Na Suíça, grandes desafios

Letícia Moreira
Monica Gather Thurler

Encerrando a rodada matinal de debates do seminário Educação: Gestão e Tecnologia, Pilares para a Eficácia, realizado no Auditório Ruy Barbosa da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, Monica Gather Thurler, especialista em Inovação e Educação, e professora de ensino e pesquisa da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra, na Suíça, proferiu palestra onde deu dados reveladores da educação em seu país, notório pelos elevados índices de desenvolvimento e qualidade de vida.

Segundo Monica, cerca de 2 milhões de habitantes – a Suíça tem hoje uma população de 6 milhões de pessoas – são estrangeiros, muitos deles do Leste Europeu, que foram acolhidos pelo país em busca de refúgio ou asilo – seja por questões políticas ou sócio-econômicas. O encontro de realidades tão díspares em um mesmo ambiente educacional demanda ações frequentes de educadores e do governo suíço, que tem um sistema completamente diferente do Brasil. Ao contrário daqui, onde existe um ministério da Educação ligado a Federação e secretárias de Educação, no âmbito dos governos estaduais, na Suíça existem 26 sistemas independentes de ensino e 126 ministérios da Educação. Tal pluralidade, visa atender os aspectos multiculturais da população, que ainda lida com a utilização cotidiana de quatro idiomas: italiano, alemão, francês e romanche, língua nativa descendente do Latim.

Desde a década de 1980, Monica atua em âmbito nacional elaborando projetos que visam elevar a qualidade do ensino público e atenuar as diferenças entre alunos locais e filhos de estrangeiros. “Através das pesquisas que realizei entre 1980 e 1998, percebi que há dimensões que devem ser avaliadas na realidade escolar: organização dos trabalhos; cooperação entre professores; aspectos culturais específicos de cada escola; o projeto educacional e a liderança exercida pela direção da escola. É fundamental saber se as pessoas que trabalham nesse projeto podem, de fato, formar uma comunidade aprendente”, defende a educadora.

Monica ressaltou ainda que essas “dimensões” foram validadas há dez anos, graças a outras pesquisas realizadas em âmbito nacional, que confirmaram sua eficácia. Independente do êxito de seus projetos, há nuances que demandam grande sensibilidade dos envolvidos: “É preciso partir do pressuposto de que não há respostas prontas. O êxito do projeto dependerá de um conjunto de parâmetros e fatores humanos compatíveis e interdependentes. É preciso criar sinergia entre as pessoas e buscar equidade. Estimular a capacidade dos professores para atenuar as diferenças entre alunos que vem de famílias com diferentes realidades e predisposições diferentes. É encargo da escola dar a esses alunos objetivos de aprendizagem para que eles possam ter uma boa vida depois que saírem da escola. Uma perspectiva fundamental para resolvermos problemas que todos os países europeus e do mundo enfrentam, como a pobreza e a violência, problemas intimamente ligados a educação”, enfatizou Mônica.

Longe de constituir um roteiro infalível para sanar problemas e mazelas da rede pública de ensino, como os percebidos no Brasil, as diretrizes defendidas por Mônica demandam empenho coletivo e comprometimento de todo corpo docente. “A educação não pode ser transformada com um catálogo de boas intenções. E também não pode ser um bicho de sete cabeças, não podemos ter tantas ideias que não possamos executá-las. O projeto tem que distinguir três elementos: um núcleo de criação; novas organizações de trabalho e projetos associados a mudanças estruturais. Na França decidiram diminuir as férias e obrigaram os professores a trabalhar mais, para reduzir as reprovações, e isso fez com que a escola pública evoluísse, transformando tudo em uma ampla comunidade aprendente.”

Tal sensibilidade, defende Monica, é mesmo um diferencial para atingir metas ambiciosas. Exemplificando com estatísticas de seu país, ela enfatizou a importância de educadores estabelecerem relações humanas e individuais com cada um dos alunos: “Eles têm de se adaptar a pressupostos de diferentes professores, tem o encargo de se adaptar aos princípios de cada um deles, mas é o contrário que deve ser praticado. Os alunos mais fracos, por exemplo, são os mais prejudicados com essa prática. Os mais fortes, ao final do primeiro mês de aula, já decifraram as exigências de cada novo professor. Os mais fracos precisam de quatro meses para decodificar essa nova realidade. Com isso, perdem quatro meses do ano letivo. E necessário diminuir essa defasagem”, acredita Monica.


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