Uma questão atemporal

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"Shaped-by-time", Desenv olvido pelo estúdio holandês Toer, revela a pass agem do temp o, Com uma comp osição orgânica a partir de um movimento mecânico repetitivo

Para propor uma reflexão sobre o tempo, sem cair em clichês, é preciso navegar pelas ideias, conceitos e trabalhos da mostra O’Clock – Time Design, Design Time, do Triennale Design Museum, de Milão, que desde a inauguração tem idealizado projetos para exibir o melhor do design italiano. Com o objetivo de incentivar a área, com total apoio da Officine Panerai (patrocinadora oficial), essa mostra saiu do território italiano e teve a oportunidade de ser exibida recentemente no CAFA Art Museum, em Pequim, China. Para tanto, demonstrando um esforço de tempo, os curadores expandiram o conceito inicial e convidaram designers chineses para interpretar o tema em questão.

A convite da Panerai, participei da abertura dessa exposição e tive a liberdade do desprendimento. Em um espaço tão curto – uma semana – voei do Brasil à China e, sem refletir muito – por falta de tempo – sobre as barreiras da língua, do fuso horário, da gastronomia, da locomoção, me deparei não só com um novo mundo, mas com uma nova forma de compreender o tempo: foquei na densidade do tempo em vez de me preocupar, desnecessariamente, com a quantidade numérica de horas disponíveis.

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A exposição O’Clock – Time Design, Design Time não tenta resgatar a história nem documentar dados relacionados aos relógios digitais, analógicos, do Sol, dos mestres de design que elaboraram as suas peças, instrumentos, calendários para medir o tempo. Silvana Annicchiarico, diretora do Triennale Design Museum, e Jan Van Rossem, ambos curadores desta exposição, mostram as possíveis relações de alguns objetos contemporâneos, datados desde a virada do ano 2000, assinados por diversos designers convidados a participar, com o tempo e os problemas conectados a ele.

Os objetos selecionados estavam divididos em três categorias principais: objetos que ultrapassam o tempo ou são ultrapassados por ele; objetos que medem o tempo; e objetos que representam o tempo. Na primeira parte, Damien Hirst foi convidado pela Panerai para desenvolver um trabalho que refletisse o tema. O artista britânico criou a obra Beautiful Sunflower Panerai, que desenvolveu com os mostradores dos relógios da marca como se fossem uma grande tela e nela executou um trabalho de pintura em movimento. O artista, que já fez outras parcerias com a Panerai no passado, propõe uma reflexão de como melhor aproveitar o momento, que nunca é para sempre.

Outro trabalho muito interessante e que chamou atenção foi o vaso de Marcel Wanders – One Minute Collection –, todo pintado em 60 segundos.

Na segunda parte, os trabalhos de Maarten Baas, Just About Now, e de Kiki Van Eijk, Floating Frames – The Grandmother Clock, além do minimalista Kazadokei Clock, de Nendo, são em minha opinião os mais representativos.

Na terceira e última parte da mostra, os objetos representam o tempo de forma simbólica ou metafórica. Os mesmos são expostos em displays simples de madeira, todos eles interagindo com pensamentos sobre o tempo. Eternity, de Alicia Eggert e Mike Fleming, simboliza toda a poesia e filosofia do tema. Trinta relógios e 36 ponteiros de horas e segundos movem-se para formar a palavra eternidade a cada 12 horas e que permanece escrito em um painel branco por apenas alguns segundos…

Não existe uma sequência lógica ou cronológica dos trabalhos/objetos nessas três salas, mas um aglomerado em exposição para instigar uma percepção, uma emoção, um pensamento dos visitantes. Para cumprir esse objetivo, Patricia Urquiola, grande designer espanhola conhecida mundialmente, foi desafiada a desenvolver o set design de toda exposição. Desafio aceito e muito bem cumprido, Patricia criou duas alternativas para entrar no espaço expositivo: uma entrada normal e uma especial a qual denominou Fast Track. Obviamente pelos percursos normais, o visitante tem a possibilidade de ver toda a exposição, interagindo com todas as peças de design e exercitando a opção de escolher como quer melhor aproveitar seu tempo e o valor dedicado a ele. No Fast Track, com bastante ironia, a designer oferece a possibilidade de percorrer toda a exposição de forma rápida para economizar tempo. Porém, esse “privilégio” traz consigo a superficialidade de conhecimento e de reter informações.

Assunto muito questionado hoje em dia na luta diária que temos contra o tempo. O tempo em si é silencioso, parece invisível, mas tem grandes dimensões. Parece algo sem forma, mas tem suas direções. Aprendi com a cultura chinesa que a concepção e o reconhecimento do tempo são refletidos no conceito do universo – que é a pura combinação através das eras.


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