A era dos ansiosos

Reprodução http://www.flickr.com/photos/janara/6260796398/

Há uma ansiedade rondando as páginas da internet, do feed de notícias do Facebook, do Twitter e de aplicativos como o Instagram. E há quem acredite que essa ansiedade generalizada é bem próxima daquela que nos faz sentir um pouco perdidos sem as doses diárias de café ou qualquer coisa semelhante. Uma pesquisa realizada recentemente pela companhia norte-americana MyLife.com mostra algo que não é bem uma novidade: a Internet e seus subprodutos podem ser viciantes. 

Mas a grande questão que a MyLife.com – conhecida por agregar todas as redes sociais em uma só plataforma – quer dizer com tal pesquisa é que estamos nos sentindo um pouco ansiosos e dependentes demais das constantes atualizações de nossas redes, algo que diagnosticaram como FOMO – Fear of Missing Out, que na tradução livre seria algo como Medo de Ficar Por Fora.

Na pesquisa citada, 56% dos entrevistados disseram ter medo de perder eventos, notícias e importantes atualizações de seus amigos e colegas de trabalho. Algo um pouco semelhante a perder um episódio da sua série favorita ou saber para onde foi aquele personagem tão carismático da novela.

Janara Lopes, fundadora do IdeaFixa, possui uma rotina essencialmente conectada – o que significa que tão logo o aroma do café toma conta da casa pela manhã, Janara já está a checar seus e-mails, além de pesquisar, escrever e programar os posts que vão ao longo do dia completar o site do IdeaFixa e suas redes sociais. No Facebook, por exemplo, a página do IdeaFixa já excedeu as 177 mil “curtidas”, o que convém uma certa expectativa e responsabilidade com o conteúdo programado. “Essa é minha rotina faça chuva, sol ou feriado”, conta.

Com um trabalho e um estilo de vida que dependem da alimentação diária de conteúdo, Janara dificilmente consegue se desassociar de uma conexão permanente. “Há muito tempo eu não sei o que são férias absolutas. Nessas horas, tenho saudade de ter um emprego onde você desliga o computador e só volta a pensar nisso trinta dias depois”, reflete. Mas, além do trabalho, Janara também confessa ter certa dependência da Internet. “Minha disciplina é para tentar me envolver menos. São muitas vozes, e nem todo mundo é agradável. Cansa à beça organizar tudo isso na cabeça. Ultimamente, tenho lido menos comentários, seja no blog ou no Facebook. É uma atitude saudável para quem não quer ficar completamente maluco”, indica.

Para mostrar o quanto essa história é, de fato, viciante, a pesquisa citada ainda aponta que 26% dos entrevistados disseram que até trocariam hábitos como cigarros ou televisão para acessar suas redes sociais. E que 51% utilizam suas redes com maior frequência hoje do que faziam há dois anos. Outro número, já mais solidário, mostra que, se você acessa suas redes assim que acorda, você não está sozinho: 27% dos participantes também o fazem. Se você já cogitou a ideia de sair do Facebook, saiba que 52% dos entrevistados cogitariam a mesma coisa, apesar de somente 24% deles concordarem de realmente ir adiante com o fato.

Quem é o jovem brasileiro que consome internet?

Apesar dos números da MyLife.com refletir a vida de um público distante da nossa realidade, o comportamento digital entre os jovens é praticamente o mesmo no mundo inteiro. No Brasil, uma pesquisa, resultado da parceria entre Ibope Media, YouPix e o CONECTA, revelou como o público entre 18 a 25 anos se comporta na web.

Ao lado da TV aberta, a Internet é a principal fonte de entretenimento desse público. Dos internautas que navegam nas redes sociais, 92% deles representam a faixa etária mencionada e são eles que também confessam que estão, na grande maioria, nas redes para ver fotos de seus amigos e ler atualizações na timeline, o que reforça a ideia do Fear of Missing Out.

Reprodução.

Mas toda essa história tem chamado a atenção não só dos mais jovens, como também de uma geração anterior: a dos pais de garotos e garotas que já ganharam, precocemente, um celular, ou melhor, um smartphone. Os impactos que o uso da Internet tem causado na geração, já considerada Z (aqueles que nasceram após 1990), são abordados em um documentário de produção britânica, o In Real Life, com previsão de lançamento para setembro, no Reino Unido. O documentário explora como a Internet estaria mudando a infância de muitos meninos e meninas. O diretor Beeban Kidron alerta para o fato de que a confiança excessiva dos jovens nas redes sociais está os envolvendo em um mundo de consumo muito mais cedo do que as gerações anteriores a deles.

Você é aquilo que compartilha

O porquê que de as pessoas compartilharem links, imagens de animais fofos ou até vídeos musicais na Internet pode envolver desde razões misteriosas ou até a mais simples delas: grande parcela dos internautas quer ter popularidade nas redes sociais, o que demanda uma construção de imagem especial para sua interface. Você é aquilo que você se mostra nas redes, ou melhor, você é aquilo que você gosta, curte, ouve, compartilha. O que nos leva a pensar: nunca foi tão fácil ser cool como nos dias atuais.

Essa mesma razão resultou também na motivação de uma pesquisa científica levantada pela Universidade de Nova York e Universidade Hebraica de Jerusalém. Pesquisadores queriam responder a uma pergunta muito mais antiga que o Facebook e a própria Internet: “Uma coisa é popular porque ela é realmente boa, ou é boa porque é popular?”. Em resposta, Sinan K. Aral, professor de Informação e Tecnologia e Marketing do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, resume: “O hype pode funcionar”.

A pesquisa, basicamente, chegou à conclusão de que comentários positivos dados as notícias na Internet estimulariam outras pessoas a também “curtirem” tal notícia ou link. Ou seja, um empurrãozinho positivo poderia desencadear uma onda de aprovação.

Esse tipo de comportamento, por exemplo, não se restringe só a comentários positivos ou até polêmicos em links de notícias. O efeito manada das redes sociais pode, muito bem, ser usado para vender produtos através da confiabilidade da opinião de outros usuários. A lógica não é complexa: você compraria algo que recebeu críticas negativas no Amazon ou no Submarino? Por via das dúvidas, melhor não, né?

Continua…


Comentários

2 respostas para “A era dos ansiosos”

  1. Avatar de Quem é Janara?
    Quem é Janara?

    Quem é Janara? Acho que perdi alguma coisa. Nunca ouvi falar nesta Janara.

  2. Avatar de Odeio Gente Metida a Cult
    Odeio Gente Metida a Cult

    A Janara na capa foi ideal! Pois como disse a matéria: nunca foi tão fácil ser cool como nos dias atuais.

    E se tem uma pessoa que gosta de pegar de cult cagando na cabeça dos outros, é ela. Porém pela sua cara de paty vc percebe que não passa de poser tb. Misto de graça com dó dessa juventude leite com pera que acha que ser inteligente é ser grossinho e “ui como eu sou estúpido” mas não aguenta um peido. Ela é só mais do mesmo. Mandaram bem.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.