Haddad fala


Em coletiva de imprensa realizada hoje, na sede da Prefeitura de São Paulo, o prefeito Fernando Haddad (PT-SP) avaliou os protestos realizados ontem na cidade. A sexta manifestação contra o aumento das tarifas do transporte público foi marcada por atos de vandalismo e saques de diversas lojas da região central de São Paulo. O ato também registrou a depredação do prédio sede da Prefeitura, pichação do Theatro Municipal, e o incêndio de um veículo da TV Record. A tensão teve início às 19h, mas somente às 22h a PM e a Tropa de Choque entraram em ação para reprimir os excessos.

O protesto teve início na Praça da Sé, migrou para a sede da Prefeitura, mas seguiu para a Avenida Paulista, onde cerca de 50 mil manifestantes se reuniram, segundo dados da PM. Por volta de 23h30, na Praça do Ciclista, esquina da Paulista com a Rua da Consolação, um painel da Coca-Cola, formado por centenas de latas de refrigerante, foi destruído pelos manifestantes e as latas foram recolhidas por recicladores. Gesto reprimido de maneira enérgica pela PM e a Tropa de Choque, que chegou a colocar viaturas em alta velocidade, na Avenida Paulista, trafegando, perigosamente, em meio aos manifestantes. A situação foi controlada por volta da 1h de hoje. A PM registrou a prisão de 63 manifestantes, supostamente, envolvidos nos saques e depredações. 

Leia a seguir, as principais declarações do prefeito Fernando Haddad, que afirmou ter cancelado compromissos em Brasília para estabelecer uma agenda que, segundo ele, o possibilitará apresentar uma solução ao Movimento Passe Livre (MPL) e aos demais manifestantes até a próxima sexta-feira, 21 de junho.

Nós tivemos, na segunda-feira, um dia que todo mundo celebrou. São Paulo sempre conviveu bem com os movimentos sociais. São Paulo tem um legado na democratização do País que precisa ser respeitado. Gestos como o de ontem não contribuem para o funcionamento da cidade. E a cidade quer funcionar. A pessoa tem o direito de voltar do trabalho e chegar em casa, da mesma forma que tem o direito de participar das manifestações


O que aconteceu ontem foi uma atrocidade contra a cidade, contra o prédio da Prefeitura, contra o Theatro Municipal que, como o Palácio dos Bandeirantes, é do povo

A orientação dada à PM é zelar pela integridade física das pessoas. Depois da quinta-feira (dia da repressão mais violenta), nossa preocupação é para que não haja a percepção da população de que a polícia está contra ela. Existe uma preocupação muito grande da PM de só agir em ultimo caso

No tempo devido, a GCM acionou a PM. O próprio secretário está dando esclarecimentos sobre essa conduta. Tenho confiança no Grella (o secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira), e penso que ele tem se posicionado corretamente em relação a todos esses episódios

A PM tem tido muita parcimônia, no sentido de preservar a integridade das pessoas. A ordem é preservar os inocentes e coibir a ação de pessoas que não estejam preparadas para a vida democrática. Essa não é uma tarefa fácil. Estas são palavras do próprio secretário Grella, que reitero

A solução desses problemas não tem a ver com decisões de poder. As pessoas tem que compreender que essas escolhas são difíceis. É muito fácil agradar em curto prazo, por medidas populistas. Mas essas escolhas (o prefeito se refere à revogação imediata do aumento das tarifas) representam menos investimentos em outras áreas. São decisões que vão impactar outras áreas do governo. Há demandas de creches, hospitais… Demandas das mais variadas, que seriam impactadas

Fazer além do que ela (a presidenta Dilma Rousseff) já fez?! Se não fosse a desoneração do PIS/COFINS nossa tarifa já estaria em R$ 3,40, pela inflação acumulada. O Governo Federal entrou com mais de 7% de desoneração de PIS/COFINS e os R$ 3,20 só foram possíveis por esse motivo

O sistema (de transporte público) tem tido perda da produtividade por falta da construção de corredores e faixas exclusivas. Caiu pela metade a velocidade dos ônibus e os custos aumentaram. E por que isso aconteceu? Porque desde o governo Marta (a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy) não foram feitos investimentos em corredores e faixas exclusivas, e a velocidade média dos ônibus, hoje, é de 12km p/h, quando deveria ser 25km. Quando essa lentidão afeta o carro, ela onera o proprietário, quando afeta o ônibus, ela onera a cidade e o poder público

Minha relação com eles (os manifestantes) é boa. Temos um bom diálogo e um bom debate, civilizado, que, infelizmente, está sendo interditado por grupos que não confiam na democracia. Há criminosos agindo nas ruas. Ontem, 63 pessoas foram pressas em função dos saques e dos gestos de vandalismo

Quando nasceu o PROUNI, houve manifestações de estudantes do Brasil inteiro. A mesma coisa aconteceu com o ENEM. Cinquenta reitorias de universidades federais foram invadidas contra o PROUNI. Algo natural da democracia. Quem é democrático não se deixa abalar com esses protestos e gera uma agenda de debates. Hoje, quem vai questionar o PROUNI e o ENEM? Ninguém tem mais coragem

Estou em diálogo permanente com o governo estadual. Tenho falado todos os dias com o governador Alckmin. E nosso consenso é evitar danos à integridade física das pessoas e prender somente, como foi o caso de ontem, aqueles que estiverem em descompasso com a ordem democrática.


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