é uma “beberagem de curandeiro aplicada como remédio”. Se o remédio for música, Garrafada é um santo remédio. O DJ Tudo, codinome do músico, produtor e pesquisador Alfredo Bello, não se considera um curandeiro, mas opera mágica ao misturar elementos populares autênticos com técnicas de música contemporânea/eletrônica. “Abertura”, a primeira faixa de seu CD, dá a linha do trabalho. É como se o artista, ao se dividir, multiplicasse o resultado. De um lado Alfredo comanda com seu baixo acústico a bateria e a zabumba de Simone Sou, as vozes de Luiz Gayotto e Rubi, as guitarras de Gustavo Ruiz e Estevan Sinkovitz, as cordas arranjadas por Eduardo Nazarian, a sanfona de Olívio Filho, as congas de Toca Ogan, o canto embolado de Mestre Verdelinho e a voz arrastada de Capitã Odete da Guarda de São Benedito e N.S. do Rosário de Cabana, de Belo Horizonte (MG). De outro, o DJ Tudo dá conta dos samplers de índios Suyá, de vozes búlgaras, cantos do mundo islâmico e intervenções do lendário Damião Experiência.
O disco é o terceiro da série Novas Estruturas, do selo Mundo Melhor, criado por Alfredo em 2004. Os outros são de grupos que mantém com a mulher, Simone Sou – integrante das Orquídeas, banda criada por Itamar Assumpção. São eles Projeto Cru, com o saxofonista Marcelo Monteiro, e Batucajé, ao lado da percussionista Jadna Zimmerman e o baterista Robertinho Silva – ambas as formações estão presentes em Garrafada.
A outra série do selo, Brasil Passado Futuro, que desde 2004 já lançou 14 títulos, é a menina dos olhos do pesquisador. A coleção é disponibilizada em streaming no site do selo Mundo Melhor (ver abaixo), contemplado com o prêmio “Maestro Duda” de Culturas Populares do Ministério da Cultura de 2007. A realização de Garrafada, por sinal, se deve em grande parte ao prêmio Estímulo à Música, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, também conquistado em 2007. Um bom ano pra Alfredo Bello, um mineiro de Juiz de Fora (MG) que cursou ciências sociais e música na Universidade de Brasília, cidade onde formou o grupo Os Cachorros das Cachorras, que já aliava rock e ritmos de raiz. Estabelecido em São Paulo, onde divide com a mulher o estúdio Terreiro du Passo, acumulou, em mais de uma década, 800 horas de gravação, um acervo de mais 8,5 mil discos de vinil e instrumentos vintage, como teclados e sintetizadores Moog e Korg, e órgãos Caribean e Hammond. Alfredo trabalhou com artistas como Lee Scratch Perry, Otto, Junio Barreto, Marku Ribas, Adrian Sherwood, Dona Zica, Gero Camilo, Cérebro Eletrônico, Luiz Gayotto, Thera Blue e Carlos Zimbher, além de ter produzido discos de fusão com música indígena Caiapó e Mehinaku, com a participação de Naná Vasconcelos, Egberto Gismonti, Gilberto Gil e Badi Assad, entre outros.
Para apresentar seu Garrafada pelo País, o DJ Tudo conta com uma banda mutante pinçada entre os participantes das 13 faixas do CD, que inclui remixes para músicas de Júnio Barreto e Gero Camilo, além de raps, forró e recriações como “Baião de Viola – É o Dedo”, música que reúne a poesia de Mallarmé ao repente nordestino, como nos poemas de Solymar Cunha criados para as festas Afrofuturismo realizadas em Brasília no início desta década. O show Garrafada, que já foi apresentado na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e no Distrito Federal, deve aterrar no Rio de Janeiro e em São Paulo em agosto.
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