Onipresença ninja

Luiza Sigulem/Brasileiros
O repórter NINJA cobre a depredação de agências bancárias pelo Black Bloc

O jornal francês Le Monde assim os definiu: “Eles estão por quase toda parte. Eles incorporam os olhos e a voz dos acontecimentos que abalam o Brasil desde 10 de junho.” Exagero ou não, fato é: como as sucessivas manifestações que vem assolando o País, a Mídia NINJA (sigla para Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) também tem estado quase onipresente nas ruas.

A rede colaborativa de jornalismo surgiu em novembro de 2012 e foi criada pelo mesmo núcleo que, meses antes, havia feito uma bem sucedida cobertura das eleições municipais de 2012, em mais de 50 cidades do País. Ambiciosa, a pauta foi produzida pela Pós-TV, canal gratuito de transmissão em tempo real, via internet, que foi embrião da Mídia NINJA.

Um dos idealizadores do grupo, ao lado de Pablo Capilé, do coletivo cultural Fora do Eixo, o jornalista Bruno Torturra, 35, falou à Brasileiros para a reportagem de capa da edição 73, que chega às bancas nos próximos dias.

Torturra concedeu extensa entrevista e reproduzimos aqui trechos inéditos da conversa, que não foram publicados na reportagem presente na edição de agosto. Leia a seguir, e confira nas bancas a íntegra da reportagem.


Brasileiros –
Como se deu sua aproximação com o coletivo Fora do Eixo?

Bruno Torturra – Conheci o Fora do Eixo quando fiz uma reportagem com os caras, mas a aproximação parou por aí. Uma relação de repórter e fonte. Achava incrível a experiência do coletivo. Fui a Marcha da Maconha de 2011, como repórter, e pessoas do Fora do Eixo estavam na manifestação, como ativistas. Vi a gigantesca repressão policial acontecer e também fui vítima dela. Enquanto tudo acontecia acompanhei a cobertura da imprensa no meu celular. Vi algumas manchetes e fiquei frustrado. Enquanto o pau estava comendo a notícia era “Polícia libera o trânsito na Paulista”. A velha narrativa. E o pior é que não havia repórter algum em campo, havia poucas câmeras… Comecei, então, a tuitar o que via. Acompanhei a manfestação do começo ao fim. Fui a delegacia acompanhar a multidão que foi brigar pela liberação das pessoas. Quando tudo acabou, voltei pra casa, escrevi um texto gigante e postei no Facebook. No dia seguinte, o texto tinha sido lido e compartilhado por milhares de pessoas. Todos esperando alguma repercussão na grande mídia, e nada. Nesse mesmo dia, o pessoal do Fora do Eixo me ligou e começamos uma aproximação.


Brasileiros –
O que você pensa das acusações de suposto benefício do Estado para com o coletivo e do especulado envolvimento de Pablo Capilé e o ex-ministro José Dirceu?

B.T. – O Fora do Eixo produz mais de 300 eventos por ano, em todo o País. Eles nasceram disso e continuam sendo muito bons no que fazem. Realizam também as SEDAS (Semana de Áudio Visual), festivais de música independente, palestras, cursos. Como estão em mais de 200 cidades do País, são, antes de mais nada, produtores de um pensamento que procura significar uma transformação da política cultural do País. Eles nasceram fora do eixo Rio-São Paulo (em Cuiabá, no Mato Grosso, liderados por Capilé), justamente para conseguir distribuir melhor a produção cultural. Evidentemente, quando você faz isso, precisa lidar com o Estado, com as prefeituras, com os governos estaduais e federais, sejam eles de que partido. O Fora do Eixo também tem, além da própria receita feita nos eventos, aporte de dinheiro público, mas ele sempre chega por meio de editais, algo que qualquer artista, produtor cultural ou coletivo tem acesso. Basta inscrever-se neles. Quando, eventualmente, o Fora do Eixo ganha um edital, todas as contas são prestadas, transparentes. Esse dinheiro é legítimo. E a decisão sobre quem vai ganhar esse edital nunca é partidária ou feita em gabinete. Todos os processos são públicos. Então, acho bem curioso quando suspeitam de uma rede como o Fora do Eixo, que distribui cultura no País, de maneira generosa e não tem fins lucrativos, e compartilha toda a receita que tem para fazer render ainda mais. Pouco se fala quando um filme é fruto de um edital e o diretor também ganha o dinheiro dele. Não estou questionando esse direito, mas essa crítica não se faz do outro lado. Já cansei de ver gente que ganha edital atrás de edital, falando que o Fora do Eixo vive de dinheiro público. Tem uma foto circulando agora do Capilé com o José Dirceu e ela foi foi apresentada como uma denúncia, um escândalo. Todos compartilham a imagem, como se tivesse caído a máscara do Fora do Eixo e da Mídia NINJA. Essa foto foi tirada do Facebook do próprio Capilé. Ele a publicou, em 2011, num contexto tão público quanto são as páginas dele nas  redes sociais. Era um evento aberto na Casa Fora do Eixo de São Paulo. Dezenas de pessoas e políticos estiveram lá. O Dirceu falou na Pós-TV, o Haddad falou, gente do PSOL também. Da mesma forma que tem foto do Capilé com o Dirceu, tem dele com a Marina Silva, com o Jean Willys, com o Lula… Eu também já conversei com Dirceu, assim como conversei com o FHC, a Marina Silva, o Jean Willys, o Marcelo Freixo.

