O fotógrafo do presidente

Num raro momento de descontração, depois do almoço e antes do primeiro compromisso da tarde, quem visse os dois brincando de tirar fotografias um do outro poderia pensar que ali estavam pai e filho numa reunião de família. Só que os dois estavam se fotografando no terceiro andar do Palácio do Planalto, no gabinete do presidente da República, atendendo a um pedido da reportagem de Brasileiros.
por causa do Stuckinha. Tinha um dia de folga na Espanha e eu avisei o POC que só queria passear em Toledo, ver as igrejas, os palácios… Não queria ninguém perto de mim, nem o pessoal da segurança, nem cerimonial, nada. Quando vou ver, quem está lá na igreja, disparando uma foto atrás da outra, assustando os turistas? O Stuckinha… Sozinho, ele chamava mais a atenção do que um batalhão de seguranças.”

Nem Stuckinha sabe quantas dezenas de milhares de fotos já operou com suas duas máquinas Canon e arquivou nos computadores do Palácio do Planalto. De qualquer lugar do Brasil ou do mundo, armado de laptop e celular, Stuckinha alimenta on-line com suas imagens o site www.imprensa.planalto.gov.br, criado em 2004, de onde são baixadas, em média, 50 mil fotos por mês.

A principal preocupação de Stuckinha na cobertura de eventos e viagens é facilitar o trabalho dos outros fotógrafos e evitar atritos com o pessoal da segurança, comuns no início do governo, quando ninguém estava habituado a ver um presidente que, a todo o momento, quebrava o protocolo para ficar mais perto das pessoas.
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Um dia que ele nunca vai esquecer nessa sua atividade de fotógrafo oficial foi exatamente o primeiro dia de trabalho no Palácio do Planalto. Pela primeira vez ele saiu de trás do “chiqueirinho”, como os colegas chamam a área cercada pela segurança para o trabalho dos fotógrafos. “Que bom que estou aqui…”, festejou, ao ver que se encontrava do outro lado, podendo olhar o poder de dentro para fora. “Só aí eu comecei a entender melhor a instituição Presidência da República.”

Realista, Stuckinha sabe que esse é um ofício passageiro e, por isso, procura se colocar sempre no lugar dos demais fotógrafos. “Eu sei que amanhã vou estar do outro lado da cerca de novo.” Na sua família mesmo, ele tem um bom exemplo. Bisneto de Edward, um suíço-alemão de Lucerna, o primeiro da dinastia que desembarcou no Brasil (no Porto de Cabedelo, na Paraíba, onde se quedou primeiro), neto de Eduardo e filho de Roberto, todos fotógrafos, Stuckinha ocupa hoje o cargo que já foi do pai, no governo do general João Figueiredo. Entre mortos e vivos, são 33 fotógrafos na família Stuckert.

Nas mais belas fotografias que ele fez nesse período, Lula, curiosamente, não aparece. São imagens do Cristo Redentor e de um entardecer na Praça dos Três Poderes, feitas de helicóptero, a pedido do próprio Lula, que ornam as ante-salas do gabinete presidencial. Antes de Stuckinha, a tarefa do fotógrafo oficial era fazer o registro burocrático das atividades presidenciais para a posteridade. Com ele, profissional unanimemente reconhecido como um dos mais qualificados fotógrafos do País, a arte chegou ao poder.

Só depois que Stuckinha se afasta da mesa de Lula, ao se tocar que está deixando o presidente constrangido para falar dele na sua frente e, por isso mesmo, disposto a sacaneá-lo, como costuma fazer com seus auxiliares mais próximos, o presidente Lula resolve falar a sério e, como também costuma acontecer, emociona-se com as próprias palavras.

“O Stuckinha é daquelas pessoas que, do ponto de vista do caráter, do companheirismo, da lealdade e da sua competência profissional, Deus faz uma vez e joga a fórmula fora. Além de tudo, é um cara com dedicação exclusiva ao seu trabalho. Com ele não tem hora, não tem tempo ruim, não tem adversidade que o impeça de cumprir a sua tarefa. Se eu deixo, ele fica até sem comer. Eu que preciso pedir para ele descansar de vez em quando, ficar com a família…”

Nosso tempo no gabinete do presidente chega ao fim. Feitas as fotos, somos gentilmente convidados pelos assessores a cair fora, mas antes Lula ainda resume o que gostaria de dizer sobre o trabalho do fotógrafo: “Este é o exemplo vivo, a fotografia do exercício do meu mandato”.


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