Cigarras em Nova York

Anunciaram que, como no samba, o mundo iria se acabar. Ou pelo menos, teria uma zoada danada com uma praga de insetos que lembraria aquelas do Egito. Trilhões de cigarras emergeriam das profundezas da terra e explodiriam numa cantada infernal. Dizem que esse fenômeno ocorre a cada 17 anos. É quando se dá o acasalamento da espécie. As bichinhas soltam a voz em busca de machos. E quem poderá censurá-las pelo frenesi? Afinal, 17 anos a seco é coisa de enlouquecer qualquer um. Agora, na primavera de 2013, quando a temperatura do solo atingisse 17.77ᵒ  centígrados, a expectativa era de que as Brood II Cicatas – que é como elas são chamadas quando levadas à sério – sairiam da fossa. A sexual e a literal. Acontece que, até agora, o barulho deu em nada.

Não sei se as bichinhas estão mais recatadas ou levam ao exagero os caprichos nas preparações para as núpcias. O fato é que não se ouve um pio em Nova York. Ou melhor: elas estão em plena atividade em Staten Island. Mas quem considera aquele ponto no oceano parte de Nova York? Há relatos de que a sinfonia começou na Carolina do Norte e na Virgínia. Porém, lá também não conta: a capital Washington fica naquelas bandas virginianas e todo mundo sabe que coisas esquisita ocorrem no local diariamente. Aqui no meu bairro, os únicos que apitam são os cães: latindo para os esquilos. Tem cigarro –  raros nas ruas – mas cigarra mesmo, nem aquela revista brasileira de fofóca dos anos 1950 (procure no Google).

Diziam que teríamos um bilhão (isso mesmo: BILHÃO!) a cada 1,600 km2. E olha que o bicho só transa a cada 17 anos. Quem ajuda no controle populacional são os gatos. Cigarras são consideradas iguarias pelos bichanos. E, além de agradar ao paladar, essa comida ainda se presta a brincadeiras. É diversão e barriga cheia num só prato. Trata-se de uma espécie felina de McLanche Feliz, onde o alimento vem acompanhado de um brinquedo. Não é atoa que a gataiada está numa impaciência danada.

Sabe o caso da formiga e da cigarra? A primeira camelou o verão inteiro juntando comida para passar o inverno. Enquanto a segunda levou a vida na flauta, cantando e não estocando nada. No fim a trabalhadora sobrevive aos tempos frios e a segunda morre. Pois é, tudo isso é história da carochina. Não tem nada a ver com fatos da natureza. As verdadeiras cicatas tiram de letra o mau tempo. Elas se alimentam de seivas de árvores que escorrem ao subsolo. Talvez por isso não tenham dado as caras: asfaltaram e cimentaram grande parte de Nova York. As árvores sumiram e a seiva está rara para turma lá de baixo.

Mesmo assim, há algo de esquisito no reino das cigarras. O Central Park está repleto de árvores e não se ouve o canto das bichinhas. Talvez seja esperteza do inseto. Com a proliferação de tornados e furacões aqui no andar de cima, é recomendável ficar em abrigo subterrâneo. Vai que as meninas saem para dar uma bimba, bate um pé de vento e, quando vão ver, estão fazendo coral na terra de Oz, como a Dorothy. O pior será aguentar um leão, um espantalho e um homem de lata.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.