Violência e prisões

 

A Brasileiros é a favor do direito democrático à livre manifestação. Historicamente, atos populares provocaram transformações sociais e ajudaram a consolidar a democracia no mundo, inclusive em nosso País. Historicamente, ações coletivas de movimentos sociais provocaram reações imediatas de repressão e eventual manipulação de informações resultantes desses conflitos. Claro, manifestações populares também são passiveis de sobressaltos e de infiltrações escusas, principalmente aqueles que carecem de comando.

Brasileiros é contra qualquer ato de violência seja de que lado ela partir. Nossa reportagem tentou esclarecer os confrontos de ontem com a Polícia Militar de São Paulo, mas não obteve sucesso. Também insistiu em conversar com os integrantes do Movimento Passe Livre (MPL), que afirmam não ter um comando, o que também dificulta o diálogo.

A seguir, um resumo da passeata de ontem. Ainda, a prisão do jornalista Pedro Ribeiro Nogueira, do Portal Aprendiz, que foi detido pela PM (veja, no final desta reportagem, vídeo que flagra o momento da prisão). Além de Nogueira, foram detidos outros jornalistas que acompanhavam a manifestação. Todos foram liberados, exceto Pedro, que continua no 78º DP, em São Paulo.

O terceiro ato

A Brasileiros acompanhou o terceiro ato contra o aumento da tarifa do transporte coletivo, realizado em São Paulo na noite desta terça-feira, dia 11. O protesto teve início na Avenida Paulista por volta de 17h40, seguiu pela Rua da Consolação, percorreu diversas ruas do Centro e culminou em intenso confronto na Praça da Sé. Quando retornaram a Paulista, a avenida também tornou-se um palco de guerra. 

Segundo dados da Polícia Militar, cerca de 10 mil pessoas se reuniram no protesto de ontem, o terceiro em menos de uma semana. A marcha foi a mais violenta de todas até o momento. Na tarde de hoje, O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) se comprometeu a apresentar nesta quinta-feira (13) ao prefeito Fernando Haddad e ao governador Geraldo Alckmin a proposta de suspensão do reajuste das tarifas do transporte coletivo por 45 dias. Caso a proposta seja aceita, o MPL se comprometeu a suspender nova manifestação que está programada para amanhã. A decisão da prefeito e do governador de São Paulo será anunciada no decorrer da quinta-feira.

Apesar de a violência ter sido maior na Avenida Paulista, o primeiro indício de que o ato de ontem seria violento deu-se quando um manifestante foi detido na altura do cruzamento da Avenida 9 de Julho com a Rua Santo Antônio, pouco antes das 19h. Ele foi flagrado pichando um muro e, após ser detido pela PM, integrantes da marcha, que seguiam até a Praça da Sé, pediram para que o jovem fosse libertado. A PM não cedeu e arrastou o manifestante, que já estava rendido, para uma rua próxima, onde havia outros policiais. Os manifestantes responderam com pedradas e um policial foi atingido na testa.

Na segunda-feira, dia 10, o UOL publicou foto de manifestação ocorrida na semana passada e que foi alvo de denúncia de suposta manipulação de informações. Cal Cermak, que se declara integrante do grupo de ciberativismo Anonymous, acusou o portal de usar, de modo manipulado e distorcido, uma foto (veja abaixo) de sua participação no protesto. Cermak, afirma que ao reerguer, com um amigo, uma lixeira pública, foi fotografado por um colaborador do UOL. Entretanto, na divulgação da imagem no portal, a legenda informou que eles estavam destruindo a lixeira quando, ainda segundo Cermak, o gesto era justamente para demonstrar a não violência do grupo.

Em Paris, na França, para a apresentação da candidatura de São Paulo para a EXPO 2020, o governador Geraldo Alckmin defendeu a ação da PM na manifestação de ontem, reiterando o discurso que vem adotando diante dos atos que acontecem em São Paulo contra o aumento da tarifa de ônibus: “É intolerável a ação de baderneiros e de vândalos destruindo o patrimônio público. Eles devem pagar por isso”, disse o governador, em nota à imprensa divulgada na manhã desta quarta-feira. Para o prefeito Fernando Haddad, que também está em Paris, parte dos manifestantes estaria desvirtuando os propósitos das manifestações: “Pessoas inconformadas com o Estado Democrático de Direito passaram a adotar um outro tipo de postura de provocação, intimidação, agressão e depredação”.

Prisões

A manifestação de ontem resultou na prisão de 16 manifestantes. Seis deles foram liberados após pagamento de fiança. Outros dez continuam encarcerados, sem direito ao mesmo recurso de relaxamento, por formação de quadrilha, incêndio e danos ao patrimônio particular. 

Entre os detidos e liberados, estavam jornalistas da Folha de S.Paulo e do UOL, empresa que pertence ao jornal, que foram liberados em questão de horas, e Pedro Ribeiro Nogueira, do Portal Aprendiz, que continua detido no 78º DP, localizado na Rua Estados Unidos, nos Jardins. Nogueira deve responder por crimes de dano qualificado e formação de quadrilha – por enquanto inafiançáveis, até decisão do juiz. Veja vídeo que flagra a prisão do repórter.

A Brasileiros conversou, na manhã desta quarta-feira, com Fernando Cherot Nogueira, irmão de Pedro, para obter detalhes do ocorrido. “Ele estava cobrindo a manifestação, trabalhando, mas foi agredido e preso. Pegaram ele de gaiato. Ele estava com quatro meninas e não tinha como correr. Deram borrachadas nelas e ele entrou na frente para defendê-las. Aí vieram sete policiais e pegaram ele na porrada.” 

No DP, segundo Fernando, o delegado Severino Pereira não concordou em ouvir os depoimentos das pessoas que acompanhavam o jornalista. Também não teria ouvido os representantes da Associação Cidade Escola Aprendiz, que mantém o portal. “O Pedrão está triste, chorou até, mas está bem”, encerrou o irmão dele. A reportagem de Brasileiros tentou contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para checar essas informações, mas não obteve respostas até o momento.   


Comentários

2 respostas para “Violência e prisões”

  1. Avatar de Natália Miranda
    Natália Miranda

    VIVA AO JORNALISMO DE VERDADE!!!!

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