Escuta Zé!

Anonymous
Imagem do logotipo de NSA (National Security Agency) adulterada por ciberativistas do grupo Anonymous em protesto à violação de dados pessoais dos norte-americanos



Empatia é comigo mesmo: sou um cara cheio de simpatias pelo próximo. Não posso ver defunto sem chorar. Essa característica chega a paroxismos. Por exemplo: morro de pena daqueles caras que o governo americano emprega para ouvir as conversas dos outros ao telefone. E pior: tem gente na Agência de Segurança Nacional que vasculha mensagens de e-mail, tuítes, fotos de instagram e até sinais de fumaça. Durma-se com um barulho desses.

As revelações recentes de que a xeretice do governo americano tem amplitudes cósmicas revoltou a muita gente. Eu mesmo, a princípio, fiquei furioso. Mas, com calma, pensando bem, fui tomado por dó dos arapongas. Sabe lá o que é escutar as conversas que mantenho via telefone? Todos os dias, ligo para minha mãe, senhora de 86 anos, com a memória já fraquinha, e que me pergunta sempre as mesmas coisas. “Como vai minha neta? E a minha nora? E a cachorrinha? O seu trabalho vai bem? Está fazendo frio por aí?”. As respostas a isso tudo não variam. O ouvinte secreto deve querer dar um tiro na cabeça.

A trabalheira que ele tem para decodificar certos papos que mantenho com um amigo daí, é coisa de enlouquecer qualquer um. Com esse amigo converso apenas em gírias muito antigas e frases usadas pelos nossos pais. Caprichamos na escavação de expressões do arco da velha- ao pé da letra. “E aí, tudo conforme o figurino?”, pergunto. No que vem a resposta: “Tudo azul com bolinhas cor de rosa. Não tem mosquito”, diz o bicho, que é sujeito batuta. E prosseguimos numa torrente de: “Sossega leão”, “mixou o carbureto”, “de araque!”, “biduzão”, “é paçoca de melancia”, “mais por fora do que umbigo de vedete”,  “esse badaró é bokomoko”, “comigo não, violão” “não sou tatu!” “necas de betibiriba”. Os caras da ANS devem estar até agora procurando uma pedra de roseta para traduzir essa xaropada. Acho que já estou na lista de perigosos suspeitos.

A ira de grande parte dos americanos com as escutas é justificada, em termos de Constituição. Mas faz muito tempo que a quarta emenda- aquela que garante o direito a privacidade, “foi pra casa do chapéu”- como diria meu amigo. E não é só o governo que fica de antena. Todas essas empresas da Internet coletam seus dados e vendem a anunciantes.  Os caras sabem a cor, tamanho e modelo da última peça íntima que cada usuário comprou. Celulares, tablets, laptops, e até relógios de pulso dão o local exato onde você está e, muitas vezes, o que está fazendo naquele momento. E ninguém parece estar nem aí com isso. Constantemente ouço conversas – sou obrigado a isso – de gente a quem nunca vira antes e por quem não nutro qualquer interesse. As pessoas falam de tudo, em alto e bom som, sem se importar com os ouvidos ao lado.

Resta saber: quem processa tanta informação? Sim, porque coletar informações não é tão difícil. O problema é dar sentido ao que foi colhido. Imagine o tamanho do banco de dados contendo tanto papo furado. Essa gente não consegue sequer analisar corretamente aquilo que mandamos anualmente ao Imposto de Rendas. E a prova disso é que está cheio de empresários e políticos ladrões “soltinhos da silva” por aqui.


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