O Galo canta na América


Mais uma vez foi no sufoco, sofrido, assim como manda a cartilha da Libertadores, mas o Atlético Mineiro está na final da competição mais importante do continente e, já na semana que vem, começa o duelo de 180 minutos contra o paraguaio Olímpia pelo direito de levantar o caneco inédito.

A torcida fez sua parte, esgotou os mais de 20 mil lugares do Arena Independência bem antes do dia da partida. Mesmo os lugares mais nobres, que custavam na bilheteria até R$ 700, foram comprados. A tarefa não era nada fácil, já que na partida de ida, em Rosário, o placar marcou 2 a 0 para os argentinos do Newell’s Old Boys. 

Quando o uruguaio Roberto Silvera apitou o início, nem o mais fanático dos torcedores mineiros esperava o que estava por vir. Logo aos três minutos, Ronaldinho “sempre ele” Gaúcho dominou na intermediária, enfiou para o veloz Bernard invadir a área e, na saída do goleiro, bater firme no canto para abrir o placar.

O barulho nas arquibancadas era ensurdecedor. A frase “Yes, we CAM”, uma brincadeira da emblemática ” Yes, we can (Sim, nós podemos)” , de Barack Obama, com o CAM, que significa Clube Atlético Mineiro, pareceu ser mais verdadeira e possível do que nunca. Foram distribuídos, na entrada, algo em torno de 20 mil ápitos, era só um hermano pegar na bola que eles soavam de forma irritantemente intensa. Os mineiros estavam mais argentinos do que nunca!

O primeiro tempo foi passando, os brasileiros pressionavam, partiam para o ataque, os argentinos se encolhiam, catimbavam, jogavam o típico futebol portenho que tanto deu certo em outras ocasiões na competição sul-americana contra os times nacionais. O juiz apita.

Na segunda etapa a situação mudou um pouco. Vendo o desespero do Galo, em busca do gol que levaria a partida para as penalidades, o Newells começou a se aproveitar dos contra-ataques e vez ou outra assustava a meta de Victor. Porém, a noite de quarta-feira era dele, nada entraria no gol de Victor, o São Victor, que ontem foi oficialmente canonizado… Mas isso é história para daqui a pouco, antes temos que falar de um, ate então, coadjuvante, o pequeno gigante Guilherme.

Guilherme é conhecido da torcida mineira de longa data, porém, seu prestígio sempre foi pleno apenas com a parte azul da cidade. Formado pelo Cruzeiro, o atacante despontou como promessa aos 19 anos, fazendo gols e sendo decisivo desde cedo. Saiu, foi pra Rússia, Sumiu… Guilherme voltou para BH em 2011, dessa vez para o Atlético Mineiro, o rival mortal de seu time formador. No alvinegro nunca emplacou, sempre foi visto com desconfiança por grande parte da torcida, que não queriam “um cruzeirense” no elenco. Talvez até por essa falta de confiança, nunca conseguiu demonstrar seu futebol no Galo e sempre foi banco e sombra dos excelentes Jô e Diego Tardelli. Depois da noite de ontem, é muito possível que, finalmente, Guilherme tenha conseguido o impossível: virar unanimidade entre atleticanos e cruzeirenses.

Agora que explicamos quem é Guilherme, voltamos para o jogo, a parte dele está chegando. Foi aos 50 minutos do segundo tempo (a partida ficou parada durante 11 minutos por falta de luz), após um sobra da zaga do Newells, que Guilherme pegou de longe, dominou e, com a bola pingando, pegou um balaço rasteiro, a bola entrou no canto esquerdo de Guzmán, que pulou, mas nada pode fazer. O estádio explodiu, era um misto de choro, risos, euforia! Aquele momento típico que arrepia e emociona qualquer apaixonado por futebol. Naquele momento, o Galo era, de fato, o Brasil na Libertadores.

O Juiz apitou o fim do jogo. Agora, a técnica de Ronaldinho Gaucho, a velocidade de Bernard ou o oportunismo de Jô de mais nada valia, cobranças de penalti, o que conta é o coração! E um pouquinho de sorte, é claro. 

Alecsandro foi o primeiro a bater, caixa. O craque do Newells, Scocco, foi na sequencia e também converteu com bela cavadinha. Guilherme, o herói dos 90 minutos, também fez o seu, assim como o argentino Vergini. Depois disso, uma sequencia de desperdícios, Jô e Richarlysson perderam para o Atlético, Casco e Cruzado também isolaram e igualaram o confornto… Faltava um penalti para cada lado. Ronaldinho foi primeiro para o Brasil, goleiro para um lado, bola para o outro, quanta tranquilidade! Para a Argentina também bateria um dos jogadores de mais qualidade, Maxi Rodriguez, que já jogou Copa e por muito tempo foi titular do Liverpool, da Inglaterra. Victor ignorou as credenciais de maxi e voou para pegar o penalti. O Galo está na final!

A última final de Libertadores que o Brasil não esteve representado foi em 2004, quando Boca Juniors e Once Caldas se enfrentaram. Agora o Galo tem, pela primeira vez, a chance de se tornar o soberano na América, os confrontos da grande final começam já na próxima quarta, dia 17, no Paraguai, casa do Olímpia, e no dia 24 em Belo Horizonte. Chegados numa balada, Ronaldinho, Jô e companhia prometem rave mineira em caso de título.


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