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Com a presença do ex-ministro da Fazenda e professor da FGV, Luiz Carlos Bresser-Pereira, do advogado e sócio da Felsberg e Associados, Thomas Benes Felsberg, e dos economistas Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP e ex-presidente do Conselho Federal de Economia, e Luiz Fernando de Paula, professor da UERJ e presidente da Associação Keynesiana Brasileira, o segundo painel do Seminário “Rumos da Economia” aconteceu nesta sexta-feira à tarde, e discutiu estratégias para fomentar os investimentos para alavancar o crescimento econômico do País.
O primeiro palestrante, e um dos grandes destaques de todo o evento, foi Bresser-Pereira, que criticou o modelo econômico neoliberal e afirmou que o modelo desenvolvimentista é o que deve ser seguido, mesmo que ajustes sejam sempre necessários. Em uma análise histórica, o ex-ministro afirmou que o Brasil teve uma taxa de crescimento média de 4,1% entre os anos 1930 e 1980 e que, a partir daí, o liberalismo levou a crises e fez com que o crescimento do país caísse.
Com os governos de Lula e Dilma, que o ex-ministro chamou de desenvolvimentistas, houve um aumento do mercado interno, e a indústria voltou a prosperar, apesar da queda nos últimos anos. O desafio maior, para Bresser-Pereira, é estimular o investimento em um país com uma taxa de câmbio altamente sobre-apreciada. “É preciso colocar a taxa de câmbio no lugar certo, o que aumenta a perspectiva de lucro dos empresários, e de investimento. O bom tripé é: nível de taxa de juros baixa, taxa de câmbio depreciada e déficit público pequeno”, afirmou.
Mas apesar da responsabilidade fiscal no País desde o fim dos anos 1990 e da queda da taxa real de juros, o ex-ministro afirma que não houve avanço significativo quanto ao câmbio no Brasil. “A taxa de câmbio continua altamente apreciada. Nosso problema não é mais o juros alto”. Ele admitiu, no entanto, que o problema não tem fácil solução: “Não é fácil estar na pele da Dilma ou do Guido, porque na economia o cobertor é curto”.
Para Antonio Corrêa de Lacerda, segundo palestrante do painel, o Brasil resistiu bem à crise econômica mundial, apesar de não ter hoje as taxas de crescimento desejadas. “Mas temos o desafio agora de dar um salto. Precisamos crescer e transformar o crescimento em desenvolvimento, em algo qualitativo”, disse. Lacerda falou também na necessidade de combater a inflação, que chamou de “o pior dos impostos”, por prejudicar os mais os pobres.
O palestrante seguiu sua fala com uma análise do consumo e do investimento. “Temos conseguido ampliar o volume de consumo, mas a indústria está praticamente estagnado. O desafio é ganhar condições de competividade com a produção doméstica”. Lacerda disse também que o investimento interno no Brasil é ainda abaixo do desejado, mas o externo se mantém. “É preciso investimento doméstico para a ampliação da infraestrutura no país”, concluiu. “Temos que transformar o potencial de crescimento não em uma promessa futura mas em uma realidade presente”.
Thomas Felsberg, em seguida, foi categórico ao dizer que “dinheiro no mundo não falta, mas o que falta são projetos confiáveis”. Nesse sentido, ele afirmou que apesar de o BNDES ser o grande financiador da infraestrutura no Brasil, é altamente necessário o complemento com investimentos privados. Felsberg afirmou que ”está faltando confiança do governo no setor privado e vice-versa”, ressaltando a necessidade de um diálogo claro entre as partes.
O advogado entrou também na questão da segurança jurídica brasileira. “A insegurança jurídica é um problema. Ajustes nos marcos regulatórios diminuiriam os riscos que existem nos investimentos em infraestrutura”. Também sobre esse assunto, Felsberg fez uma proposta concreta que acredita necessária: “Seria importante haver dentro do governo um grupo que servisse para acelerar processos e viabilizar os investimentos”.
O último palestrante do painel, Luiz Fernando de Paula, foi mais um que afirmou que a taxa de crescimento do Brasil está muito baixa, contrariando o que defendeu o ministro da Fazenda Guido Mantega anteriormente. “A queda do investimento contribuiu para a estagnação da economia em 2011 e 2012”, afirmou. Segundo ele, desde os anos 80 o Brasil tem tido pequenos ciclos de crescimento seguidos de desacelerações abruptas. No caso atual, o economista afirmou que a utilização de capacidade da indústria desacelerou, porque parte do estimulo causado pelo mercado interno foi suprido pela importação, não pelos produtos nacionais.
Quanto às atitudes do governo, Fernando de Paula vê pontos positivos e negativos. “Houve uma política ousada de diminuição de taxa de juros, que foi correta. Mas ela não gerou o aumento de consumo que poderia dar um estimulo a economia.” O economista afirmou que, apesar de ter sido eficaz no início da crise de 2008, em alguns aspectos o governo acordou tarde. “O mix de políticas do governo não foi o suficiente para voltar a acelerar o crescimento”, concluiu.
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