 

Luiza Sigulem/Brasileiros.
Torturra, no primeiro ato paulistano em solidariedade aos manifestantes cariocas, que pedem a renúncia do governador Sergio Cabral e exigem esclarecimentos sobre o desaparecimento do pedreiro Amarildo 


Brasileiros –
Você acha que se o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, tivesse respondido em um prazo menor ao pedido de revogação do aumento das tarifas em São Paulo, como exigia o Movimento Passe Livre (MPL), a sucessão de protestos que assolaram o País seriam evitados ou adiados?

 

B.T. – Difícil prever. Acho que aconteceu o que tinha que acontecer. Não digo isso para defender o Haddad, pois acho que ele não respondeu da melhor maneira que poderia ter respondido às primeiras manifestações. Hoje tenho um pouco mais de compreensão da atitude dele, do que tive naqueles dias, quando julguei “que amadorismo, que horrível, que vergonha!”. Tive o cuidado de ir a uma apresentação aberta que a Prefeitura fez da planilha financeira de São Paulo… Uma verdadeira tragédia, um pesadelo. Foi então que entendi o Haddad. Ele até poderia ter revogado o aumento antes, mas a grande chance que ele desperdiçou foi a de ter agido como um político e não somente como um gestor. Ele agiu muito mais como um materialista histórico, algo que é uma virtude, em muitos aspectos, mas foi muito marxista e pouco darwiniano. Não entendeu que o meio demandava um outro tipo de habilidade. A meu ver, o que deveria ter acontecido, era: ele ter revogado o aumento o quanto antes, ou ao menos ter suspendido o reajuste por um mês, como recomendou o Ministério Público, e negociar. Não para conter os protestos, mas para passar a bucha da solução para as pessoas também discutirem. Ele poderia ter aproveitado essa massa gigantesca que demandava o final dos R$ 0,20, como capital político, para quebrar o monopólio privado das empresas de transporte em São Paulo. Poderia ter falado abertamente às pessoas: “Olha, essa conta não fecha, ela não existe. Vamos resolver juntos? Vamos abrir essa caixa preta e discutir saídas?”. Evidente que trata-se de algo bem mais complexo que isso, que o MPL tem uma agenda política de visão muito oposta a do PT. Acho também que o Haddad saiu fragilizado, pois nesse sentido o Alckmin é muito mais hábil do que ele – para um projeto pior, na minha opinião. O Alckmin soube jogar muito mais com a polícia e a política, para que essa pauta não colasse nele. O Haddad não soube agir da mesma forma. Acho que esses protestos estavam realmente marcados para acontecer. Eram inadiáveis. O Haddad havia resistido em baixar os R$ 0,20 e ainda havia um movimento relativamente pequeno de pessoas nas ruas, mas o apoio popular estava cada vez mais colocado. O Brasil estava um barril de pressão total, bastava uma válvula para explodir.

 

Brasileiros – A violenta repressão policial observada na noite de 13 de junho, que não poupou nem a imprensa, está sendo considerada por muitos o estopim do chamado Outono Brasileiro. Nesse dia, vocês também estiveram na linha de frente. Como foi cobrir essa noite explosiva?

