Ponto de convergência

Tombado pelo patrimônio histórico em 1987, o prédio retangular e seu enorme pátio interno foram submetidos a um primoroso proje to de reforma e restauro que demandou seis anos para ser concluído.

Cercado por dezenas de palmeiras imperiais, o imponente casarão instalado no número 159 da rua General Severiano, no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, passa a sediar, desde 23 de março, a Casa Daros. Com um terreno de 12 mil m2, o prédio neoclássico projetado pelo arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva teve suas obras concluídas em 1866. Era uma antiga chácara doada, em 1819, à Santa Casa de Misericórdia. O edifício abrigou ao longo do século 19 o Recolhimento de Santa Teresa, um orfanato para meninas, e no século seguinte o Educandário de Santa Teresa. Comprado em 2006, o casarão será palco de um ambicioso projeto da Daros, que seria realizado em Havana, em Cuba, mas que acabou contemplando a cidade do Rio de Janeiro. A instituição suíça, sediada em Zurique, foi criada em 2000 pelo diretor artístico e curador Hans-Michael Herzog e partiu de uma coleção que hoje soma 1.100 obras, produzidas por 116 artistas latino-americanos ou estrangeiros que desenvolvem suas carreiras na América Latina.

Tombado pelo patrimônio histórico em 1987, o prédio retangular e seu enorme pátio interno foram submetidos a um primoroso projeto de reforma e restauro que demandou seis anos para ser concluído e a dedicação de cerca de 250 trabalhadores. O projeto começou a ser desenvolvido, em 2007, por Paulo Mendes da Rocha e, no ano seguinte, passou a ser conduzido pelo escritório Ernani Freire Arquitetos Associados. A conclusão da obra estava prevista para 2009, mas as adequações necessárias para as demandas de modernização, respeitando os critérios de restauro, fizeram com que o cronograma da Casa Daros fosse adiado.

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“A expectativa que temos com o projeto, é que ele seja uma plataforma de reflexão e de debate sobre a arte contemporânea, onde a voz do artista é nossa prioridade. Chegamos em uma cidade que, nos últimos anos, borbulhou culturalmente e agregar é um desafio ainda maior, mas muito legal, porque a gente se vê como parte de algo em que não existe a mínima concorrência. As instituições podem somar, fazer coisas juntas. Conseguimos construir uma rede que o Hans chama de ‘parceiros mentais’.” Diretora-geral da Casa Daros, Isabella Rosado Nunes, faz referência a parceiros locais, como o MAM Rio, o Oi Futuro e Centro Cultural Banco do Brasil, e também reflete o bom momento para as artes visuais vivido pelo Rio de Janeiro, que neste mesmo mês de março ganhará outra importante instituição cultural, o MAR – Museu de Arte do Rio.

Para o cubano, Eugenio Valdés Figueroa, diretor de arte e educação da Casa Daros, o atraso na abertura do espaço é fato irrelevante. Entusiasmado com a chegada do tão sonhado dia em que verá o espaço tomado pelo público, Figueroa reitera o discurso de Isabella: “Acreditamos que é importante termos uma sede fixa e o processo foi mais demorado do que a gente imaginava, mas é preciso manter o vigor das ideias e, afortunadamente, contamos com o apoio dos artistas. A Daros considera que o artista e a obra de arte são o ponto de partida e, ao contrário do que as pessoas acham, os latino-americanos não se conhecem o suficiente. E se vamos falar, sobretudo, de produção artística, a falta de informação entre uns e outros é enorme”, defende Figueroa.

A primeira investida no sentido de promover aproximação será a exposição Cantos/Cuentos Colombianos, coletiva que faz um recorte da obra de dez dos mais expressivos artistas da Colômbia: Doris Salcedo, Fernando Arias, José Alejandro Restrepo, Juan Manuel Echavarría, Maria Fernanda Cardoso, Miguel Angel Rojas, Nadín Ospina, Oscar Muñoz, Oswaldo Maciá e Rosemberg Sandoval. A coletiva permanecerá aberta até 8 de setembro e dará lugar à Lumière, que reunirá parte significativa da obra cinética do argentino Julio Le Parc. A Casa Daros também promoverá residência de artistas, abrigará um núcleo educativo, oficinas, seminários, cursos, biblioteca e um auditório para cem pessoas. O espaço também oferecerá ao público café, restaurante e uma loja. Nos dias que antecedem a atividade da Casa Daros, a ansiedade toma conta de toda equipe: “Estamos curiosos para saber o que vai acontecer. Temos a maior alegria de ter participado de algo que dá a cidade do Rio de Janeiro um espaço único de arte na América Latina”, revela, entusiasmada, Isabella.


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