Com a idade avançando, não consigo entender, como antigamente, certos eventos. Eu leio vários jornais, revistas e livros. Acompanho noticiários via internet, rádio e televisão. Mas, mesmo assim, fico boiando em muitos assuntos. As manifestações no Brasil são exemplo dessa recente confusão mental. É claro que morando a quase 8 mil quilômetros de distância das ruas de São Paulo, estou em local impróprio para dar palpites. Mesmo porque, registrado como eleitor nos Estados Unidos, não voto em deputados, senadores, governadores, prefeitos e, por puro desleixo cívico, acabo também não votando para presidente. Mesmo assim, gostaria ter minha visão um pouco mais ampliada.
Quando as multidões saíram às ruas corri para ler as análises sobre o fenômeno. Por vários dias garimpei explicações. E… nada! Parecia que ninguém encontrava razões amplamente convincentes. Com o tempo, porém, alguns comentaristas foram colocando o bafafa em pratos limpos. Não que tenham me convencido. Ainda hoje estou tentando digerir tudo o que está acontecendo.
Mas o grande mistério mesmo é o do Eike Batista. Como é que um cara perde 70% de sua enorme fortuna em tão pouco tempo? E olha que ele tem a benção de vários governos – o federal, o estadual, o municipal, e até da liderança de escoteiros do Brasil. O cara é meio dono do Maracanã! Mesmo assim, está com dívida de curto prazo de R$ 7,9 bilhões. Não é, nem de perto, a única.
É claro que os jornais estão cheios de explicações para isso, mas para a minha mente esclerosada não há análise que convença. Eu tenho um velho amigo que acumulou uma fortuna de US$ 20 milhões, aqui nos Estados Unidos, nos anos 1990. Coisa da bolha chamada de “dot.com.”, quando as ações de empresas de tecnologia estavam bombando muito. Antes do estouro da bolha esse sujeito pulou fora do negócio e investiu a bufunfa em várias alternativas. Ou seja: distribuiu sua cesta de ovos de modo cuidadoso. Passaram-se cinco anos e o cara estava mais duro do que bunda de estátua. Pode?
Lembro-me que quando ele me contou sobre seus infortúnios pensei: “tem de ser muito burro para perder 20 milhões de dólares em tão pouco tempo”. Ele me explicou que não investiu tudo em ações – o que, no caso, teria explicado a bancarrota – e também que não gastou como um marajá. De acordo com sua teoria, foi uma maré de falta de sorte que levou como tsunami seu ervário. Eu acredito em sorte, acho que sem ela o sujeito está micado. Mas com 20 milhas não me parece possível que um cristão (no caso do meu amigo: um judeu) possa contemplar a mendicância.
Já o Eike, com toda a costa quente que tem, não será visto pedindo esmolas em Copacabana. Diz-se que vai vender seus ativos – no momento em que escrevo ele anuncia sua renúncia ao cargo de presidente do conselho deliberativo da companhia energética MPX. E vai vender para quem? Só falta ser para algumas multinacionais. Aí, o que estava em mãos brasileiras – petróleo, minério, o Hotel Glória, ou o que quer que seja, vai parar no bolso de estrangeiros. Existem países onde um cabra seria fuzilado por isso. Mas já se fala que o governo pode ajudar ao pobre Eike. Daí me veio a luz sobre as manifestações nas ruas brasileiras: finalmente entendi tudo.
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