B.T. – Sabíamos que aquela quinta-feira seria tensa. E ela acabou sendo histórica. Naquele dia, havíamos marcado a primeira reunião aberta do grupo, chamada Ficaralho, na qual chamaríamos as pessoas para discutir a onda de demissões (no jargão da imprensa, o “Passaralho”, que tem varrido redações), e falar sobre nossa experiência de jornalismo colaborativo. A convocação repercutiu bem mais do que a gente esperava. Centenas de pessoas confirmaram presença. Na tarde do dia 13, estávemos com a apresentação pronta para receber as pessoas e fomos sentindo o clima esquentar. Havia uma eletricidade perigosa no ar. Suspendemos a reunião, pois ela aconteceria no Anhagabaú, e a polícia já estava maciçamente concentrada no vale. Suspendemos a reunião e fomos para a rua cobrir as manifestações. Horas depois, eu estava na Rua Maria Antônia, muito próximo da linha policial e da Tropa de Choque,  e presenciei o início da repressão. O ataque partiu não só dessa linha de frente. Um cordão lateral de policiais entrou gratuitamente na passeata dando borrachadas. Quando as primeiras pessoas caíram, começou a gritaria, o desespero, e a Tropa de Choque também começou a atacar. Foi uma ação criminosa e covarde. Me admira muito que isso não tenha virado um grande movimento contra o governo do Estado, pois o que se viu ali não foi despreparo, foi algo intencional, que partiu de um comando. Foi um recado claro dado com o aval da grande mídia. A Globo, a Folha  de S. Paulo, e o Estadão assinaram um cheque em branco dizendo que o Estado estava sendo fraco, que aquilo era vandalismo e era hora de dar um basta. A Polícia, protegida por seus comandos e por esta grande mídia, fez o que fez. Uma barbárie. O próprio comandante da operação admitiu, na rua, que havia perdido o controle, e que não se responsabilizaria por mais nada. Foi aí que teve início uma caçada humana. Manifestantes e jornalistas foram violentamente agredidos, bombas de gás foram jogadas nas varandas de apartamentos. No dia seguinte, a grande imprensa, sem fazer mea culpa, sem reconhecer seu papel, começou a falar sobre a violência e os excessos que a PM cometeu. O resto é história…

 

Camila Picolo/Brasileiros

Brasileiros – Que analise você faz do episódio?

B.T. – Esse momento representou algo inegável: as instituições, os partidos, o executivo, e a grande mídia, ignoraram completamente o poder da rede. Não entenderam que eles não tem mais o monopólio narrativo, que quanto mais assertiva ou equivocada for a sua opinião melhor ou pior será  o resultado para você. Evidente que a grande mídia tentou, depois, cooptar os manifestantes. Mas se não fosse a gande discussão nacional levantada depois dessa quinta-feira, não teríamos visto milhões de pessoas nas ruas. Hoje a grande mídia sofrre constrangimentos e continua perdendo credibilidade. Está sendo corroída por dentro e também tornou-se alvo das manifestações. E da forma que a grande mídia é pensada e se organiza economicamente, ela comprou uma briga que, é bem provável, não terá como ganhar…

 

Brasileiros – Hoje, até mesmo a grande imprensa passou a utilizar a cobertura da Mídia NINJA como fonte, como foi o caso da comprovação da inocência do manifestante Bruno, a partir de imagens captadas por vocês, e exibidas em pleno Jornal Nacional, da Rede Globo. O que pensa disso?

