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Quase 35 anos separam a primeira visita de um papa ao Brasil (João Paulo II esteve no País em junho de 1980) e o desembarque de Francisco, programado para julho. Ele irá participar da Jornada Mundial da Juventude e os pontos altos do evento acontecerão no Rio de Janeiro e em Aparecida, interior de São Paulo. Ao considerar cinco séculos de história do País, em que grande parte dela esteve sob a hegemonia quase total da Igreja Católica, talvez o Brasil seja em todo o mundo o País que mais teve mudança tão radical de reposicionamento religioso: os evangélicos explodiram e alcançaram a marca em torno de 42 milhões de pessoas. Além disso, segundo o IBGE, mais brasileiros assumiram ser ateus: os declarados são 6,7% da população. Enquanto o Espiritismo vem ganhando adeptos, o Candomblé perde espaço. A Igreja Católica fez sua contraofensiva por meio de movimentos carismáticos e padres pop stars – padre Marcelo chegou a vender 8,4 milhões de cópias de um único livro. Seja como for, os evangélicos formam o segmento religioso que mais cresceu no Brasil nos últimos anos. Apesar de o contigente de católicos ainda ser maioria, ele caiu de 73,6% da população, em 2000, para 64,6%, em 2010. A queda mais acentuada aconteceu entre 1980 e 2000 – nem mesmo a primeira visita de um papa ao País reverteu esse quadro. Brasileiros traz aqui uma série de reportagens em torno do tema. A repórter especial Luiza Villaméa e a fotógrafa Luiza Sigulem viajaram à cidade de Abadiânia, no Planalto Central, onde o médium João de Deus está instalado desde 1979. Esse ponto do Brasil reflete muito do ecletismo nacional. Abadiânia é dividida pela fé e unida pelo campo econômico. De um lado, é uma típica pequena cidade do interior, na qual predomina a Igreja Católica. De outro, a que recebe uma média de duas mil pessoas por semana, 70% delas estrangeiras. Atraídas pela fama de curador de João de Deus, elas visitam a Casa Dom Inácio de Loyola, onde ele atende três vezes por semana. Nas imediações da instituição, pousadas, lojas, restaurantes e cafés oferecem seus serviços em idiomas estrangeiros, a começar pelo inglês. Como metade da economia do município está vinculada ao movimento na Casa liderada por João de Deus, o sincretismo se dá justamente na economia. Católicos, evangélicos, espíritas, umbandistas e até seguidores de uma mescla de umbanda com a doutrina do Santo Daime garantem a sobrevivência da parte da população de Abadiânia. Também foi entrevistado Robson Lemos Rodovalho, fundador e líder da Igreja Sara Nossa Terra. Formado em Física e professor da Universidade Federal de Goiás por 14 anos, ele trocou a vida acadêmica pela religiosa em 1992. Hoje, a Sara Nossa Terra reúne 1.046 igrejas no Brasil e em outros oito países. O antropólogo Antonio Risério aponta o quanto o Candomblé também perdeu terreno nos últimos anos e afirma: “O Brasil que o novo papa vai conhecer agora, quando desembarcar aqui, é praticamente outro país. Em todos os campos. Na dimensão religiosa, inclusive”. Para finalizar, o jornalista Alex Solnik fez um balanço do ateísmo no Brasil e concluiu que, apesar do crescimento no número de pessoas que se declaram ateias, ainda é difícil se assumir como tal.
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