Dez anos sem Itamar Assumpção, por Luiz Chagas

Foto Vange Milliet

Há dez anos meu telefone tocou na redação da Istoé e eu atendi o Gilberto Nascimento dizendo, “o Itamar morreu, vem pra cá se der”. Fui com a Mônica, minha mulher. Estavam a Zena, esposa, Giba, Cida, a enfermeira-acompanhante, um japonês médico, super médico, que ajudou no atestado de óbito, necessário quando a pessoa morre em casa. Segundo a Zena, ele estava assistindo televisão, quietinho, e aquietou-se de vez.

Esperamos o caixão, vestimos. Arrumamos ele dentro. Arrumamos as flores. Eu joguei uma palheta dentro. Um cara havia esquecido no táxi que eu tomei. O motorista que me viu carregando um instrumento havia me dado. “Deve servir pra você”. O Itamar não usava palheta pra tocar violão. Talvez ele empreste pra alguém lá em cima. Fomos com o carro da funerária até o ABC, onde seria enterrado. Frio, vazio. Itamar morreu.

Hoje, exatamente hoje, dez anos depois, a Zélia Duncan vai apresentar o Prêmio da Música Brasileira, antigo Sharp, que o Itamar nunca recebeu – se recebeu, desculpe. Zélia concorre a melhor cantora pop. Contra a minha filha, a Tulipa. Contra a minha musa, a Gal. Mas vai cantar Itamar. Seu último disco homenageia Itamar. Nesse meio tempo, eu e a Mônica escrevemos o songbook de suas músicas sobre as partituras de Clara Bastos. O Sesc patrocinou o lançamento da Caixa Preta com toda sua discografia e dois discos de inéditas. O Itaú patrocinou o filme “Daquele instante em diante”, do Rogério Velloso. Seus escritos saíram em um livro. A banda Isca toca, com sucesso. As Orquídeas tocam com sucesso. O livro com toda a poesia de Paulo Leminsky, parceiro/amigo de Itamar, está entre os mais vendidos nas listas mais caretas dos mais vendidos, em que pese o pleonasmo. A molecada, de Kiko Dinucci a Gustavo Galo, adora Itamar. A molecada adora o Itamar. Serena e Anelis, as filhas, não param de falar dele.

Do blog de Anelis: http://estousujeita.wordpress.com/2013/06/12/a-morte-e-a-flor-vista-de-baixo/comment-page-1/#comment-42

Itamar não morreu.

Mas naquela noite, há dez anos, estava frio e vazio.

E eu não quero falar mais disso. quero ver o próximo show.

Cida e Zena, este ano, no jardim da casa dos Assumpção


Comentários

2 respostas para “Dez anos sem Itamar Assumpção, por Luiz Chagas”

  1. Hoje,depois de 10 anos ,revelou a mim a partida de ITamar,morei em muitos países ,muito tempo fora do Brasil ..Destaquei a chorar ..como uma dor no coração e derepente escuto mil lagrimas e tudo é um milagre.Itamar me consola enquanto canta,que tal o impossível .Amo todas sua canções e tudo que ele fez e deixou na Terra.Suas musicas serão sempre hinos em minha casa e minha família Deus abençoe sua família ,

  2. Avatar de Angélica de Oliveira
    Angélica de Oliveira

    Não morreu <3

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