B.T. – Eu enxergo como algo positivo. Falo por mim, não necessariamente em nome de todos os integrantes da Mídia NINJA, pois são muitas pessoas que colaboram com a rede, e a fauna ideológica é muito grande. Náo me considero um inimigo da grande mídia. Não acho que ela tem que ser destruída, pois não gostaria de ver a Folha de S. Paulo fechar, não gostaria de ver a Rede Globo falir, ou ver o Estadão baixar as portas. Assim como, não gostaria de ver nenhum colega meu ser demitido. Este seria um mundo bem pior, sem os jornais e sem as revistas, mesmo que eles sejam veículos questionáveis em muitos aspectos. O que acho saudável é a imprensa ser cada vez mais responsabilizada pela informação que passa. Algo positivo para o jornalismo e não só para as grandes empresas. Não me importo que a grande imprensa use imagens da Mídia NINJA e reconheça que o jornalismo cidadão, não somente o nosso, mas o de vários jornalistas – repórteres, fotógrafos e cinegrafistas amadores – pode dar a cobertura das manifestações uma narrativa ética. Que eles usem esse material para apurar fatos que eles próprios não foram capazes de cobrir. A Rede Globo, por exemplo, quando chega em uma manifestação, é muito hostilizada. Quando não, acaba mudando até mesmo a ação da repressão. Se tivesse um repórter da Globo no Leblon, no dia da prisão do Bruno, o P2 (policial infiltrado) certamente não teria jogado um coquetel molotov e a Globo nunca teria essa imagem. Que eles fiquem a vontade para usar nosso material. Acho bom. Quando a gente vê um material nosso na Rede Globo, no Estadão, sabemos que estamos contribuindo para fazer a diferença. Mas nosso interesse não é promover a Mídia NINJA, torná-la maior ou fazer grana, o que realmente nos interessa é que um inocente não seja preso, que o policial saia para a rua identificado, que a gente saiba de onde partem os comandos e que o governo se responsabilize pessoalmente ou aponte um culpado quando problemas dessa natureza são revelados.

 

Brasileiros – Os acontecimentos recentes deram grande projeção a Mídia NINJA e a rede de voluntários do grupo aumenta a cada dia. Quais serão os próximos passos de vocês?

B.T. – Ainda estamos entendendo o que aconteceu, sem ter uma ideia clara de todas as demandas, não só de cobertura, algo que para nós já está bem claro, mas as demandas humanas, as expectativas de quem quer colaborar… Não é fácil, pois só no encontro do Ficaralho havia uma centena de pessoas querendo colaborar. Hoje são milhares, em todo o País. A filtragem é muito difícil, mas o básico é: quem chegar junto está conosco. Quem aparecer, com equipamento e disposição, pode se integrar. Temos agora um núcleo no Rio de Janeiro especialmente bom. Uma galera que assumiu o comando, vestiu a camisa, e foi para as ruas entendendo perfeitamente como o jogo funciona. O passo agora é, sem tirar o pé da rua, construir nosso site, ter uma plataforma própria (hoje, o maior canal de comunicação do grupo é a página de rede social Facebook, com mais de 150 mil seguidores), definir quais são as pessoas interessantes para coordenar núcleos regionais e começar a produzir outros materiais. Captar e editar vídeos, fazer reportagens investigativas, criar núcleos de programadores e hackers, para conseguir dar conta da demanda digital que teremos. E precisamos colocar em pé um sistema de viabilidade de financiamento, para poder sair dessa questão do investimento único do Fora do Eixo, através de assinaturas semestrais e anuais, de baixo custo, e doações públicas via crowdfunding (financiamento coletivo com doações via internet).

 

Manual esclarece como funcionam as transmissões e convida novos colaboradores

Brasileiros –
O que pensa de ações de embate nos protestos, como o encontro casual da Marcha das Vadias do Rio de Janeiro com a multidão reunida em Copacabana para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), e as destruições de agências bancárias paulistanas pelo Black Bloc?

B.T. – Eu, enquanto indivíduo, não estou disposto a quebrar banco ou a imagem de uma santa. Não faz parte do que me motiva, do ímpeto que me leva às ruas. Estrategicamente, dentro dessa noção pragmática que tendo a ter, não acho que sejam escolhas interessantes. Dito isso, acho muito menos grave quebrar bancos do que pessoas. Acho menos grave quebrar uma imagem de porcelana, do que impedir que as mulheres e os gays possam ser felizes. Acho curioso que as pessoas se escandalizem mais com um banco espatifado, do que com pessoas sendo brutalizadas por policiais, sendo presas injustamente ou desaparecendo, como o Amarildo (o pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido há mais de 20 dias no Rio de Janeiro, depois de ser conduzido a UPP da Rocinha). Acho muito estranho que as pessoas considerem mais intolerante destruir imagens sacras, do que esperar que entre as milhões de pessoas oprimidas pela lógica da Igreja Católica algumas delas não reajam de maneira mais incisiva. Não vi ninguém batendo em fiel, colocando fogo em igrejas ou tentando atirar pedras no Papa Francisco, mas vejo o tempo todo a Igreja interferindo na vida das pessoas. Quanto ao Black Bloc vi os caras em ação mais de uma vez e insisto, estrategicamente, acho discutível, penso que mais afasta do que aproxima as pessoas. Dá munição para possíveis críticas que repercutirão muito mais. Mas eles não pensam como eu. São anarquistas, tem uma luta contra o capitalismo e acreditam, internacionalmente, que bancos são alvos físicos legítimos, já que também agem fisicamente sobre a realidade das pessoas. Desapropriam casas, terrenos, cobram juros, absurdos e infinitos, da população. São ações que chocam? Sim, mas não é isso que está sendo discutindo. Querem discutir a imagem de uma santa quebrada? Ok, então vamos falar sobre as milhares de mulheres que morrem ou ficam estéreis, ano após ano, fazendo aborto ilegal? Não cometeria tais atidudes, mas a minha vaia chega bem antes ao outro lado.

