Lucros dos bancos

Quando Bradesco, Itaú e Unibanco – os três maiores bancos privados do país – publicaram seus resultados de 2007, os números não chegaram a surpreender: o Bradesco teve R$ 8 bilhões de lucro líquido, cerca de 59% superior ao do ano anterior; no Itaú, o lucro líquido ficou em torno de quatro centenas de milhões acima disso, tendo quase dobrado no ano; já o Unibanco realizou R$ 3,4 bilhões de lucro, também o dobro do resultado de 2006.

Nenhum outro setor de atividade econômica é capaz de apresentar resultados próximos disso.

Os bancos são mais bem administrados que as outras empresas? As políticas públicas os favorecem descaradamente? A questão não é tão simples. Durante as – pelo menos – três décadas de inflação superalta no Brasil, uma empresa tomar empréstimos era, no mínimo, uma atitude temerária. Isso para não falar dos consumidores. Quem já entrou no cheque especial sabe bem o que significa… Durante esse tempo, os bancos ganharam com a inflação e com os títulos do governo, o maior credor nacional. Quando a inflação “acabou”, uma nova dinâmica se impôs nesse mercado, muitos quebraram, outros foram comprados…
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Bancos são empresas capitalistas e é normal que procurem realizar o maior lucro possível. Em um país onde se aplicam taxas de juro muito altas por um longo período, no qual o crédito é relativamente pequeno para o tamanho da economia, e onde os títulos do governo apresentam uma alternativa muito rentável, o cenário é bastante cômodo para os bancos, especialmente os grandes.

Os bancos ganham pelo diferencial de taxas de juro, ou seja, eles pagam aos depositantes – nos diversos produtos financeiros que oferecem – taxas inferiores àquelas que cobram de quem toma dinheiro emprestado – o diferencial é o spread. No Brasil, o spread tem sido historicamente muito alto. À taxa que os bancos pagam às pessoas ou empresas que fazem depósitos ou compram produtos financeiros, vão sendo somadas outras: taxas administrativas, os impostos sobre o crédito, os depósitos obrigatórios que as instituições devem fazer junto ao Banco Central, a taxa de inadimplência e outras medidas de risco de não receber o empréstimo. Diante das reclamações de que cobram muito pelo dinheiro que emprestam, os bancos respondem que essas várias imposições e esses riscos impedem a queda dos juros.

Mesmo que “historicamente” determinado pelas condições de instabilidade macroeconômica do país – inflação elevada, mudança nas regras do jogo e dificuldades de fazer planos de longo prazo -,
esse desempenho não deve ser aceito como inevitável. Estabilidade consolidada, maior volume de crédito concedido em várias modalidades, mais competição entre bancos, menor risco, mais crescimento econômico poderiam contribuir para estimular o financiamento da economia e reduzir seu custo. Isso para não mencionar as importantes iniciativas de financiamento aos grupos de renda inferior, como o microcrédito.


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