Durante todo o mês de junho, a Brasileiros publicará em seu portal a série “Direito de Escolha”, com textos sobre autismo e psicanálise. No primeiro artigo, falamos sobre o Centro de Referência da Infância e Adolescência e sobre o Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública. A série se encerra em julho, com uma reportagem na edição 72 da Brasileiros.
Direito de escolha
“Este é um movimento ético e não corporativista. Não estamos lutando por uma reserva de mercado clínico, mas pelo direito dos cidadãos terem opção na hora de escolher o tratamento mais adequado aos seus filhos”, afirma Ilana Katz, psicanalista e uma das articuladoras do o Movimento da Psicanálise, Autismo e Saúde Pública junto ao Ministério da Saúde. A mobilização conta com adesão de 450 profissionais e cem instituições parceiras. No final de maio, foram realizadas duas reuniões para apresentação dos avanços conquistados junto ao Governo Federal, Governo do Estado de São Paulo e Prefeitura.
O início
Essa reação foi iniciada no final do ano passado, quando a Secretaria Estadual de Saúde decidiu fechar o CRIA, o Centro de Referência da Infância e Adolescência, um braço do Departamento de Psiquiatria da Unifesp. O argumento era que o trabalho com orientação psicanalítica realizado ali por Pediatras, Psicólogos, Fonoaudiólogos, Terapeutas Ocupacionais, Acompanhantes Terapêuticos não tinha bases comprovadas. Que os profissionais da Psicologia Cognitivo Comportamental detinham o conhecimento específico e deveriam ser priorizados nesse tipo de tratamento. A notícia surpreendeu a todos, pois há mais de dez anos, o CRIA presta serviços multidisciplinares, gratuitos e eficientes no tratamento de bebês, crianças e jovens com diversas patologias, incluindo as vítimas de violência. Depois de intensa mobilização dos profissionais, no início de 2013 o CRIA voltou a funcionar. Em março, outra notícia surpreendeu a comunidade dos profissionais de saúde: foram demitidos 27 funcionários do CAPS-Itapeva, Centro de Atenção Psicossocial, que atende gratuitamente 600 pessoas.
Diálogos Abertos
Esse cenário de instabilidade provocou o fortalecimento do elo entre os profissionais, especialmente os interessados na linha de cuidados dispensados a crianças e jovens com Transtorno do Espectro Autista, em que o tratamento clínico psicanalítica tem efeitos comprovados: “Queremos afirmar nossa defesa aos princípios democráticos do SUS, que sustenta a pluralidade de referencias teóricas, no atendimento à população e aqui, especificamente, no atendimento ao sofrimento das crianças com autismo e suas famílias. O SUS que tem como pilar a Integralidade, entendendo a criança como um todo e seu processo de desenvolvimento”, diz Eliane Berger, psicanalista integrante do grupo de articulação com o município de São Paulo.
Foram formados vários grupos de trabalho. Maria Cristina Kupfer, Ilana Katz, Claudia Mascarenhas foram à Brasília, falar com o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Kupfer, Wagner Ranna, Lila Vidigal Dittmar e Eliane Berger foram recebidas pelo Saúde do Município de São Paulo, Jose de Filippi e pela equipe de atenção à primeira infância. Os diálogos foram bastante produtivos: “Percebemos que também temos força e, organizados, podemos fazer frente às medidas arbitrárias e revertê-las”, diz Eliane.
A intenção é dar consistência a esse diálogo já estabelecido e, com a ajuda da assessoria política Erika Pisaneschi, criar uma ação em rede que integre vários setores da sociedade, como a Educação e Promoção Social, diminuindo o preconceito e fortalecendo os processos de inclusão dos portadores de TEA que, a despeito de qualquer diagnóstico, antes de tudo, são cidadãos.
Conheça o trabalho do CRIA
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