 

Brasileiros – Em meio a todas essas questões, individualmente, você deixa público seu apoio a legalização da maconha. Não tem receio que um tema tão polêmico seja munição para conservadores questionarem sua credibilidade?

B.T. – O que me levou ao ativismo e a política foram justamente as drogas. Sempre me importei com as questões sociais, mas o que me fez tirar a bunda da cadeira foi a compreensão maior que as experiências psicodélicas me deram sobre o mundo, e as responsabilidades que elas, internamente, trouxeram para mim. Não posso mais olhar o mundo criticamente e não tentar transformar alguma coisa. Esse foi meu ponto de partida para o ativismo. E por isso mesmo faço questão de ser honesto e não acho que estou fazendo nada de errado ao defender a legalização da maconha. Outro lado, político, é que a questão das drogas é uma das mais importantes no mundo e as pessoas entendem como periférica. Toda vez que falo em legalização da maconha, vem alguém me criticar: “Tanta coisa mais importante para você lutar e você falando de maconha. Tantos problemas de saúde pública, de educação, segurança pública, e você falando de maconha! Tanta violência, criança abandonada e você aí falando de maconha!?”. Respondo: “É exatamente por lutar pela educação, contra o abandono infantil, contra a segurança pública vigente, que eu defendo a legalização da maconha. Se fosse apenas pelo direito de fumar maconha estava fácil…  Mas as pessoas não querem apenas o direito de fumar maconha. A grande questão é que a a maconha é o maior commoditie do crime organizado, pois a proibição entregou o monopólio da maconha ao crime organizado, privando as pessoas de ter liberdade, informação e segurança. Um dinheiro absurdo é jogado no mercado negro e ele é a base da compra de armas, da corrupção policial, da sustentação de uma organização de tráfico dentro de comunidades carentes. A maconha é um dos maiores tabus de nossa sociedade. Distancia pais e filhos, afasta as pessoas da realidade, pois é vendida como algo que as pessoas imediatamente vão descobrir que não é. Desvalorizamos toda a informação disponível, pois ela sempre vem com esse viés negativo e você não consegue ponderar os verdadeiros riscos e responsabilidades do seu uso. Estamos privando a economia de um insumo industrial absurdamente bom. A planta pode fazer papel, combustível, tecido, fibra, e até remédios eficazes. Pode amenizar mazelas como o câncer, o reumatismo, o autismo, e até mesmo ajudar a combater o vício em crack. Destinamos bilhões de dinheiro público para encarcerar pessoas que, na maioria das vezes, jamais foram acolhidas pelo Estado. E quando o Estado aparece na vida dessas pessoas é para foder com elas de vez. Esses recursos humanos e financeiros poderiam estar sendo empregados em outras coisas, como saúde, educação, e as tais causas que as pessoas consideram que eu deveria lutar. Lógico, as outras drogas são mais complexas, mas em pleno 2013, sabendo o que sabemos sobre a maconha, proibi-la é o fim da picada. É como criminalizar alguém por ser gay. Algo que o ser humano faz desde que existe. Gostaria que a bancada evangélica, que acredita em um “criador” respondesse, mas afinal, quem criou maconha!? O diabo?

Leia mais na edição 73 da Revista Brasileiros, que chega às bancas nos próximos dias. 


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